Fora um animal esplêndido.
No grande espaço onde o criava, conseguia dar-lhe as condições ideais. De todo o país, das ilhas, mesmo de alguns lugares distantes do mundo, por onde os amigos se espalharam ao sabor da vida, chegavam mensagens e visitas para o admirar.
O seu orgulho não parava de crescer. Era tudo obra sua.
Começou a não gostar da atenção exagerada que os amigos do animal lhe dedicavam e que era correspondida. Que diabo, o bicho era dele e estava a sentir-se passado para trás.
A quinta foi fechando as portas e só eram abertas com a devida autorização, para seleccionar os visitantes. Depois, as próprias portas foram ficando mais estreitas. E o animal ressentiu-se. Foi emagrecendo, não obstante a comida com que o tentava engordar, e acabou por perder todo o brilho do pêlo.
Não podia ser. Não chegava alimentá-lo, era preciso acarinhá-lo e dar-lhe comida de qualidade!?!?! Alargou, de novo, as portas mas não havia meio de ver as melhoras.
Resolveu chamar o veterinário. Pessoa competente, com vários anos de prática, o médico auscultou, analisou fezes, urina e sangue. Meteu a mão em todos os orifícios. Nada. O bicho não tinha doença.
O reduzidíssimo número de amigos que ainda o visitavam, olhavam, tristes, decepcionados.
– É tristeza – dizia o médico – é depressão e falta de alimento.
– Mas ele come!
– Come o quê? – Olhou para o coberto onde estava o alimento do animal – É isto? - Mexeu, cheirou – Mas isto é palha do ano passado! - Ficou lívido!
– Só por isso, doutor?
– Você é que é o dono do animal. Está a dar-lhe mais algum tóxico?
– Veterinário de caca, calcinhas!
Ele era, mesmo, o dono do animal e saberia como tratá-lo.
Abandonou o grupinho triste que o olhava com admiração e sentou-se ao computador.
(Autor desconhecido)
Azurva, 9 de Setembro de 2010
Muito profundo.
ResponderEliminarCoisa ABISSAL.
ResponderEliminarMais longe que o fundo.
Tonito.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarHá sempre quem queira ser o centro do mundo, mesmo que isso passe pelo sacrifício do melhor amigo...
ResponderEliminarAbílio
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Muito tempo depois de ter morrido, a "Becas" a minha boxer, ainda havia pessoas, que eu não conhecia, que me perguntavam por ela.
Por a levar a passear conheci pessoas maravilhosas que se tornaram amigas.
Mas a Becas era uma cadela especial... deixou em todos nós uma eterna e enorme saudade.
Alegoria bem estruturada, que convida à reflexão.
ResponderEliminarAssim como o filho deve obediência ao pai tirano, também o animal se deve submeter ao seu dono.
São leis da Natureza.
Contudo, quando o animal é vitima do exercício excessivo da legítima autoridade do dono, isolando-o e afastando dele os seus amigos, inevitavelmente perde a alegria, a vivacidade e fenece...
A mim parece-me que já feneceu...
ResponderEliminarA "legitima autoridade" do dono, sendo legitima, foi exercida de forma cruel. Pobre animal que ainda hoje poderia cavalgar alegremente.
Carlos Viana.
É para ler e meditar nestas situações,mesmo passado-se com animais!
ResponderEliminarTalves que o dono não tivesse consciência dos malefíciosa que estava a sujeitar o animal co "ração já imprópria"!
A morte, mesmo fazendo parte da vida, é sempre triste!
ResponderEliminarMas, uma morte lenta, sofrida, física e psicologicamente,torna-se cruel para o próprio animal e para quem o viu nascer e acompanhou o seu desenvolvimento.
O coração aperta-se de desencanto e mágoa!
OS animais também se abatem e, de uma forma
ResponderEliminardecadente, pelos donos ciosos e sem qualidades
para os bem tratar...
Este texto magnífico fez-me reflectir, sèriamente,
no narcisismo patológico que tive ,infelizmente,
oportunidade de contactar na minha vida profissional... mas aqui acrescento que a deficiente base educacional também está associada.
Deste modo, nem os animais resistem quanto mais as pessoas...
É pena!