CARTA ABERTA AO ANTÓNIO DIAS ...

Tónio:
Trato-te assim porque estou a falar a “sério”. Vê lá se lês esta tralha até ao fim, não te ponhas com olhos de carneiro “mal - morto”, a fazer que não percebes, e a assobiar para o ar. Todos os teus amigos – que são muitos – têm andado num sufoco por V.Exª se ter retirado para o Hotel dos HUC, sem passar cartucho a ninguém. Não fossem as diligências do amigo Tó Ferrão, estavas agora na “página dos desaparecidos” do Jornal da Polícia Judiciária. Aguenta-te à bronca, e continua a ler. Já te deves ter apercebido das manifestações de regozijo do maralhal, por teres regressado à Rua de Moçambique, no Enclave do Norton de Matos . Mas isto, meu caro amigo, de ter amigos que nos estimam, tem os seus custos, quer dizer: tens que te portar na afinação, aliás como é timbre de gente de muita categoria e requintado fino gosto, como é o teu caso. Por isso, apesar da tua pouca apetência para as manifestações do espírito e mais para as realidades deste fado que é a porca da vida, sempre que de noite te lembres de um Borba Reserva de 92, morcelas do Salgueiro do Campo, queijo de ovelha da Serra da Estrela e polvo à lagareiro do Zé Neto, benze-te. Estás proibido, até luz verde em contrário, de “rebalhões” de alto gabarito, pelas ruas da Baixinha de Coimbra. “Rebalhões” só dominicais, com 15 ou 20 “polícias” a controlar de perto os teus movimentos subversivos. Regrediste no tempo. Voltaste ao 24 de Abril de 74, com a “bófia” toda a olhar para ti. Ainda me estás a ler? Então aguenta-te à bronca e encaixa lá mais esta: LEMBRAS-TE, mas lembras-te mesmo, do que me prometeste na tua “suite” do Hospital, com um tubo de vinho branco pendurado do nariz, que mais parecias o ET? Não te lembras? Eu lembro-te. Disseste-me que ias deixar de fumar. E eu, vou acreditar nesse pacto, e como te lembrei na altura, até o devíamos passar a papel e reconhecer notarialmente. Tu concordaste, enquanto bebias uma chávena de chá. Pois, bebe chá, que faz bem ao fígado. Eu cá, também bebo. Do verde, que me regulariza o trânsito intestinal. Eu disse trânsito intestinal ???!!! Isto já nem parece uma carta, parece um relatório do Batalhão de Trânsito da Guarda Nacional Republicana !!! Bem, cá Beira Baixa, aqui vai a minha saudação. É com alegria, que sei que regressaste ao teu poiso. Agradeço-te a fineza de teres lido esta missiva até ao fim com atenção, sem estares já a fotografar uma mosca em equilibrio num candeeiro. Espero, vivamente, que não me mandes pendurar a prosa num cordel, no W.C da Estação dos Caminhos de Ferro de Alfarelos.
Estou certo, que percebes das boas intenções que me movem, ao “azucrinar-te” a cabeça.
Toma lá um abraço. Dá cá um abraço.
O Teu Amigo

Quito