O Brito morava na última Praça do Bairro, perto do Leite Braga. Frequentava, como todos nós, a Escola do bairro.
Rapaz alto, cabelo alourado às ondas, usava muitas vezes um casaco creme tipo africanista, com cinto e cheio de bolsos, impecavelmente engomado, o que o distinguia de todos nós que nos vestíamos com humildes camisolitas de malha e invariáveis bonés na cabeça.
Quase sempre trazia consigo uma grande quantidade de moedas de 2$50 e de 5$00 que nos faziam luzir os olhos de inveja. De facto, não era habitual a criançada do bairro possuir tanto dinheiro. Nem em dias de festa!
Ou porque suspeitava da sua eventual origem ilícita ou porque não queria que os outros miúdos se sentissem inferiorizados, o Professor um dia proibiu o Brito de vir para a Escola com tanto dinheiro.
Certa vez, no recreio, eu e o Zé Bento decidimos jogar ao berlinde. O Zé Bento afundou um dos buracos já abertos de dias anteriores no pátio de terra da escola, para que iniciássemos o nosso jogo.
De repente, à medida que escavava mais fundo, o Zé Bento ia encontrando, primeiro uma, depois outra e mais outra, reluzentes moedas prateadas. Ajudei-o na tarefa e, ofegantes de emoção, sôfregos, íamos encontrando cada vez mais moedas até que reunimos aquilo que para nós era uma pequena fortuna.
A algazarra da miudagem que se apercebeu do achado, atraiu o Brito que, afastando o círculo que se tinha formado à nossa volta, sentenciou:
- Esse dinheiro é meu! Escondi-o aí porque o Sr. Professor não quer que eu ande com ele nos bolsos!
Ninguém estava à espera do ar decidido e definitivo com que o Zé Bento, rapaz pacato e calmo, lhe respondeu sem lhe deixar margem para réplicas:
- Este dinheiro é um tesouro do tempo dos romanos. Quem acha é o dono. Vou dividi-lo com o Felício! Se quiseres vai fazer queixa ao Sr. Professor!
Durante uns dias, ele, eu e muitos dos nossos amigos da escola tirámos a barriga de misérias de rebuçados, gelados, pevides, amendoins, bolos...
Os sinais exteriores de riqueza manifestados pelo Brito, deveriam ter sido investigados pelo professor.
ResponderEliminarEsconder esses sinais, foi a solução lógica para o Brito que, sem o querer, acabou por fazer uma justa distribuição pelo povo, graças à sagacidade do Zé Bento e não só...
Mais uma deliciosa história com assinatura reconhecida.
Grande abraço.
Deixa-me descer aqui para o andar de baixo, que no lá de cima não me safo!
ResponderEliminarNão sei quem era este Brito, mas eu não era..poia a minha semanada era de vinte e cinco tostões e às vezes passava a quinzenada!
Nesse tempo nem me lembro de ter na mão uma moeda de 5 escudos!!!!
Mas está bem romanceada esta estória das moedas.
Faz-me lembrar quando andava no colégio São Pedro tinha um colega o Rosário Dias que era filho do dono de uma taberna e petiscos, na estrada da Beira, mesmo ao lado do Clube Recreativo do Calhabé-o senhor Dias-e que trazia sempre dinheiro com fartura nos bolsos!
Talvez o Pedro Martins se lembre desta taberna.
Éramos muito amigos e por esse facto também beneficiava dessa abundância do vil(vil uma ova...) metal!Eram sandes, eram jogos de matrecos no "monstro" da Praça da República, enfim era um fartar vilanagen!
Pobre sofre, mas por vezes tem sorte...
Mais uma história do nosso bairro, pela pena do Felício. O Zé Bento disse de Sua justiça, não deixando margem de contestação ao "endinheirado" Brito. E eu imagino o Felício, a "rapar" no chão em calções, a pensar que já tinha ganho para comprar uma bicicleta. Histórias de infância e juventude que nunca morrem ...
ResponderEliminarRespondo ao Rafael, num comentáqrio que ele fez e que já aqui esteve mas já não está:
ResponderEliminarO Brito era filho de um casal oriundo de famílias com "linhagem", segundo constava. Lembro-me que o pai dele era um jogador inveterado que terá delapidado no Casino da Figueira, todo o pecúlio herdado.
Viveram no Bairro talvez não mais do que 3 anos, razão pela qual poucos se lembrarão deles.
O local onde moravam era, como escrevi no texto, na Praça onde morava também o Leite Braga.
Rui
ResponderEliminarTambém não me recordo desse Brito. Pelo que dizes, morava na praça de Cabo Verde. O Leite Braga, vivia na casa geminada com o Pinheiro, que foi contínuo no antigo D.João III. Posteriormente, a casa do Leite Braga foi propriedade (não sei se ainda é) do casal Teresinha Alves - Nito Gomes ...
Ó Rui hoje está tudo pra me tramar!
ResponderEliminarEntão o comentário não está lá no sítio?
Agora está sim Senhor!
ResponderEliminarMas há bocado entrou e passado um lusco-fusco eclipsou-se.
A malta finge que te trama para te provocar. Isso só se faz aos amigos.
E tu és, à frente de todos, aquele que maior amizade e consideração nos merece.
Apoiado !!!
ResponderEliminarPois!Tu hoje estás mesmo "PEPE RÁPIDO"
ResponderEliminarO comentário só lá não esteve durante 5 segundos!!!!!!
Pois!
só utiizei a palavra "tramar" com sentido "DOCE", para te deixar baralhado!!!!!
Pelo teu último parágrafo "sinto-me um gajo previligeado"!
Cambada de malandros!
ResponderEliminarNacionalizaram o Brito e obrigaram o pai,para sustento da família,a ser jogador do Casino...
Tem piada. No passado eu via o Rui Felício e o Zé Bento como meninos muitos socegadinhos mas até tiveram razão: os tesouros dantes ficavam para quem os descobria. Boa bolada.
ResponderEliminarA teoria do Zé Bento, o achado é de quem o encontra,é comum nas crianças.
ResponderEliminarQuantas vezes tive de gerir esses "conflitos"!
Comportamentos da infância, daqueles que só as crianças têm. Uma maravilha.
Conheci o Carlos Brito e a tia ainda lá mora.
ResponderEliminarGente rica é outra coisa!!! E os dois pobretanas viveram à grande num só dia...e que tal?Gostaram???
Vou aproveitar para deixar resposta a dois comentários que só vi agora no meu último artigo:
ResponderEliminarCarlos Viana
Quanto a esse super ministro de economia que foi do Canada, se ele não prestar mandem-no de volta a pé. Há muitos que andam por aqui que quando chegam aí "adaptam-se" muito bem. É por isso que nem vou aí...
Rui Felício
A bicicleta ao princípio cansa mas depois é uma alegria. É uma grande liberdade. Por outro lado, cada um faz bicicleta como se sente bem. Para isso os comboios e o metro têm horas para levar ciclistas. Os barcos tipo cacilheiros até têm os descansos para as bicicletas. Em Toronto, os autocarros também levam bicicletas. As pessoas quando estão cansadas ou vão muito longe, utilizam os meios de transporte públicos e já contribuíram imenso para o país. Estou mesmo a ver o que vai acontecer no novo metro de Coimbra.
Um abraço aos dois.
Celeste Maria
ResponderEliminarPor estes lados quem encontra qualquer valor, se souber quem é o proprietário e o fôr entregar, recebe 10%. Não é de lei mas é um princípio muito antigo.
Numa loja aonde eu estava, uma pessoa que encontrou uma carteira com dinheiro e queriam que ele a deixasse nos achados, não a entregou pois só a queria dar ao dono. Alguém teve que explicar a esse empregado/novo imigrante porque é que o senhor não a entregava.
Outros tempos.
ResponderEliminarO berço sempre foi melhor para uns do que para outros.
Mas estamos cá todos, na luta.
Tonito.
Boa história esta do Rui Felício àcerca de um Brito,andarilho, que não conheci.Tenho memória
ResponderEliminarde um outro Brito que vivia na rua do Rafael e
que, presumo, era filho de um alfaiate.Era bom
aluno,muito educado....mas teso como nós.Quanto
ao Rosário Dias, lembro-me dele perfeitamente.
Mais tarde, teve uma mercearia ao fundo da rua
Daniel de Matos,mas este não se deixava levar.
mariorovira
Rafael: O Sr. Rosário Dias, pai daquele que andou no S.Pedro, tinha uma taberna junto ao Recreativo do Calhabé. As minhas primeiras incursões ao seu estabelecimento, foi aí pelos meus 15 anos, quando lá se cozinhavam, de cebolada, os "tomates" dos porcos capados na quinta do meu pai pelo famoso capador da Adémia, Sr. Gaspar.
ResponderEliminarO filho vive na aldeia da Benfeita, Arganil.
PM
O Rui Felício descobriu, a meias com o Zé Bento, um tesouro romano.
ResponderEliminarFoi o mote para que outros tesouros surgissem. Este recordar que nos remete para a nossa juventude, em alguns casos, para a nossa infância, é o verdadeiro tesouro desde blog.
Para todos, o meu grande abraço.
Pedro martins e Rovira:
ResponderEliminarHá muitos anos, mesmo muitos que deixei de ver o Rosário Dias.Tinha a certesa que outros amigos aqui do Calhabé também o conheciam.
Éramos realmente amigos e frequentámos o Colégio São Pedro.
O pai tinha sempre petiscos para acompanhar os "tintos", prinipalmente como dizes os tais "tomates" de porcos capados"
O Quito é boa pessoa, já o sabemos. Mas agora noto que é também casmurro e teimoso.
ResponderEliminarOntem insistia comigo para que este texto fosse colocado acima do dele. Ralhei com ele ( tudo por e-mail ) dizendo-lhe que eu próprio tinha postado o meu texto abaixo do dele ( propositadamente ) por achar que não merecia maior destaque.
Apesar disso levou a água ao moinho dele, invertendo as posições relativas.
Quando o apanhar a geito vai-me ouvir!
Ainda bem que a Olinda se lembra do Brito. Assim fico mais descansado. Não é a minha memória que estava a falhar, como cheguei a recear em face do generalizado desconhecimento que os comentaristas demonstraram.
ResponderEliminarCaro Rui
ResponderEliminarDe facto, cumpri a "ameaça". Mandei mensagem ao Rafael. Mas a realidade é outra. O nosso preclaro administrador, esclareceu-me que a minha postagem estaria até às 18 horas e depois, com toda a lógica porque a Tua postagem era posterior, o "Tesouro" ocuparia o seu lugar de legítimo destaque. Portanto, tudo normal.Ontem, foi um dia bom. Com as duas postagens, muitos amigos apareceram. E isso é que é relevante. No dia que os amigos não participarem, escrevendo ou comentando, mais vale hastearmos a bandeira da Grécia no Blogue..
Só um esclarecimento para o Quito e Rui Felício: ADM não dorme em serviço
ResponderEliminarE o Quito tem razão:Ontem foi um dia bom, com encontros, desencontros...e muitos comentários! sinal que os amigos/as estão activos e interssados numa boa dinâmica do Blog!
ResponderEliminarComo diria o Tonito:tudo tratado mas nada ainda resolvido.
Força companheiros!
Quando vocês contam as estórias da juventude e do vosso bairro, sinto uma certa pena de não ter feito parte dele! Esporádicamente ía lá visitar os meus tios e familiares.Hoje em dia conhecendo-vos e gostando de todos como eu gosto, nem sabem como lamento!!!!!
ResponderEliminarAchei muita graça ao conto do Felício, é mesmo de crianças, duas que "babam" ao ver a "fortuna" do Brito e o Brito que tenta esconder o melhor possível o seu tesouro..., mas como a vingança serve-se fria, para azar dele e sorte a vossa, logo haviam de escavar no sítio certo...Não imagino se era muito o pecúlio, mas coitado,ao menos podiam ter dividido por três....era justo!
Rafael disse: " ... só um esclarecimento para o Quito e Rui Felício: ADM não dorme em serviço ..."
ResponderEliminarAcrescento: ADM ,não dorme nem paga as ajudas de custo !!!
E mais do que isso:
ResponderEliminarFaz orelhas moucas às nossas insistentes e justas reclamações!