SALAZAR E O PROFESSOR ROQUE
Já se sabe que
em todos os tempos e lugares houve quem tivesse graça e pelo chiste, pelo humor, ou pelo “sal” com que adoçava a
palavra, sobressaísse do rebanho comunitário.
Pois, no
Calhabé do meu tempo, também houve alguns desses.
Quem, dos da
minha geração e das imediatamente anterior e posterior, se não lembrará do
Professor Roque?
Quando o
Professor Roque chegou ao Calhabé para “dar escola” foi morar para uma daquelas casitas de
rés-do-chão, na continuação da loja de ferragens Alírio Costa, que, por
enquanto, ainda se vão mantendo de pé, não sabemos por quanto tempo mais…Estamos
a falar do Largo Zé Maia ou Vigia, nomes com que o local passou à
posterioridade. Tal como a Portagem sempre foi o centro de Coimbra, sem o ser
verdadeiramente, também o Vigia ou Zé Maia sempre foi considerado o centro do
Calhabé.
Pondo de lado
os preciosismos geométrico-geográficos, sempre direi que o Professor Roque se
mudou posteriormente para a Rua do Teodoro, onde veio a falecer com avançada
idade, numa casa onde até há algum tempo viveu sua filha, D. Olímpia,
entretanto também falecida.
Pois o
Professor Roque, diz quem com ele conviveu, e eu, que fui seu aluno, também
digo, era uma excelente pessoa, um excelente professor e um excelente animador
público graças às histórias que ele afiançava terem-lhe acontecido, mas que,
segundo alguns, eram puras invenções suas que contava para se divertir e
divertir os outros.
Chegou a ser
pessoa célebre em Coimbra, principalmente nos meios ligados à sua e à minha
Académica, e as suas “patranhas” faziam girar boa disposição pelas mesas dos
cafés.
Aqui vai uma contada por ele próprio:-“ Um dia em
que observava o andamento das obras do Estádio Municipal, como era meu costume
quase diário, quem é que eu vejo, acompanhado do Presidente da Câmara e de
outras pessoas? Nem mais nem menos queo Doutor Salazar que se estava dirigindo
na minha direcção”.
-“Aquele não é
o Professor Roque”? – ouvi com nitidez Salazar perguntar a quem o acompanhava.
Quando Salazar
chegou junto de mim, estendeu-me a mão e teve o carinhoso comentário de quem me
conheceu muito bem pois comigo mantivera no seu tempo de Coimbra relações de
grande cordialidade:
-“Ó Professor Roque, não esperava vê-lo aqui. Está tão
velhinho!”
Claro está
que, de Salazar, o muito que o Professor Roque conhecia eram as fotografias dos
jornais; e Salazar, do Professor Roque, certamente nem da existência sabia.
O PROFESSOR
ROQUE CAÇADOR
- “ Uma vez –
contava o Professor Roque – fui à caça. Enquanto estava a carregar a espingarda
(de carregar pela boca) e com a respectiva vareta ainda metida no cano para
comprimir a carga, levantou-se ali perto uma perdiz. Nem perdi tempo a retirar
a vareta, - nem podia, senão via ir a caça – apontei e disparei. Mas, coisa
estranha, não mais vi a perdiz nem encontrei a vareta. Desapareceram…
Na época
venatória seguinte, calhou ir à caça para o mesmo local. Sabem o que vi, por
mero acaso? Cravado num pinheiro, estava o esqueleto duma perdiz trespassado
por uma vareta de espingarda…
Não me foi difícil
explicar o que acontecera no ano anterior”.
Preciosas estas e outras histórias do livro de Fernando Rovira que guardo religiosamente como obra indispensável ao conhecimento do Calhabé onde nasci.
ResponderEliminarMomento nostálgico apenas por ser da nossa juventude mas que leio com alegria,recordando.
ResponderEliminarLivro que gosto de ler pequenos trechos,de vez em quando,para me deliciar...
Obrigada,Fernando Rovira meu antigo vizinho.
Contos destes, valem sempre a pena. Para saír bem disposto, não é preciso mais.
ResponderEliminarEstórias deliciosas do livro que teve a amabilidade de me oferecer. Vale sempre a pena reviver estes episódios, agora vindos à estampa no blog.
ResponderEliminarBoas historias,gosto.
ResponderEliminarTonito.
Também tenho e li com muita atenção esse livro do Fernando Rovira. Uma preciosidade.
ResponderEliminarSobre o Professor Roque, dizia-se que um dia a malta do Café Aquário resolveu fazer um concurso de mentiras. O Professor Roque também concorreu e ficou em segundo lugar. Toda a malta ficou admirada porque estavam à espera que o Prof, Roque ganhasse. O júri explicou: A mentira maior, que ganhou, foi de um concorrente que disse: O Professor Roque nunca mentiu. Não podia deixar de ganhar com uma galga destas.
Genial!
EliminarSem dúvida que o livro é muito interessante e com intervenientes que muitos de nós conhecemos.
EliminarUm abraço Fernando Rovira