sexta-feira, 17 de setembro de 2010

VIAGEM A UM PASSADO RECENTE ...


Ponta Delgada ...
A programada viagem de um grupo de amigos aos Açores, fez-me relembrar os dias que passei naquele arquipélago. Na retina, ficam imagens de uma beleza única. Julgo, que nem sequer consigo estabelecer uma ordem de prioridades, quando saltitei de ilha em ilha, em pequenos aviões das linhas internas, ou numa viagem por mar entre a Ilha do Faial e a Ilha do Pico. A travessia foi atribulada. Sentado em cima dum saco que julgo de batatas, vi o mar galgar a bordo e encharcar-me a roupa. Após muita apreensão, lá chegámos ao porto. Depois, já no singelo hotel, era obrigatório recordar Nemésio e o seu conhecido livro “Mau Tempo no Canal”. A Ilha do Pico, parece que parou no Tempo. Os dias rolam numa pacatez angustiante, enquanto vamos deambulando por entre muros de pedra negra e vinhedo. As pessoas são de uma simpatia e candura quase comoventes. Recordo aqui o Museu evocativo da pesca da baleia, e da bravura de todos aqueles que, arriscando a vida por um naco de pão para si e para os seus, enfrentavam o mar e os cetáceos, por vezes em viagens sem regresso. Quando o avião levanta voo do pequeno e modesto aeroporto – hoje ampliado e remodelado - não deixa o forasteiro de sentir uma estranha comoção, ao bordejar o Pico vulcânico, afinal o cartão – de - visita da Ilha. Recuando um pouco na narrativa, de novo me fixo no Faial. E aqui, recordar o “Café do Peter’s”, poiso de marinheiros. De pele tisnada, fitas no cabelo, tatuagens nos braços e brincos ou argolas nas orelhas, os homens do mar vão bebendo por entre gargalhadas e algazarra. Em contraste, relembro o silêncio sinistro do vulcão dos “Capelinhos”. Descendo uma pequena encosta, avistamos o farol. São visíveis – bem visíveis – as feridas que o vulcão provocou, no dia em que milhares de açorianos viram as suas vidas destroçadas pela cinza e pela lava que tudo lhes destruiu. A emigração para as Américas foi a solução. Mas o Farol ficou. Resistiu ao inferno e morreu de pé como os heróis. É agora o bastião que recorda um passado tenebroso.
Bela fachada de igreja ...
Da Ilha Terceira, lanço ferro em Angra do Heroísmo. Lembro a riqueza dos altares em prata das igrejas. A vista deslumbrante do Monte Brasil, um refúgio para a alma, onde apetece estar horas sem fim, em meditativa contemplação. Recordo a simpatia da população, e a vontade latente que nos avassala o espírito de regressar um dia. Termino esta pequena viagem na Ilha de S. Miguel. Um passeio por Ponta Delgadaberço de Antero de Quental - é obrigatório. As ruas estreitas e empedradas, a tipicidade do casario, a bela avenida junto ao mar, conferem à cidade uma beleza assinalável. De destacar, igualmente, a Imagem do Senhor Santo Cristo, que pode ser visitada no Mosteiro da Esperança, e que é também nome das festas da cidade. A religiosidade do povo açoriano é muito acentuada, talvez pelo facto das Ilhas serem muito vulneráveis a cataclismos. Gostaria de sugerir uma passagem pelo Nordeste da Ilha de S. Miguel, com os seus belos jardins e cascatas. Igualmente uma visita demorada à Lagoa das Sete Cidades e Lagoa do Fogo. Muito mais gostaria de vos transmitir daquele conjunto de ilhas. Falar das pequenas capelas apelidadas de “impérios”, ou da magnífica sopa do “Espírito Santo”. Das touradas “à corda” na Praia da Vitória. Da modesta casa onde nasceu a poetisa Natália Correia ou do “cozido das Furnas”. Por aqui me fico, neste minha recordação de um passado ainda recente. Mas ficou a vontade de voltar. De espraiar os olhos por paisagens vindas de um conto de fadas. De novo olhar o Pico mais alto de Portugal, envolto numa densa neblina, o que lhe dá um toque de mistério. Ou do farol dos “capelinhos” e da sua beleza sinistra...
A todos desejo uma óptima viagem. Que seja uma grande jornada de confraternização. E que, no regresso, todos tragam muitos episódios para partilhar.
Quito Pereira

5 comentários:

  1. Ao ler a descrição do Quito relembro as visitas que fiz aos Açores.

    As vivências nunca se repetem e assim por certo, que sem acrescentar muito mais ao aspecto paisagístico, o facto de ser uma Rota das nossas com gente do nosso Bairro,com a excelência dos anfitriões,tudo fará a difereça!

    Até lá, fiquem bem por cá...

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  2. Postagem bem a propósito e com uma deecrição impecável destas terras Açoreanas.
    Jálá tinhamos estdo por duas vezes, mais tempo em Angra do Herísmo e uma semana em Ponta Delgada.
    Também percorremos quase todas as Ilhas- menos Flores e Corvo - revivendo muto do que vimos agora com a tua decrição!
    Vamos pela 3ª vez e com muito gôsto para estar com os nossos amigos da Familia Reis,com um beijinho muito especial para a Mima e para a Paula,um abraço para o marido da Mima que conheci em Cantanhede e Claro um ABRAÇÃO para o LAU!
    Depois contaremos como foi!

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  3. A Terceira não conheço e a tua descrição
    ajuda-me um pouco mais a saber dela do que já sei!

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  4. Excelente descrição dos Açores, um arquipélago de ilhas semeadas e belas, que desperta, em quem o não conhece, o desejo de o visitar.

    Do que conheço dos Açores, ficou em mim a memória, sempre presente, da bela cidade de Angra do Heroismo, Património Mundial pela UNESCO desde 1983.

    Desta bela cidade, recordo entre outras muito mais coisas, o Monte Brasil, que estava ali à minha frente de cada vez que abria a janela do quarto onde estava alojado, e que se destacava com a exuberancia das suas cores que se iam alterando ao sabor das horas do dia.

    Abílio

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