SE
se a autarquia tivesse construído passeios na minha rua por onde eu pudesse
caminhar
se o senhor agente da autoridade apenas existisse para me saudar em continência
caminhar
se o senhor agente da autoridade apenas existisse para me saudar em continência
de gesto e de atitude
se o gato da minha vizinha ou se a
minha vizinha se questionassem do meu
incómodo por ele defecar no meu
jardim
se o autocarro da carreira suburbana
não me violentasse na urgência de
trajectos aprazados
se as filas intermináveis de trânsito
evoluíssem em bailado acidental
se no meu país deficitário não
encerrassem escolas ou maternidades para
combater o défice
se nele os licenciados necessitassem
de pedir licença para não exercerem o
seu mister
se os empregadores que mal
empregassem pudessem perder seus empregos
se cada bomba apenas florescesse em
atentados a decrépitos pudores
se o riso tivesse valor de lei e a
lágrima direito inalienável de assistência
se a pobreza só existisse na exposição
retórica de circuitos paisagísticos
se a fome fosse apenas de sonhos e os
sonhos construíssem o real
se fosse descoberta a vacina que nos
protegesse das balas e de outras
intenções invasivas
se as palavras que trocássemos se
ajustassem sempre no calor destemperado
da poesia
então teríamos o tempo e o modo do
abraço
e haveria porventura um lugar no mundo
para a humanidade
O Jorge Castro sempre soube mostrar que nem só a cantiga pode ser uma arma. A poesia também.
ResponderEliminar!
ResponderEliminarTá um mimo!
Deve ter sido escrita há poucos dias...2010
Gostei! E mais actual do que nunca...
ResponderEliminarNão conheço muito bem o autor... ;-)» , mas até estou capaz de concordar com a sua ladainha...
ResponderEliminarAbraços!
Pois eu conheço o autor e ainda as ladainhas!
ResponderEliminarSe há quem saiba brincar com as palavras
Se há quem viva inconformado com as injustiças
Se há quem seja amigo do seu amigo
Se....
Então, eis Jorge Castro.
Assim é que se fala.
ResponderEliminarEntendemo-nos,Jorge!