25 de Junho de 1989.
Não quero que os meus amigos tomem este texto, como um
exercício de ostentação e muito menos de um pretensiosismo balofo, para mais
num momento em que se percebe o empobrecimento generalizado do país e dos
portugueses, sem que se aviste uma luz ao fundo do túnel.
Porém, é o sonho que comanda a vida e todos nós, sem excepção,
temos direito pelo menos uma vez na nossa existência, a uma extravagância. Neste
caso, a uma grande extravagância. E foi exactamente com essa filosofia, que um
dia comecei a dar corpo a um sonho: voar no Concorde.
Confesso que os aviões sempre exerceram um grande fascínio em
mim. Quando ia a Lisboa visitar os meus avós maternos, eu olhava deslumbrado os
ruidosos pássaros a descer para a Portela, muito perto da casa dos meus
familiares.
Admito que não foi fácil convencer a minha companheira.
Torceu o nariz uma, duas, três vezes, até que, farta da minha doentia
insistência e um tanto contrariada, lá acedeu a que voássemos naquele pássaro
gigante.
Naquela época já recuada, era uma aventura tal
empreendimento, mas, adquiridos os bilhetes da minha e nossa loucura, já só
havia um caminho a seguir: partir com entusiasmo e o coração aos pulos, ao
encontro do Concorde de bandeira tricolor. As cores da França.
Relembro:
Naquele entardecer do dia 25 de Junho de 1989, o céu estava
límpido, quando chegámos junto ao aparelho de aspecto fusiforme. Ao contrário do
que eu pensava, os procedimentos de embarque foram rápidos, apesar de o avião
ir lotado. Depois, o grande pássaro rolou lentamente pela pista, até que, de
súbito, tomou velocidade.
Ficámos espremidos contra as costas dos assentos estreitos, ombro contra ombro, enquanto subíamos vertiginosamente e vislumbrávamos, cada vez mais indistintas, as luzes da Cidade Maravilhosa. A viagem decorreu num misto de trepidação e de acalmia e, conforme eu já tinha lido em artigos da especialidade aeronáutica, bastante rápida. De facto, como pude constatar, nada tinha a ver com aquelas viagens longas e enfadonhas, em que vamos comendo e bebendo tudo o que o pessoal de bordo nos vai oferecendo, para conter o nervoso miudinho. Na realidade, conforme pude observar, até porque tenho este triste defeito ou qualidade de reparar em pormenores, os passageiros do Concorde não tinham os tiques de quem viaja em vulgares aviões comerciais. Atrevo-me até a dizer, que eram pessoas com outro estatuto. E digo “tinham”, pois como é do conhecimento geral, o Concorde já não voa, sendo hoje uma peça de museu.
Ficámos espremidos contra as costas dos assentos estreitos, ombro contra ombro, enquanto subíamos vertiginosamente e vislumbrávamos, cada vez mais indistintas, as luzes da Cidade Maravilhosa. A viagem decorreu num misto de trepidação e de acalmia e, conforme eu já tinha lido em artigos da especialidade aeronáutica, bastante rápida. De facto, como pude constatar, nada tinha a ver com aquelas viagens longas e enfadonhas, em que vamos comendo e bebendo tudo o que o pessoal de bordo nos vai oferecendo, para conter o nervoso miudinho. Na realidade, conforme pude observar, até porque tenho este triste defeito ou qualidade de reparar em pormenores, os passageiros do Concorde não tinham os tiques de quem viaja em vulgares aviões comerciais. Atrevo-me até a dizer, que eram pessoas com outro estatuto. E digo “tinham”, pois como é do conhecimento geral, o Concorde já não voa, sendo hoje uma peça de museu.
A viagem correu bem. Excedeu as minhas e nossas expectativas.
Não fora uma arreliadora avaria eléctrica que deixou o carrossel parado, e eu e
minha companheira pendurados lá no ar, à espera que viesse o electricista de
serviço reparar a avaria, tinha sido uma viagem na perfeição. Valeu o cartucho
de papel gorduroso que tínhamos comprado no pavilhão das farturas, para comer e
entreter o tempo até voltarmos a pôr os pés no chão.
Nunca mais voltei a voar no Concorde. Agora, nos carrosséis
da Feira Popular, para evitar contratempos, já só ando na selva africana,
montado no elefante, no tigre ou na simpática girafa …
Quito Pereira
Vou partir mesmo que seCONCORDE ou não para uma marcha nocturna com iniíicio na Portagem, promovida pelos alunos de Desporto da ESEC.
ResponderEliminarPorques ou medroso também não é coisa que CONCORDE muito voar, mesmo que seja de CONCORDE.
Quito já volto.
Ainda por falta de tempo,não de debrucei sobre o texto. Mas já me apercebi da malandrice.
EliminarVou sair, mas já volto.A minha vida anda atarefada e com falta de som.Perdi um sonotone!!!!
Tu só não perdes uma coisa que trazes contigo, porque faz parte da tua anatomia. Mas não vou dizer o que é, por causa minha esmerada educação num colégio de freiras na Suiça ...
EliminarE eu à espera de todo o glamour duma viagem de Concorde e tu foste só á feira popular. A verdade é que no fim dei uma valente gargalhada
ResponderEliminarSó pela gargalhada já valeu a pena o texto ...
EliminarSó o vi umas vezes quando fui emigrante a voar muito alto (o verdadeiro).
ResponderEliminarSe ia muito alto, como podes afirmar que era o Concorde ? Se calhar era um gavião ...
EliminarQuito, vi com Binóculos.
EliminarTonito.
Arre diacho, que agora já não é só com o Rui Felício que temos que ler sempre com um pé atrás!
ResponderEliminarBoa malha!
Tens razão, Sãozita.
EliminarAtrevia-me a dizer que este excelente texto tem um desfecho Feliciano.
Concorde ...
EliminarPois, Sãozita ...
EliminarOmbro no ombro, cheirava a Concorde mas farturas na vez de caviar... Lá terei que estar atentao quando saír a tua viagem ao espaço. Adorei. Muitas como esta.
ResponderEliminarChico não tenho estatuto para andar no Concorde. Troco o Champanhe por um tinto do Salgueiro e o caviar por uma sandes de presunto ...
EliminarPelo menos cumpriste o sonho de voar no concorde, embora esse concorde fosse mais um concorda, mas com a grande vantagem de não cair nunca!
ResponderEliminarTu foste de concorde e a mim levaste-me na pandeireta!....
Tu é que me queres levar na pandeireta com essa história de seres contabilista das farturas bomba-relógio. Tenho, temos, eu e o Felício, que nos pôr a pau contigo ...
EliminarQuito, estou contigo. Concordo com a escolha da girafa. Com aquele pescoção, não há carrossel que meta medo.
ResponderEliminarViana, estou a imaginar nós ambos os dois montados na girafa, em calções e a lamber um gelado de baunilha. Havia de ser de gritos...
EliminarToma lá um abraço. ANIMA-TE PÁ !!!
Respirei fundo!
ResponderEliminarAinda bem que o Quito viajou no carrossel e não no focinhudo avião francês.
Porque, mesmo descontando a avaria, o risco é bem menor.
E recuperei a minha esperança de que, finalmente o Quito dê o seu agréement ao arranque do projecto que já há uns tempos temos ambos em carteira.
Trata-se de um projecto original, já patenteado, com aprovação do AICEP, classificado como PIN ( Projecto de Interesse Nacional ) e, como tal, com financiamento garantido.
Refiro-me à instalação na Ericeira de uma roulote de farturas, cujo estudo económico que elaborei e de que o Quito tem conhecimento, nos garante um rendimento liquido, livre de impostos, de 10.000 euros por mês.
A originalidade do projecto reside no facto de as farturas não serão doces e com canela, mas sim salgadas e polvilhadas com pimenta preta.
O que, como se compreende, potenciarão a venda de cerveja em grandes quantidades.
Para além de estar previsto um sistema de franchising que espalhará por todo o mundo esta inovadora forma de fast food, o que multiplicará por milhares o rendimento incial que acima enunceei.
E, da próxima vez que o Quito e a São viajarem montados numa girafa de carrossel, vê-los-ão com um cartucho engordurado de farturas salgadas e uma grade de cerveja fresquinha ao lado.
É pá! Também quero entrar na sociedade. Eu tomo conta do dinheiro.
EliminarIsso só depois de decidido em assembleia geral da sociedade, Alfredo.
EliminarMas sempre adianto que pela minha parte só votarei a favor se, como garantia, depositares uma caução equivalente a um ano de receita bruta que, segundo o estudo económico, é igual a 20 vezes o rendimento liquido mensal que já antes referi.
Não que desconfie da tua seriedade, mas apenas porque é necessário prevenir que possas ser sequestrado por qualquer tribo indigena nalguma das tuas viagens around the world...
Concorde, Felício. Mas não é para te baldares e eu ficar a fritar as farturas bomba-relógio, coberto de nódoas dos fritos e os dedos cheios de bolhas das queimaduras, para tu ires pescar à cana para o Guincho, com os desastrosos resultados conhecidos ...
EliminarIsso vai dar p'ró torto! Se eu não ficar a tomar conta do dinheiro, já estou a ver que o negócio vai à falência antes mesmo de começar!
EliminarDesculpa lá mas para darem cabo do dinheiro é que há economistas!
EliminarAdorei o texto, Quito! Que imaginação e que bem escrito! Parabéns!
ResponderEliminarObrigado, Lena. Abraço ...
EliminarAinda não li apenas por impossibilidade.
ResponderEliminarLerei logo porque não me escapa nada que tu escrevas.
Percebo, Olinda. Não precisas de me dizer nada.
EliminarUm abraço solidário e amigo, para ti e família ...
Já me diverti com os vossos comentários. Confesso que me ri a construir o texto. Concorde com aqueles que dizem que o texto tem a Escola de Mestre Felício.
ResponderEliminarPor falar em Mestre Felício, continua de pé o ambicioso projecto das farturas tipo bomba - relógio.
Porém, face ao intrigante entusiasmo do Alfredo em fazer parte da sociedade, que me deixou a coçar o queixo de desconfiado,é meu parecer que nós ambos os dois temos que ter uma reunião à porta fechada, para decidir. É que o Aveirense da Azurva é Homem de muito mundo e bem pode fugir com a gorda pasta cheia de euros para as Ilhas Caimão. Nada como prevenir desgostos ...
Concorde ou não concorde, eu entro com a sociedade off-shore!
EliminarOlha outro a bater-se às coroas !!!
ResponderEliminarSaí de casa ás 14 horas e só agora cheguei!
ResponderEliminarPrometo, Quito que vou ler o texto mais de madrugada!
Ou por outra, já li parte através dos comentários.Sei que mete farturas.
Também me apercebi que levastes os leitores todos de "pandeireta! Pelos vistoas pensavam que estavam a ler um conto do senhor da Ericeira!
Vou voltar a sair
Já volto
Grande voo!
ResponderEliminarNada daquelas pindéricas avionetas de Cernache.
Mas, ficar pendurado no cimo de um carrossel é obra!
Os sonhos... as farturas, dinheiro a multiplicar. Qual Mofina Mendes do nosso Gil Vicente!
Boa, mesmo, amigos!
Já tenho no bornal, muitas horas de voo comercial. Mas foi na "pindérica" avioneta", com um amigo cinco estrelas, que mais prazer tive em voar. Foi diferente. Muito diferente. Dia inesquecível. Abraço Celestita ...
EliminarTexto lido e tudo confirmado o que rápidamente ia lendo nos comentários!
ResponderEliminarMudaste a agulha no conteúdo literário dos textos com que normalmente nos brindas!
E em boa hora.Surpreendeste os teus leitores e a prova está como provocaste os mais surpreendentes comentário, como tu próprio o confessas:cito-"Já me diverti com os vossos comentários. Confesso que me ri a construir o texto. Concorde com aqueles que dizem que o texto tem a Escola de Mestre Felício."
Divertis-te e dizes bem, pois engendraste de tal forma a viagem no imaginário concorde, rodopiando nos ares de uma Feira Popular, com a surpresa, quem sabe se programada,de uma avaria técnica, para que te pudesses lambuzar com as farturas azeitadas polvilhadas "à maneira", que baralhastes
os teus assíduos leitores, que tiverem de ir espreitando quem era de faCto o autor do texto.
Tudo esclarecido e agora sócios não faltam para negócios de fritaduras que provocam guinchos a qualquer salpicadela de azeite a ferver.Aproveita os conselhos: da próxima vez monta uma girafa ou senta-te numa cadeirinha do carrossel das que rodopiam sempre a dois palmos do solo!
Mas que história é esta de "já vou e já volto ... já vou e já volto". Estou a ver que tenho que te pôr um relógio de ponto à porta de casa, para prevenir a tua assiduidade ao travalho ...
ResponderEliminarAbraço
Ando numa "roda viva" e com a cabeça "onde se coloca o boné" em parafuso!
ResponderEliminarPara dar apoio psico-social aos sócios de uma Sociedade tão picante aceitem a minha colaboração como Assistente Social...Dou ajuda a todos e voluntáriamente!
ResponderEliminarE a malta que anda tão precisada de assistência social...
ResponderEliminar