Foi difícil dividir a conta por três...maldita matemática ...
Vou lentamente recuperando do meu estado de alma. Tenho que ter esta franqueza convosco, olhos nos olhos: não há nada mais deprimente que um fim de férias. Ao volante do meu carro na A 2, vou digerindo o azedume de deixar o mar e o belo sol algarvio. Uma imoralidade, pautada por aquilo a que se chama “as obrigações”. Mas quais obrigações??? Obrigação era continuar lá, de papo para o ar, a olhar para o mar, de óculos escuros a ver as misses. Alentejo acima, o silêncio dentro do carro é sepulcral. No banco de trás, suspira-se e fala-se já em saudades. A estrada é monocórdica e levo a mão à boca num ligeiro bocejo. Ligo o rádio para descontrair. Fico pior. Falam sobre um Cruz qualquer e de um monstruoso episódio que é a nossa vergonha colectiva. Mudo de estação. Agora falam de um Agostinho qualquer e de uma selecção que anda em piloto automático. Em rota de colisão, acrescento. Procuro nova estação. Finalmente aparece Rui Veloso. Já me sinto melhor. E é nessa altura que o telemóvel toca. O meu co-piloto atende. Era o Rafael. Convida-nos a aparecer no Samambaia, que a malta está à espera para irmos almoçar. Convite aliciante, sem dúvida, se não estivéssemos ainda em Alcácer do Sal. Fica combinado que aparecerei no dia seguinte. E assim foi. Manhã cedo lá rumo ao “escritório”. Mas, primeiro, entro no Centro Norton de Matos. É preciso pagar as quotas que a Colectividade não vive do ar. Dou então de caras com o Rafael. Sacola ao ombro e um boné na cabeça. Um postal ilustrado. Damos um abraço. Cá fora vejo o Rui Pato sentado no Vasco da Gama. Chamo-o e ele acena-me sorridente. São assim os meus amigos. Depois lá fomos até ao Samambaia. O Rafa confessa-me que “esta semana estou sozinho”. Olho para ele a franzir a sobrancelha e disparo à meia-volta: “… não tens cá a tua polícia agora vê lá o que é que comes…”. “Ando a chá e torradas” – diz-me, e eu aceno com a cabeça afirmativamente a fazer que acredito.
Entretanto, aparece o Tonito. Vem disparado direito a mim e remata: “…vá lá pá, eu vi um gajo de camisola verde e fiquei surpreendido, pois não é hábito ver-te cá à semana…” A conversa vai-se desenrolando. O Rafael fala numa sandes de leitão que comeu a horas tardias depois de um lauto jantar e que estava a ver que “marchava” com uma congestão. “Mal o último bocado do bicho me passou pelo estreito, disse cá para comigo:… já estou lixado …“. Nessa altura, o Tonito remexe-se na cadeira e diz-me: “…óh Quito tive um sábado muito “pesado” e coisa pá, sabes o que é que me aconteceu?... ás duas da matina fui para casa e quando vou a passar ao pé do Centro começo a ouvir cantar: “… parabéns a você, nesta data querida…”… olho para todos os lados e não veja ninguém, aquilo pareciam vozes do além …divinas…mas não eram…era o Mário Reis, o filho e o Gaspar na varanda do Centro …olha tive que entrar e beber mais umas cervejas…depois fui para a cama e aterrei …”. Não consigo conter o riso. Uma comédia. Com vozes vindas do além aquilo só podia ser uma DIVINA COMÉDIA. Entretanto o relógio aponta para o meio-dia. São quase horas de almoçar. O Tonito fala em grão com bacalhau no “Norton” e quem fica com os olhos em bico sou eu. Com a barriga a descair do cinto das calças, levanto-me e lá vamos os três de rota batida. A travessa do bacalhau, parece uma nave espacial. Um jarro grande de vinho completa o quadro. Durante cerca de duas horas vamos saboreando o repasto. A certa altura, o jarro do tinto finou-se. Veio segunda dose. O Rafael rendeu-se, enquanto ia acariciando a barriga, grande como um tambor. Fiz o que pude. Fui acompanhando o Tonito até que me aconteceu como nos autoclismos ou seja: fiquei cheio e a bóia disparou. Por fim veio a conta, sempre a parte mais desagradável de qualquer almoço. Tivemos alguma dificuldade em fazer uma divisão por três, pois nenhum de nós tinha levado máquina calculadora. Pagámos a conta e partimos. Sábado, estaremos noutro rebalhão. Mas isso são contas de outro rosário …
Quito Pereira
Entretanto, aparece o Tonito. Vem disparado direito a mim e remata: “…vá lá pá, eu vi um gajo de camisola verde e fiquei surpreendido, pois não é hábito ver-te cá à semana…” A conversa vai-se desenrolando. O Rafael fala numa sandes de leitão que comeu a horas tardias depois de um lauto jantar e que estava a ver que “marchava” com uma congestão. “Mal o último bocado do bicho me passou pelo estreito, disse cá para comigo:… já estou lixado …“. Nessa altura, o Tonito remexe-se na cadeira e diz-me: “…óh Quito tive um sábado muito “pesado” e coisa pá, sabes o que é que me aconteceu?... ás duas da matina fui para casa e quando vou a passar ao pé do Centro começo a ouvir cantar: “… parabéns a você, nesta data querida…”… olho para todos os lados e não veja ninguém, aquilo pareciam vozes do além …divinas…mas não eram…era o Mário Reis, o filho e o Gaspar na varanda do Centro …olha tive que entrar e beber mais umas cervejas…depois fui para a cama e aterrei …”. Não consigo conter o riso. Uma comédia. Com vozes vindas do além aquilo só podia ser uma DIVINA COMÉDIA. Entretanto o relógio aponta para o meio-dia. São quase horas de almoçar. O Tonito fala em grão com bacalhau no “Norton” e quem fica com os olhos em bico sou eu. Com a barriga a descair do cinto das calças, levanto-me e lá vamos os três de rota batida. A travessa do bacalhau, parece uma nave espacial. Um jarro grande de vinho completa o quadro. Durante cerca de duas horas vamos saboreando o repasto. A certa altura, o jarro do tinto finou-se. Veio segunda dose. O Rafael rendeu-se, enquanto ia acariciando a barriga, grande como um tambor. Fiz o que pude. Fui acompanhando o Tonito até que me aconteceu como nos autoclismos ou seja: fiquei cheio e a bóia disparou. Por fim veio a conta, sempre a parte mais desagradável de qualquer almoço. Tivemos alguma dificuldade em fazer uma divisão por três, pois nenhum de nós tinha levado máquina calculadora. Pagámos a conta e partimos. Sábado, estaremos noutro rebalhão. Mas isso são contas de outro rosário …
Quito Pereira
Mesmo à distância, já sabia da bacalhoada.
ResponderEliminarFiquei danado e pensei cá para comigo: O Quito em vez de andar a cumprir as suas obrigações vai de escantilhão até Coimbra só porque lhe cheirou a bacalhau. Raio de vícios!
Logo que esteja com ele vai ouvir das boas!
Mas agora, depois de ler esta crónica, escrita com a habitual desenvoltura do Quito, amoleci e em vez de lhe ralhar dou-lhe um abraço!
Só por uma frase do texto, carregada de pura filosofia:
(... )Obrigação era continuar lá, de papo para o ar, a olhar para o mar, de óculos escuros a ver as misses.(... )
Um abraço, Quito!
De facto, o Quito faz bem o retrato desta "ilha"! É um pequeno círculo com menos de 50 metros de raio e... com a dimensão do infinito!
ResponderEliminarÉ o "Largo do Povoado",
É o "Adro da Igreja" e
É a "Praça do Chafariz"... tudo ali à mão...
O RAIO DO MUNDO passa por estes azimutes.
ResponderEliminarJá hesiste o Tringulo das Bermudas.
Por mim, eu estou no Triangulo de Coimbra.
um Abraço.
Tonito.
E tinham que ser 3 pon(s)to(a)s da badana?
ResponderEliminarNão é para dividir por 3.Teremos que multiplicar por 10 milhões e somar o IVA.
Mas não é mau de todo:estamos em penúltimos,a par de Chipre,e à frente da Islândia.
Até aqui sinto o cheirinho do bacalhau da Noruega...
Cá por mim e ao contrário do Quito e não só, o FIM de Férias na praia é um motivo para festejar!
ResponderEliminarVou ao sábado e lá para 4ª feira ou 5º, começo a contar os dias que faltam para me livrar de toda aquel areia!
Então entrar na água até aos joelhos, vá que não vá...brrr!brrr!
Quanto á selecção vai de mal a pior e nem Santo Agostinho que nada tem de Deus,lhe pode valer!
Quanto ás quotas, enfim estão pagas....mas que "diabo" já estamos Setembro!
Lá nos juntámos os dois "deserdados" a que se juntou o Tonito (o altamente livre) e depois de passar em revista toda a matéria besbilhoteira, discutida mas muito pouca resolvida,a não ser o episódio da serenata aos 46 anos(feita ao contrário, isto é de cima para baixo, foi resolvido assinar a acta ao som duma bacalhoada, com algum grão no prato e que quase ia terminando com "grão na asa"!
Foi por ser dia útil, Rui Felício" que nos metemos no grão, com vinho de "pucheira (duas das grandes)pois nos dias inúteis costuma ser cabrito, mariscada,etc, etc,com vinho de região demarcada até mesmo demarcadissima!
Depois de atestados seguimos em 3 direcções diferentes!
Olha, amigo Quito, o Rafael ficou de rédea livre...apenas ficou proibido de adoecer!
ResponderEliminarGostei do que li,como sempre.
Um bom momento vivido entre três bons amigos.
ResponderEliminarSó uma coisa não consegui perceber. Se os amigos eram três e os jarros de vinho apenas dois, quem é que não bebeu?
Mistérios!
Carlos Viana.