quinta-feira, 30 de setembro de 2010

TRINTA DE SETEMBRO ...

Foto Net ...
O Outono chegou de mansinho. Lá fora, neste fim de tarde acolhedor, o Sol recolheu-se atrás das montanhas. Uma cor púrpura, em forma de leque, desenha-se no horizonte. São os últimos acordes de um dia risonho. Daqui, deste local onde me encontro, tenho a planície a meus pés. Tons dourados, inundam os campos. Aqui e ali, um rebanho. Escondidos por entre os olivais, apenas lhes pressinto a presença. O tilintar dos badalos, o latido dos cães, dão - me essa certeza. Também a voz imperativa do pastor, perante a ovelha tresmalhada. Espalhadas num aglomerado disperso, espraio um olhar sobre as casas. Vistas daqui, parecem pequenas. Brancas, de telhado cor de laranja, percebe-se da modéstia da sua traça. Plantadas neste vazio espacial, assemelham-se a delicadas peças de um jogo do Lego. Ao longe, um caminho de terra batida rasga a planície e desaparece numa floresta de pinheiros. Fardos de palha, em forma de cubos, espalham-se pelos quintais. Arrumados criteriosamente, repousam junto das alfaias agrícolas. De repente, vislumbro um rebanho. Afasta-se, pachorrento, calcorreando o pasmo da campina. Diviso o pastor e atrás, de cor preto azeviche, o cão, fiel companheiro de tanta jornada. De novo, o silêncio toma conta da planície. Agora, que a luz coada pelo porte das montanhas é cada vez mais desmaiada, sinto o pulsar da aldeia. O caminhar das carroças no empedrado das ruas. O longínquo cantar de um galo. O piar de um bando de pássaros retardatário, que parte para outras paragens. O sino da torre da igreja e as suas badaladas compassadas e soturnas. As mulheres – algumas – que em passo apressado, se dirigem à nave do Templo. É hora do Terço. É hora de Oração. Anoiteceu. Os rumores deste dia tranquilo, diluem-se na noite. Os candeeiros, mortiços, projectam agora as suas sombras pelas estreitas ruas e vielas. E a aldeia, singela, aninhada entre montanhas e planícies, adormece, serena, envolta num manto de paz.
Foi assim, hoje, em Salgueiro do Campo, o último dia deste mês Setembro.
Quito Pereira

9 comentários:

  1. Ora bem, aqui estão notícias da Beira Baixa, frescas e relatadas na 1ª pessoa!
    Contrastam com as anteriores. Estas de cores da terra e as precedentes com as águas correntes de um grande rio da Toscana.

    Neste fim de tarde outonal temos uma leitura bem simpática!

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  2. Quito, a tua escrita é como uma boa alta fidelidade os sons estão lá todos.
    Tonito.

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  3. Leio, aprecio, gosto cada vez mais do que escreves.
    Só tu... para eu ler para além dos jornais!

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  4. Aproxima-se a estação de maior azáfama por estas terras. Está quase na hora de se apanhar a azeitona ...

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  5. Só acrescento que estão,no mínimo,os cinco sentidos.
    Obrigado.
    Um abraço.

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  6. O Rui Lucas tirou-me as palavras da boca...

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  7. Hino ao Outono no qual me revejo.
    Gosto muito desta época do ano!!!

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  8. Só tu poderias descrever com mestria as cores deste campo que te abraça.
    Um abraço
    Abílio

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  9. Tendo por pano de fundo a Mãe Natureza, sempre fica entreaberta a visão do Humano. Esta relação é, para o Quito, inseparável.
    E que bem que faz esta simbiose!
    Parabéns. Abraço.

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