Obrigado, João Miguel ...
Acordei manhã cedo, a pensar no “Massa Específica”. Foi meu
professor. Nada me move contra ele. Mas tenho muito contra a Física e essa Lei
sinistra da GRAVIDADE. Consta-me que foi um tal Newton que abriu a caixa de
Pandora. Mentira. O Físico encolheu os ombros e limitou-se a constatar aquilo
que já todos sabemos. Se largarmos uma pedra da mão, ela cai no chão. Grande
invenção, digo eu cá para com os meus botões! Mas grave foi o que me aconteceu
há tempos, no Café do Zé Manel, quando me escorregou da mão uma imperial a babar-se
de espuma e me acertou em cheio nos dedos dos pés desprotegidos por umas
simples chinelas de praia. Foi a partir daí, que fiquei com um ódio visceral a
tudo quanto se reduz a equações matemáticas que me torram a cabeça, para uma
simples conclusão: se uma pedra cair no chão em movimento uniformemente
acelerado, é uma das Leis da Física que regulam o Universo. Mas se for uma
cerveja, fresca como um sorriso de mulher, é pecado !
Andava com uma ideia obsessiva, que me torvava o pensamento.
Desde o dia em a Lei da Gravidade me roubou o prazer de uma loura bem
fresquinha, só me soava na cabeça o instinto de vingança. Já por várias vezes
tinha voado em confortáveis aviões comerciais, levado pelos ares por quatro
potentes motores Rolls Royce, ao arrepio da Lei da Gravidade. Mas eu achava que
era uma cobardia. O que eu queria mesmo era voar numa “cesta de mão”, um
singelo monomotor que afrontasse estoicamente os ventos, numa luta desigual de
David contra Golias.
Deus não dorme, diz o padre cá da aldeia. E Domingo passado, num pequeno Piper Tomahawk de dois lugares e com umas mãos experientes aos comandos, fez-se história. Enquanto o João Miguel, de cabeça baixa ia remexendo em papelada com o motor do pequeno avião a aquecer para o voo, eu ia olhando todo uma parafernália de instrumentos. Depois, lá nos fizemos à pista. O João Miguel, pelo sim pelo não, logo me foi avisando que na subida haveria alguma turbulência. Não de enganou. Levamos alguma “pancada”, para depois voarmos serenamente sobre os campos do Mondego, em direção à praia da claridade. Depois uma passagem por Quiaios e Mira, enquanto eu, feito miúdo na idade dos “porquês”, ia estendendo o dedo indicador para os mostradores a perguntar da sua função e o João Miguel, com uma paciência infinita, a explicar-me todos os detalhes da complexa profissão de pilotar. No regresso, segundo o plano previamente traçado e marcado num mapa a verde antes de nos fazermos aos céus, mais alguma turbulência, com o pequeno avião a dançar ao sabor do vento. Para mim, que sempre me atraiu essa máquina complexa que é um avião, era como uma valsa da primavera, com a manta de retalhos dos campos do Mondego a meus pés, e a absoluta confiança nas mãos sabedoras do maestro que, com serenidade, ia falando com o porto de abrigo – a torre de controlo do aeródromo de Cernache.
Uma aterragem suave e em segurança. Lá fora, o amigo Rafael à
nossa espera, de máquina fotográfica em punho, para uma fotografia para a
posteridade.
No fim, um abraço entre piloto e passageiro. E o meu
agradecimento sincero ao João Miguel, por aquele momento de glória.
Depois, já correndo no meu carro em direção a Coimbra com o Fernando
Rafael a meu lado, lembrei-me da Lei da Gravidade e da história da cerveja
derramada. Afinal, naquele dia, a força do vento e o pequeno Tomahawk,
esgrimiram argumentos com forças desiguais. Mas nós, quer dizer, o Miguel e o
seu pequeno avião, venceram mais uma luta. E eu, simples passageiro acidental,
vinguei-me de Newton.
Obrigado João Miguel.
Quito Pereira
Já volto!
ResponderEliminarFico à espera ..
EliminarSó li até onde comparas o sorriso de uma mulher à cerveja...
ResponderEliminarFaço greve até amanhã!
Se comparasse à pasta medicinal "Couto" acho que seria pior ...
EliminarTens razão, Olinda. Não se pode comparar a cerveja e o sorriso de uma mulher. Por exemplo, a cerveja não amua nem faz greve.
ResponderEliminarQuerido Quito,sorrio-me quão a frescura da cerveja e não te diabolizo...
EliminarBrinco contigo apenas.
Olha, este evento foi tão relevante para ti como para o meu sobrinho João com a vantagem da vingança que tanto desejavas...Aliviado,portanto!
E sei que esta viagem de avioneta te transpôs para os tempos do Além-Mar, de má memória, apenas por causa da guerra.
Um beijinho por este relato bem engraçado e com muito mérito para o piloto!
...porque é loira,claro!
EliminarBoa malha, São Rosas !!!
EliminarAbracito, Olindita ...
EliminarÓ Quito, já andaste de avião graaande, de piquinino, só te falta a asa e o paraquedas. Por aqui, todo o mundo salta em paraquedas, até uma jovem de oitenta e seis anos há dias no fim de saltar, marcou logo o próximo salto. Cá fico à espera das fotos.
ResponderEliminarUm abraço.
Ó Chico, já me inscrevi num curso de paraquedismo na pista das Moitas, em Proença - a - Nova. O Rafael vai comigo e está entusiasmadissimo com o seu 1º salto. O Felício também vai, mas está em casa a remendar o para quedas ...
EliminarSe é assim, até vou aí saltar convosco. Apanho o balão, meio de transporte muito utilizado por estes lados e quando estiveram no ar, também salto em paraquedas. Pois é mas amanhã é o primeiro de Maio, não é o primeiro de Abril...
EliminarDeus não dorme e o amigo Deus, o Eurico, também não dormiu, pois a turbulência do vento não deixava e a paisagem era para apreciar!
ResponderEliminarSenti que vinha feliz, agora vejo-o a confessar que a vingança de Newton contribuiu para sua satisfação.
A cerveja derramada deixou-o traumatizado...
A vingança serve-se fria!
A Celestita também por lá andou, às turras com as nuvens. E também vinha feliz ...
EliminarLei da gravidade, Newton, cerveja derramada à parte lá subiste nas alturas pelos céus de Coimbra, Figueira, Quiaios, Tocha e Praia de Mira, fazendo companhia ao João Miguel.
ResponderEliminarEnquanto durou o passeio fiquei a ler o jornal que para mim é muito mais calmo, isto é sem turbulência...
Apreciei a subida e muito mais a aterragem...
Vinhas satisfeito e com os nomes dos diversos botões de navegação bem sabidos!
Ficou tudo bem documentado para memória futura!
Agora e como te recomenda o Chico ainda vais de asa...
Vou de asa e tu vais comigo !!! Já nos inscrevi aos dois num curso de asa delta na Serra das Estrela ...
EliminarBoa Quito!
ResponderEliminarEstou ansioso pela minha vez! vamos ver se a meteorologia melhora. Era para ser hoje!!!
Agora imaginem a adrenalina...ao voar (mesma carta de vôo) num Cheroquee de ... 1960!?
Depois do vôo, tentarei fazer o "relatório"...não tão bem escrito, com esta tua bela prosa...será mais "fotográfico".... Grande abraço. E aguardo instruções da Torre de controle, digo do Don Rafael...que me fez o convite (que muito agradeço) de voar com o seu neto João Miguel.
Ah...gosto mais de levitar....!!!
Bom voo, Leitão ! Vais ver que é "5 estrelas" ...
EliminarVoei algumas vezes no pequeno avião Dornier, a fazer reconhecimento operacional, na Guiné.
ResponderEliminarA primeira vez ia tenso e curioso tal como o Quito, mas nas vezes seguintes achava uma maravilha ver do ar a terra e a floresta que nos dias seguintes ia ter de palmilhar, desejando ser piloto em vez de ser pé de chumbo.
Se Newton fosse vivo, alteraria por certo a sua Lei da Gravidade. Ressalvando algumas excepções, entre as quais a seguinte:
Qualquer corpo abandonado a si mesmo, cairá inexoravelmente no chão, excepto se for o corpo do Quito quando amparado pelas mãos competentes do João Miguel.
Gostei da leveza descritiva do acontecimento que nos faz "ver e sentir" todas as peripécias do voo.
Pois, amigo Rui, um texto leve. Já andam por aí a dizer que eu sou um escriba pardo ...
EliminarBoa Malha Companheiro.
ResponderEliminarO João Miguel é o maior! O voo que fiz com ele, foi inesquecível e 5 estrelas!...
ResponderEliminarEu queria ir outra vez, mas o Fernando Rafael já disse que primeiro está ele!
É assim mesmo! Avô que é avô confia cegamente no neto!...
É assim mesmo, Alfredo.!!!Temos que meter o Rafa no avião nem que seja à força !!!
EliminarNão compreendo o Rafael. Para quê ter medo se o piloto nunca quer caír.
EliminarE ninguém fica lá em cima!
EliminarFaçam-me justiça. Eu tinha vaticinado:
ResponderEliminar"Aposto que esta "aventura" vai produzir um texto. Venha ele!"
Nunca me passou pela cabeça que o Quito fosse envolver Newton na aventura...
E que bem que o fez, fazendo-nos a nós voar a seu lado.
Toma lá um abraço.
A gravidade do assunto fez-lhe recordar esse de tal Newton!
ResponderEliminarViana será que queres dar uma voltinha???
Só se for ao bilhar grande...
EliminarJá voei demasiado, já apanhei "cagaços" suficientes.
Agora, só por absoluta necessidade!
Tás como eu: só por absoluta necessidade...
Eliminar"A gravidade do assunto". Boa malha, Rafaelito!
EliminarE essa da necessidade fez-me lembrar o que o Arnaldo, da Brigada Vitor Jara, me contou de uma ida deles actuar a um país africano (Angola ou Moçambique, não me recordo) pouco depois da independência. Tinham um autocarro pequeno no aeroporto, para os levar. O bombo era muito grande (como Lavacolhos que se preze) e não conseguiam fazê-lo entrar pela porta. Bem tentaram de diversas formas mas nada. Um deles viu que o autocarro tinha uma porta atrás, grande, que dizia "saída de emergência". Pediram ao condutor para abrir essa porta mas ele recusou:
- Essa porta só se pode abrir em caso de emergência.
Os Brigadeiros resmungaram, voltaram a tentar encolher o bombo, na diagonal, por cima e por baixo... mas nada. E voltaram a pedir para abrir a porta de trás. O condutor, muito calmo, repetiu:
- Essa porta só se pode abrir em caso de emergêêêêência.
Um deles atirou-lhe, já sem paciência nenhuma:
- Mas isto é um caso de emergência!
- Ah! Se é uma emergência, eu vou abrir!
Boa maaaaalha,São rosas....
EliminarBoa...Paulo!!! É pena o "comentário"...não ter som!!! Emergêêênnncia...pá! Mesmo!!!!!
ResponderEliminarÉ mesmo. Dito à moda deles, é um mimo.
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