Terminados os estudos, o Carlos Seixas regressou à sua terra, Oliveira do Hospital, onde o pai era agricultor e pequeno produtor de lacticínios.
O Carlos viveu durante os seis anos que passou em Coimbra a estudar medicina, num quarto alugado ao fundo da Rua dos Combatentes, onde fui algumas vezes para me juntar a ele e ao Luis Filipe, meu colega de curso, e que vivia duas casas mais acima, normalmente para depois irmos os três para alguma noitada.
Já médico, o Carlos Seixas montou consultório num pequeno rés-do-chão direito arrendado no centro de Oliveira do Hospital. Um ano mais tarde, arrendou o rés-do-chão esquerdo, ampliando o espaço.
Boa parte da população já procurava os seus serviços. Ganhou fama de ser um bom médico, competente e simpático.
Muitos dos seus pacientes, antes dele, costumavam recorrer aos serviços de um curandeiro, de nome Francisco e alcunha de “O Cura Almas”, que assentava arraiais na aldeia próxima de Nogueira do Cravo.
Com a vinda do médico, o Cura Almas foi perdendo gradualmente a sua freguesia.
Chegavam amiúde aos ouvidos do Dr. Carlos Seixas, rumores de que o curandeiro se fartava de dizer mal dele. Citava até os nomes daqueles que iam falecendo, como prova de que o médico não os tinha conseguido curar. Ou, pior do que isso, de que ele lhes tinha provocado a morte com as prescrições que fazia!
Certo dia, o curandeiro foi à consulta do Dr. Carlos Seixas, no intuito de o atrapalhar e, com isso, demonstrar ao povo que ele não percebia nada de medicina.
Entrou no consultório, cumprimentou o médico e sentou-se à sua frente.
- Então o que o traz por cá, Sr. Francisco?
- Tenho um raio de uma dor que parece que é dor, mas que realmente não me dói, Sr. Dr.
O médico percebeu imediatamente, até pelo meio sorriso do curandeiro, que ele vinha ali só para gozar. Mas resolveu fazer-se desentendido e entrar no jogo.
Depois de o auscultar demoradamente e de lhe medir a pressão arterial, olhou-o nos olhos e disse-lhe:
- O seu estado aparenta alguma gravidade, Sr. Francisco. Mas tudo tem o seu remédio, não se preocupe. Vá à farmácia, e avie esta receita.
E continuou:
- Sempre que lhe aparecer a tal dor que diz que parece dor mas que não dói, você tira um dos comprimidos do frasco, pega num copo de água, faça de conta que toma o comprimido, mas realmente não o toma, entendeu?
Rui Felício
Assim,não me parece bem.
ResponderEliminarNeste sítio,uma dica para o Governo??!!
O que aqui conta o Rui passou-se exactamente assim!
ResponderEliminarTive um familiar que vivia em Oliveira do Hospital nessa época, consultava o curandeiro em Nogueira do Cravo, pagava em géneros, normalmente um garrafão de azeite e depois passou para o Dr. Seixas!
Pagava em dinheiro e uma vez por outra levava ainda o garrafão de azeite!
Aliás ese meu familiar contava-me que o Dr Seixas era muito conversador e até chegou a mencionar o nome do Rui Felício e do Luis Filipe, e das noitadas que passavam juntos!
Áh ganda Doutor Seixas!!!...
ResponderEliminarEstória deliciosa que eu desconhecia...
ResponderEliminarAbraço
Estou surpreendida com a quantidade de pessoas que afinal conheceram o Dr. Seixas!
ResponderEliminarLi que o nosso grande cientista Dr. Damásio, concluiu que a "alma" existe num determinado ponto do cérebro e pode sentir-se dor!
O povo costuma dizer "é uma dor de alma" e não está fora da verdade...