Passaram-se mais de quarenta anos, desde que ela tinha saído de Coimbra para ir viver em New York...
Uma vida inteira!
Nos momentos de melancolia a Isabel abandonava-se aos seus pensamentos secretos, escondida dos olhares do marido e dos filhos, receosa que eles lhos adivinhassem. Perdia-se em recordações, deixava que a imagem do Luis, aquele que foi o amor da sua juventude, lhe aparecesse nítida, tão presente que quase sentia o seu contacto. Ondas de confidências, gritos de alma, desejos inconfessados abanavam-lhe o corpo, uma doce dor apertava-lhe o coração.
Tantas foram as vezes em que, abraçada ao seu marido, era ao Luis que realmente beijava, que acariciava, que sussurrava palavras de amor.
Nunca mais tinha tido notícias dele, mas jamais o esquecera.
Até que, há pouco tempo...
Viu o nome dele na internet. Ficara a saber que ainda vivia em Portugal, casado e com filhos, do outro lado do mar. Começaram a trocar mensagens, a princípio formais, depois mais íntimas.
Ela, uma mulher madura mas ainda fogosa e bonita, não se conformava por tamanha e tão longa separação.
Um dia, faço-te uma surpresa, apareço-te aí, nem que seja por uns dias, para desfrutarmos este amor que ainda nos une, escrevia-lhe ela nas mensagens que lhe mandava.
O Luis às vezes respondia-lhe que era ele quem lhe faria essa surpresa. Que também ansiava tê-la nos braços, mostrar-lhe todo o amor que também nunca deixou de lhe ter.
Certo dia, sem que o Luis tenha sido avisado, a Isabel, como lhe prometera, aterrava no aeroporto da Portela para estar com ele. Iria contactá-lo e indicar-lhe o hotel de Lisboa onde se iria hospedar por uma semana e pedir-lhe que fosse encontrar-se com ela.
Mal ela sabia que nesse mesmo momento, o Luis estava a desembarcar no aeroporto de Newark, para onde tinha ido à procura dela. Fazer-lhe a prometida surpresa...
Isto das surpresas... deviam ser sempre combinadas :O)
ResponderEliminar(e fica na forja para a funda São)
Ainda bem que assim aconteceu!... Depois desses anos todos, de certeza que iriam ter uma desagradável surpresa!!!... O Luís está com uma enorme barriga, manchas na cara, careca e com dores na anca que o obrigam a mancar!...
ResponderEliminarA Isabel, nem é bom falar!...
Sorte a deles!!!...
Mais uma história de encontros e desencontros da vida, saída da imaginação fértil do Rui Felício.
ResponderEliminarO título, diz tudo: Desencontros ...
Quanto mais longe, mais loze.
ResponderEliminarBoa prosa.
Sofri com esta história...o desencontro,não podia ter acontecido!
ResponderEliminarJá que o título era Desencontros esperei um final antagónico...
Choro de tristeza por eles!
ALGUÉM TIRE AS CEBOLAS DE PERTO DA OLINDA, CARAIS!
ResponderEliminar"O DESTINO MARCA A HORA"!!!!
ResponderEliminarFoi pena....mas a hora da Isabel e do Luís, já tinha sido...hà 40 anos atrás!!!! Deixaram-na fugir...não havia mais nada a fazer!!!!!!
Esqueci-me de dizer que este sujestivo título "O Destino Marca a Hora", foi de um filme que vi não sei há quantos anos, do Tony de Matos, também uma "dramática" estória de encontros e desencontros, que me fez chorar "baba e ranho" durante todo o espectáculo.
ResponderEliminarUm e outro mereciam a lição. Quarenta anos é tempo a mais para se cumprir uma promessa ou para se fazer uma surpresa...
ResponderEliminarMais um delicioso texto do Felício.
A foto escolhida, para acompanhar a estória, demonstra bem o cuidadoso carinho com que nos presenteia.
Aquele abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarNão é segredo para ninguém que gosto da maneira de ser do Quito, da sua sensibilidade, da sua capacidade em nos transmitir sentimentos através da palavra escrita.
ResponderEliminarMas tem defeitos, como qualquer de nós.
Um dos poucos que lhe reconheço é o do cepticismo.
Porque sei que acredita em mim, esclareço-o que esta situação não é fruto da minha "fértil imaginação", como ele escreveu.
O caso passou-se com pessoas que alguns de nós conheceram na juventude. Cujos nomes oculto, por obvias razões...
Mais um conto do Rui Felício que nos mantem preso ao enredo e que acaba da forma que uma pessoa não prevíu mas também não se fica desiludido com o desenlace, derivado à distância no tempo e à sua forma de expor.
ResponderEliminarTenho, com o amigo Rui Felício um gosto comum: escrever.Mas, cada um de nós, tem a sua própria matriz. Enquanto eu vou tentando trazer até aos amigos casos reais, de uma forma jocosa ou sofrida, o amigo Rui Felício tem o condão de conseguir, amiudadamente, escrever histórias de ficção. Dada a forma como este conto termina, que tem muito a ver com a sua matriz de escrita,pensei que o texto fosse fruto da sua brilhante imaginação. Desconhecia, que o seu texto tinha uma fonte de realidade de pessoas que ele conhece ou conheceu e as quais protegeu com o anonimato, numa atitude bem reveladora do respeito que tem pelos protagonistas seus conhecidos,com a sensatez e respeito que são timbre do Rui Felício ...
ResponderEliminarA vida é assim mesmo, feita de casos muitos deles inesperados, de encontros e desencontros.
ResponderEliminarApesar desta história ter um fundo de verdade a forma como termina tem sem dúvida uma assinatura.
Um abraço Felício. Gostei.
Abílio
De facto, sendo veridica a história e reais as personagens,reconheço que a assinatura final, como diz Abilio e sugere o Quito, é o rabisco trémulo em que não resisto à falsidade para a salgar ...
ResponderEliminarOlha Teresa deste uma dica para me desenrascar:Gosto do texto como é habitual sempre que o Rui escreve-não descortinei o final-algo falhou na comunicação dos personagens..
ResponderEliminarSendo assim convidei o TONY DE MATOS para explicar melhor:
Tony de Matos
O Destino Marca A Hora - Lyrics
O destino marca a hora
Pela vida fora
Que havemos de fazer
O que rege a sorte agora
Foi escrito outrora
Logo ao nascer
O relógio marca o tempo de viver
Todos nós somos iguais
Se o destino nos condena
Não vale a pena
Lutarmos mais
O passado nunca volta,
podes crer
O futuro não tem dono
Toda a flor por mais
bonita há-de morrer
Quando chega o seu outono
Temos hoje p’ra viver toda uma vida
O amanhã, que l,onge vem!
A saudade está escondida
Num destino por medida...
Como sempre, a exclamação que me vem à boca depois de ler as tuas crónicas é um "ORA BOLAS!"
ResponderEliminarMeu Caro Rui Pato,
ResponderEliminarÉ, quanto a mim, preferível terminar as histórias, de forma aparentemente desoladora, mas não definitiva, do que fazê-lo com um "The End" concludente e irreversível.
Assim, fica a possibilidade de se imaginar um "Happy End" ao gosto de cada um, em ocasião futura.
Porque, como sentenciaria o Tonito Dias, "há mais marés que marinheiros"...
Um abraço. Gostei de te ver por aqui. És uma figura incontornável do nosso Bairro, de que todos nos orgulhamos!
Figura incontornável?! Oh, diacho! Porquê? Dá azar contorná-lo?!
ResponderEliminarPela simples razão de que falar do Bairro, de Coimbra e da música portuguesa da cidade e do Paísnos anos sessenta, é obrigatório falar de nomes como Zeca Afonso, Correia de Oliveira, Luis Goes,Francisco Bernardino, António Portugal, Brojo, Durval Moreirinhas e Rui Pato.
ResponderEliminarPara já não falar a nivel profissional...
São nomes que não se conseguem afastar, que não se conseguem contornar, pela decisiva importância que tiveram na formação de consciências de todos quantos com eles conviveram.
Ah, bom! É que pensava que dar-lhe a volta (contorná-lo) dava azar :O)
ResponderEliminarAi São, São... pede ao Paulo Moura que te compre um busto do Napoleão...
ResponderEliminarPara ele o contornar?
ResponderEliminarGostei de ler!Um texto teu é sinal de final inesperado.
ResponderEliminarO sal deu o tempêro final!
No labirinto da vida, nem sempre descobrimos a saída a tempo e horas...
..."o que tu queres é que te compre um busto de Napoleão"...lembram-se desta velha anedota?
ResponderEliminarÓ Abílio, também me queres contornar?!...
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