domingo, 2 de janeiro de 2011

"A Crise é a mãe de todas as crises"

"A palavra crise, espalhada como um vírus na sociedade, tem um efeito multiplicador a nível do comportamento colectivo também e, repare-se, as crises económicas são antes de mais psicológicas.
Podemos ver isso na nossa vida prática do dia a dia. (...) Também me ocorre a compra de um estojo de chaves para um desenrascanço. Estava de fim de semana em casa de amigos e ofereci-me para um consertozito de ocasião. Assim lá fui à loja chinesa quase ao lado e adquiri as ferramentas. Coisa barata, já se vê, pois estamos em crise e era apenas para uma intervenção breve. Acabei por partir as chaves e ter que ir comprar umas de qualidade. A poupança ficou-me pelo preço fantástico da aquisição de um estojo e de uma colecção de sucata."

O artigo completo do Charlie está no blog «Persuacção»:


Conversa de Café sobre a Crise

17 comentários:

  1. É mais do que verdade: o pior é que nos dias de hoje encontrar quem compre sucata, mesmo com a tal crise, raramente aparece.
    No entanto vai muito da mentalidade, pois o propblema não é da loja chinesa mas sim do capitalismo desenfreado chinês, sem leis que controlem os exportadores.
    Por estes lados, devolve-se tanta vez o produto quanto necessário dentro de trinta dias e se não quisermos estar com trabalhos, devolvemo-lo de vez. E foi o que lhes aconteceu. Tiveram tantas devoluções derivado à qualidade dos produtos, que os governos foram alertados e as encomendas anuladas na origem ou devolvidas no seu todo. Foi assim que lhes apareceu a crise interna práticamente três semanas a seguir aos jogos Olímpicos, ainda antes da que os EU exportaram amigávelmente a todo o mundo. Agora para a América do Norte, já estão a exportar em condições e alguns até são bons produtos.
    Desconheço como é a lei em Portugal sobre as devoluções, mas isso depende em muito da pressão que se exerce sobre os políticos, caso eles não tenham cumprido a sua missão.

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  2. A economia da China é um caso muito sério para o (des)equilíbrio global.
    Costumo dizer, já há muito tempo, que não nos podemos admirar que as empresas nacionais fechem em catadupa e que haja desemprego, quando "plefelimos complal balato".

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  3. Eu acho que a economia da China é um caso muito sério!
    Mais cedo do que mais tarde, nós os "atolados na dívida" vamos dar conta disso!
    Mas penso que não temos como escapar!
    E vós o que pensam?

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  4. Se leres o texto completo do Charlie, ele diz lá isto:
    "A maior parte de nós já está anestesiado pela progressiva e lenta marcha da caravana dos média. É a tal metáfora do sapo cozido lentamente. Se o pusessem em água a ferver, ele saltaria de imediato para fora do tacho mas, aquecendo a água devagar, o sapo acomoda-se à modorra do quentinho e quando dá por ela ferve sem dar um ai."

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  5. "plefelimos complal balato" é uma das realidades em todo o mundo mas nós na incapacidade de gerirmos a nossa crise, estamos a fazer o que muitos políticos dos mais diversos países têm feito ao longo dos anos quando têm problemas: criam dissimuladamente uma distração que neste caso não tem profundidade na verdadeira economia mas que as pessoas vão atrás. O problema vem sempre do estrangeiro, quando o real problema de Portugal é bem interno.

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  6. São Rosas,
    Li o texto completo. Isso vai da nossa forma de ser. Aceitamos o que nos põem à frente e os que não aceitam, chamam-lhes Chicos espertos.
    Por estes lados anda o problema da exploração dos gases de chisto. Logo que em marcha, dará ao Quebec biliões de dolares que muito irá dar para os diferentes programas sociais.
    Acontece que as pessoas querem saber da forma como vai ser feito e qual a segurança para os habitantes, para só depois darem o seu aval ao governo.
    Assim começaram a consultar as populações e posso assegurar-vos que não teve nada de parecido com a reunião que fui lendo em Miranda do Corvo. Sobre isso até nem me pronuncio mas fiquei triste. Só faço votos que corra tudo bem.
    O presidente das reuniões era nada mais, nada menos, que o heroi do Quebec da crise do gêlo em em 1998, Andrè Caillé. Um duro. Excepcionalmente, até digo o nome, pois é assunto público e não quero que pensem que falo sem base. Pode-se ver na net. Além de ter estado nesse tempo à frente da Hydro-Quebec, tem estado sucessivamente à frente de grandes empresas particulares e estatizadas pois é um verdadeiro caco que adora a sua província, sendo neste momento o actual presidente da potentíssima "Association pétrolière et gazière du Québec".
    Ora, só fez três reuniões em Dezembro passado. À terceira, foi posto em repouso forçado pelos médicos, depois de ter sido muito mal tratado. Aqui, eles não brincam. Se têm os lugares, que apresentem trabalho. Ainda não houve outras reuniões. Cumprimentos ao teu amigo, Paulo Moura.

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  7. A crise parece que está a dar nos animais. Acabo de ver que na cidade de Beebe no Arkansa, USA, caíram cerca de 10.000 pássaros, sem razão aparente. Lá por cima, parece que também não anda nada bem.

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  8. Enquanto não cairem passarinhas, não estará tão mal como isso :O)

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  9. Rafael
    A China está na sua mundialização interna, o que é bom pois gostamos de ver todas as pessoas com um certo nível de vida. Ela será um grande problema quando se desagregarem os diversos cantões, acabando o Império. Ainda não está próximo, infelizmente para aquela gente. Portugal pôde ser ajudado pois era pouca gente mas não há um país ou associação de países capazes de ajudarem económicamente a China de forma concertada, para evitarem fatalidades originadas pela formação de grandes movimentos internos. Além disso, ela já é um grande problema pois preferem manter a maior parte dos seus cidadãos na miséria e com o dinheiro que têm, estão a tentar governar o mundo tanto pela colonização económica dos outros países, como prolongando a crise internacional actual para enfraquecer os EU, com a baixa constante da moeda chinesa. Obama tem tido muitas dificuldades com isso mas não fala no assunto, para não assanhar o seu grande cliente Dragão.
    E a seguir à China vai ser o continente africano. Depois vamos dizer que são eles os culpados? Espero que nessa altura já não se fale assim.
    Não penso que tudo vai ser uma alegria para muitos. Nessa altura a distribuição da riqueza é maior, haverá menos ricos como acontece já com o Quebec, a classe média começa a ser maior e por isso a gritar porque é ela que passou a suportar os impostos. Depois continua o crescimento inverso: cada vez menos ricos, a classe média mais pobre, mais gente a gritar e os pobres mais ricos pois o dinheiro na proporção, continua o mesmo. Assim, se caminha para uma igualdade que tantos falam mas não gostam de a aceitar, só que já não será no nosso tempo nem dos nossos netos e os verdadeiros pobres continuam calados a fazer bicha.

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  10. Chico, é como dizes.
    Eu só corrigiria "a seguir à China vai ser o continente africano": sabes a quantidade de chineses que já estão em Angola, autenticamente «despejados» por avião para colonizar o país com mão de obra barata?

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  11. Paulo Moura,
    Segundo o que li há tempos num artigo, andam à volta de cem mil em Angola e um milhão em África.
    Só que esses vão para colonizar sem nunca terem ouvido falar nisso pois não fazem parte dos que já foram ao estrangeiro de turismo, ver um festival ou a F1, pois os contestatários nem chegam a sair da China. Além disso, vivem em acapamentos no tipo gueto e são explorados ao mesmo tempo, tal é a ignorância como em quase todos casos destes.
    No entanto, escrevendo sobre a mundialização, é lógico que só após um grande avanço da China nesse campo possam acompanhar os outros países para esse fim, cujos primeiros passos alguns já deram.

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  12. Mas que grande crise!

    Saboreei, acima de tudo, a queda da passarada.
    Passarinhas? Melhor que fossem passarões a cair como tordos.
    E se fossem abutres? Era a cereja no topo do bolo.

    Todas as crises são filhas da Crise...
    Há trinta anos que temos essa experiência vivida.
    Deixem lá os "chinocas", não se percam em manobras de diversão.
    Era o que mais faltava que nos atrevêssemos a acusar os chineses da crise do capitalismo...
    Em África, como em todo o mundo, tentam sobreviver. São muitos milhões de milhões...
    Meu caro Paulo Moura, não dá para entender o que queres dizer quando referes a "nova" colonização de Angola.
    Como sabes, nos anos 60, Paris era a maior cidade portuguesa. Paris, e seus arredores, tinha mais portugueses do que Lisboa. Portugueses que, face à miséria na terra natal, vendiam a sua mão de obra muito barata...
    Achas que esses portugueses tentaram colonizar a França?
    Não quero que fiques com a ideia de que tenho simpatia pela política governamental chinesa.
    Acuso a China de explorar a mão de obra infantil. Acuso a China de falta de respeito pelos direitos humanos.
    Admiro o Povo chinês pela sua capacidade de luta por uma sobrevivência digna.
    Nunca vi um chinês a mendigar, nunca me apercebi que algum fosse preso ou julgado por assaltar fosse o que fosse.

    Olha, deixemos esta conversa. Levava-nos até à China...

    Voltemos, por um instante, até aos passarões, donos e mandadores da CRISE.
    Zeca acha que são vampiros!...
    Estou de acordo com ele.

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  13. Chico e Carlos, compreendo os vossos argumentos e partilho-os na sua maioria.
    Só realçaria dois pontos:
    1) a emigração portuguesa nunca foi resultado de uma acção concertada por parte dos dirigentes do país. Era sim, uma decisão individual (ou familiar, ou entre um grupo restrito de amigos) que se generalizou, tal como agora, por necessidade sentida por cada pessoa. Embora, na altura, o Estado Novo até tenha achado bem os resultados dessa emigração, que eram (como continuam a ser) as remessas dos emigrantes;
    2) os portugueses que emigraram raramente levavam mais do que um «mala de cartão» e um garrafão de 5 litros de tinto. A China «exporta» tudo o que consegue produzir, com enormes economias de escala, custos de mão de obra irrisórios e custos de investigação e desenvolvimento mínimos (copiam tudo o que «mexe»). Há uns 25 anos atrás, estava eu já no sector cerâmico, os nossos fornecedores italianos de equipamentos industriais já nos avisavam: "a capacidade de produção de equipamentos em Itália está toda tomada por mais de um ano pela China. Preparem-se que eles vão entrar em grande". E há muito que entraram. Conseguem produzir e colocar na Europa 1 m2 de pavimento a um preço inferior ao custo só da matéria prima e da mão de obra para a indústria europeia!

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  14. Quanto à queda da passarada que também acaba por ser estranho, dizem estarem-se a inclinar para um susto das aves causado pelos fogos de artifício de fim do ano. Sendo pássaros com má visão pensam que com o susto, se puseram a picar. Vamos a ver o que vai dar a autópsia das dezenas que eles apanharam.
    No entanto, já hoje apareceram milhares de peixes mortos no mar junto à costa, a 200kms de distância. Seguindo o mesmo raciocínio, vamos a ver se aparecem uns tubarões.
    Provávelmente, tudo natural mas muito estranho.

    Paulo Moura
    Comungo com tudo o que o Paulo Moura diz no comentário anterior.
    No seu primeiro parágrafo, não haja dúvidas que a emigração temporária de chineses é nitidamente orientada pelo governo chinês. Eles não vão lá para se radicarem, terem filhos, ensinarem, construirem e desenvolverem. Não é a mesma situação que os chineses radicados em Portugal ou em Montreal vivem. Estão aqui radicados com famílias e são parte integrante do desenvolvimento económico deste país, assim como o já eram em Moçambique.
    No que respeita ao segundo parágrafo, sem dúvida que a China está a copiar, como os japoneses fizeram logo a seguir à Grande Guerra. Foi precisamente a falta de investigação, que levou à devolução de encomendas vultosas enviadas para os EU e Canada, por serem um perigo para a saúde. Quanto à nossa capacidade de resposta, já dantes tinhamos essa falha para com os EU. Precisamos de redefinir a nossa capacidade de produção há algumas décadas se queremos exportar e ainda não foi feito. A mão de obra barata chinesa, só com o avanço da mundialização interna. Já se nota a edificação de fábricas mais para o interior, porque junto à costa os sindicatos já começaram a impôr as suas condições.
    Creia-me que gostei imenso e considero salutar trocas de impressões como estas. Bem haja.

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  15. O Paulo Moura também gosta destes temas, Chico. Eu é que o estou sempre a desencaminhar. Enfim, eu nasci assim... uma desencaminhadeira...

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