Um comentário texto:Achei tudo de muito mau gosto, com pouca dignidade, feio mesmo, vieram-me à lembrança as formas de protesto da mesma Academia nos anos 62 e 69 .
Rui Pato
Em 1962, a polícia tentou entrar no Pátio da Universidade com os seus jeep’s. Deparou-se com um tapete humano de estudantes deitados no chão da Porta Férrea que os impediu de entrar. A opressão do regime ditatorial de então, justificava todos os protestos estudantis. Que, no entanto, e apesar disso, utilizavam meios de os fazer que não ferissem a dignidade das Instituições e da própria academia a que pertenciam. E, quanto a mim, o simples facto de se encerrar a Porta Férrea, com a carga simbólica que ela contém, atenta contra essa dignidade. Não é por acaso que a Porta Férrea, há séculos, se mantém sempre aberta. Excepto à noite, por naturais razões de segurança. A sua abertura pretende traduzir, ainda que simbolicamente, a desejável comunicação entre a Escola e a Sociedade. É esse simbolismo que não pode nunca ser desprezado, por mais estimáveis que sejam os motivos invocados. Esse é o princípio imutável. Mesmo sabendo nós que a Universidade de Coimbra teve períodos em que se encerrou em si mesma, o princípio sempre prevaleceu no espírito da Academia. Não foi por acaso que os estudantes de 1962 preferiram encontrar aquela forma de vedar o acesso à polícia, em vez de fecharem a porta a cadeado, como, por certo teria sido muito mais fácil. Para além de que me parece deprimente e indigno de estudantes universitários, todo o aparato envolvente, o lixo, as tendas... Por vezes perde-se a razão, se é que a há, por não se saber reivindicar a razão.
A força dos protestos académicos, radicaram sempre no apoio e na cumplicidade da sociedade não universitária, dos cidadãos comuns... quando não se tem essa habilidade, perdem-se as causas, perde-se o crédito e descredibiliza-se uma academia cheia de tradições, também nos protestos estudantis, desde o tempo da monarquia!
É bem verdade. Acompanhei a luta de 1969 , como "cidadão comum", com grande entusiasmo. Naturalmente que havia uma alavanca motora dessa ligação entre estudantes e população em geral, que não era mais do que a recusa generalizada ao jugo do Estado Novo. De qualquer das formas, parece-me que, hoje, a academia vulgariza as suas formas de luta que, podendo ser justas, se perdem em manifestações folclóricas. Perdendo, assim, a simpatia da população e ganhando o desrespeito dos destinatários do protesto. Que até muito lhes convém...
Camões disse essa grande verdade, glosada ao longo dos tempos por tantos e tantos revolucionários e futuristas. De facto, a vida não deve ficar anquilosada e cristalizada nas tradições, porque o "mundo é feito de mudança".É essa mudança que o faz girar e evoluir.
Mas também sabemos que devemos aprender com a História, porque é dela que recolhemos os ensinamentos que nos ajudam a não cometer erros na ânsia da mudança.
Quando discordo da atitude que alguns estudantes actuais tomaram e que o Rui Pato aqui trouxe, não estou a ajuizar sobre as suas razões, que quero crer que sejam justas e dignas.
Não, não as conheço e por isso sobre elas não me pronuncio.
O que critico são os métodos, a indignidade, o esquecimento de que, queira-se ou não, eles integram uma vetusta Academia que sempre se pautou, nos mais dificeis momentos, pela criatividade, pelo respeito por si mesma, pela demonstração de um comportamento intelectual e cívico que conquistava o respeito da população da cidade de Coimbra. E até daqueles contra quem lutavam! Mesmo que o não confessassem, no íntimo temiam e respeitavam os estudantes de Coimbra. O que não me parece ser o caso presente...
Por isso, eu digo que o mundo é feito de mudança. Mas não de qualquer mudança...
Vivi as crises de 62 como estudante e de 69 como trabalhadora-estudante... apenas tenho a dizer: será que os jovens estudantes não terão auto-crítica para avaliar o mau gosto,a cretinice e o desrespeito ao ter comportamentos destes??? Porquê,porquê???
Em 1962, a polícia tentou entrar no Pátio da Universidade com os seus jeep’s. Deparou-se com um tapete humano de estudantes deitados no chão da Porta Férrea que os impediu de entrar.
ResponderEliminarA opressão do regime ditatorial de então, justificava todos os protestos estudantis. Que, no entanto, e apesar disso, utilizavam meios de os fazer que não ferissem a dignidade das Instituições e da própria academia a que pertenciam.
E, quanto a mim, o simples facto de se encerrar a Porta Férrea, com a carga simbólica que ela contém, atenta contra essa dignidade.
Não é por acaso que a Porta Férrea, há séculos, se mantém sempre aberta.
Excepto à noite, por naturais razões de segurança.
A sua abertura pretende traduzir, ainda que simbolicamente, a desejável comunicação entre a Escola e a Sociedade. É esse simbolismo que não pode nunca ser desprezado, por mais estimáveis que sejam os motivos invocados.
Esse é o princípio imutável. Mesmo sabendo nós que a Universidade de Coimbra teve períodos em que se encerrou em si mesma, o princípio sempre prevaleceu no espírito da Academia.
Não foi por acaso que os estudantes de 1962 preferiram encontrar aquela forma de vedar o acesso à polícia, em vez de fecharem a porta a cadeado, como, por certo teria sido muito mais fácil.
Para além de que me parece deprimente e indigno de estudantes universitários, todo o aparato envolvente, o lixo, as tendas...
Por vezes perde-se a razão, se é que a há, por não se saber reivindicar a razão.
De acordo com Rui Pato e Rui Felício.
ResponderEliminarA força dos protestos académicos, radicaram sempre no apoio e na cumplicidade da sociedade não universitária, dos cidadãos comuns... quando não se tem essa habilidade, perdem-se as causas, perde-se o crédito e descredibiliza-se uma academia cheia de tradições, também nos protestos estudantis, desde o tempo da monarquia!
ResponderEliminarÉ bem verdade.
ResponderEliminarAcompanhei a luta de 1969 , como "cidadão comum", com grande entusiasmo.
Naturalmente que havia uma alavanca motora dessa ligação entre estudantes e população em geral, que não era mais do que a recusa generalizada ao jugo do Estado Novo.
De qualquer das formas, parece-me que, hoje, a academia vulgariza as suas formas de luta que, podendo ser justas, se perdem em manifestações folclóricas.
Perdendo, assim, a simpatia da população e ganhando o desrespeito dos destinatários do protesto. Que até muito lhes convém...
Correndo o risco de me tornar repetitivo:
ISTO DANTES...
CAMÕES SEMPRE ACTUAL:
ResponderEliminarMudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Camões disse essa grande verdade, glosada ao longo dos tempos por tantos e tantos revolucionários e futuristas.
ResponderEliminarDe facto, a vida não deve ficar anquilosada e cristalizada nas tradições, porque o "mundo é feito de mudança".É essa mudança que o faz girar e evoluir.
Mas também sabemos que devemos aprender com a História, porque é dela que recolhemos os ensinamentos que nos ajudam a não cometer erros na ânsia da mudança.
Quando discordo da atitude que alguns estudantes actuais tomaram e que o Rui Pato aqui trouxe, não estou a ajuizar sobre as suas razões, que quero crer que sejam justas e dignas.
Não, não as conheço e por isso sobre elas não me pronuncio.
O que critico são os métodos, a indignidade, o esquecimento de que, queira-se ou não, eles integram uma vetusta Academia que sempre se pautou, nos mais dificeis momentos, pela criatividade, pelo respeito por si mesma, pela demonstração de um comportamento intelectual e cívico que conquistava o respeito da população da cidade de Coimbra.
E até daqueles contra quem lutavam! Mesmo que o não confessassem, no íntimo temiam e respeitavam os estudantes de Coimbra.
O que não me parece ser o caso presente...
Por isso, eu digo que o mundo é feito de mudança. Mas não de qualquer mudança...
Vivi as crises de 62 como estudante e de 69 como trabalhadora-estudante... apenas tenho a dizer: será que os jovens estudantes não
ResponderEliminarterão auto-crítica para avaliar o mau gosto,a cretinice e o desrespeito ao ter comportamentos destes???
Porquê,porquê???