quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

ANIVERSÁRIOS- CARLOS COSTA FREIRE

CARLOS COSTA FREIRE

12-02-1949

Nesta data Especial...

"Encontro de Gerações " deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA - COIMBRA

Olhares sobre a minha cidade 

Quebra colorido

Coimbra Património da Humanidade 

Leopoldo Serra


 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

ANIVERSÁRIOS - VASCO ANTÓNIO CANHÃO ÁGOAS

VASCO ANTÓNIO CANHÃO ÁGOAS

09-02-1945

Nesta data Especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FLICIDADES!

PARABÉNS!


 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

ENCONTRO COM A ARTE- FOTOGRAFIA- COIMBRA


 Olhares sobre a minha cidade 
Perspectivas 
Coimbra Património da Humanidade 
Leopoldo Serra

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

TEXTO DO PROFESSOR ANTONINO-CAMINHEIRO DA BOTA CANSADA-DE QUE FIZ PARTE DRANTE ALGUNS ANOS

 

Apula aí e aprende!

 

Quem caminha sem destino, só pode mesmo sentir prazer em cada passo que dá. E é essa a magia do caminhar. A beleza dos caminhos não está na chegada; está no percurso. É no percurso que as coisas aparecem, que as curvas se desmontam em novas imagens que nos esperam logo ali e que as histórias se desenrolam nas telas da natureza. 

Mas cada história precisa de atores  e cada ator precisa das suas falas, falas essas que desfilam assuntos que vão das tripas de Deus aos gatos que mexem nas panelas, como dizia o castelhano do Auto da Índia.

Foi exatamente num dos caminhos sem destino que nos achámos em Vale Longo do Côa, hoje Valongo, e noutros tempos também conhecidos como “Tamanquinhos”,  numa terra de moleiros. 

O ligeiro cansaço começava a fazer-se sentir quando decidimos entrar e abancar no café/tasca da Associação Cultural da aldeia. À falta de necessidade de café, propuseram um Favaios fresquinho..Não que a sede fosse muita, mas ainda não tínhamos almoçado. Havia uma só mesa longa, onde toda a gente se sentava e quem senta à mesma mesa é amigo e não há outra maneira de dizer as coisas.

- Então, o que andam a fazer? A caminhar?

- Sim, viemos dar uma volta e ver a ponte de Sequeiros. Muito bonita.

- Ai é. Sabe que foi por ela que os franceses passaram e deram cabo aí de tudo. Mas o povo  recolheu-se aqui debaixo de uns barrocos e coube lá toda a gente. Depois de os franceses se terem ido embora, a última pessoa a sair chamava-se Maria e disseram-lhe de fora:  “Anda Maria que já só há um!” Então ficou conhecida aquela gruta como Lapa de Maria.  Os de fora pensam que é uma coisa religiosa, mas não é nada disso.

Metia conversa como se nos conhecêssemos há anos. Tinha nos olhos a cor de cada ano vivido e o sorriso era franco. Confessou a alcunha dos habitantes, conhecidos por “tamanquinhos”, pois noutros tempo faziam-se na aldeia as solas dos tamancos e das socas, a partir dos paus de amieiro, abundantes nas margens do Côa. Lembrei-me de quando usava também os tamancos comprados na feira de Lamego e das estratégias que o meu pai usava para lhes dar mais vida. Para que durassem nos pés da canalhada, pregava-lhes uns pneus por baixo e à frente punha umas testeiras feitas de lata recortada de embalagens de azeite, fixadas por brochas arredondadas. Mesmo assim, usar uns tamancos  tão catitas não era muito confortável e não nos deixavam jogar à bola, porque uma canelada com socas ou uma trivela com as testeiras perfurantes eram sempre de evitar. 

Outra cara resolveu ensinar-nos palavras que só ali se usam. Com gestos e explicações detalhadas falaram-nos do verbo “apular”, apanhar um objeto que vai pelo ar; falaram-nos de ir tomar banho em “pelo” e da diferença subtil entre “pulo” e “salto”. Explicou ainda por que razão esta terra era conhecida por terra de moleiros, evidências que se estendem pela margem esquerda do rio, uma miríade de moinhos de construção que nunca tinha visto. 

Mais adiante entrou um casal que também se sentou à mesa. Vivem em Penamacor, mas vêm à aldeia no fim-de-semana. Também conversaram como se fôssemos família. Ao sabermos que éramos de Lamego, mas a viver em Coimbra, debitaram os segredos de casa, dos familiares que já trabalharam por lá e do filho que hoje vive na Polónia, mas que tirara o curso de Economia em Coimbra. Nunca tinham visto nem ouvido que tanto se jantasse na cidade do Mondego. Pois eram jantares de curso, jantares do carro, jantares disto e daquilo… enfim, um abuso de jantares. Mas achavam piada. Lembrei-os de que daqui a quinze dias seria a festa de Aranhas e acharam estranho que soubéssemos dela. Explicámos que costumámos ir lá com a Bota  e ficou combinado que nos procurariam no dia.

Precisávamos de continuar a andar e levantámo-nos para irmos pagar a despesa. Quando perguntei quanto era, disseram que já estava pago. Nem valeu a pena reclamar. Não conseguimos saber quem foi, pois tantos olhares se riram.

- Atão a gente ia deixar as visitas pagar? Nem pensem.

Restou-nos agradecer e prometer voltar, porque nos pertence voltar aonde nos tratam bem. É destas curvas do caminho que falava.

Antonino Silva

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

sábado, 1 de fevereiro de 2025

ANIVERSÁRIO -ALFREDO MOREIRINHAS

ALFREDO MOREIRINHAS

01-02-1947

Nesta data Especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

TEXTO DO QUITO PEREIRA

A VALSA DOS PATINADORES ...

Naquele ano e naquele dia de outono, a Mata Nacional do Choupal foi brindada com as primeiras chuvas. Uma chuva miudinha que fazia subir no ar o cheiro da terra molhada e um aroma mais intenso a eucalipto.

Naquele quarto largo de  janelas amplas e paredes brancas, batalhava-se pela vida. A parturiente, cansada, tentava dar à luz a sua criança. Então ele, o pai, preocupado, tomou uma decisão. Subir o Choupal a pé em direção à cidade de Coimbra, na procura de um médico  que assistisse ao nascimento de quem  teimava em não querer sair do ventre de sua mãe.

A arfar, chegou à cidade. E, por indicações de gente solidária com o drama, bateu ao ferrolho de um médico. O clínico,  de cabelo grisalho, ouviu o pedido de socorro. Ficou pensativo, quase relutante em partir. Afinal, naquele fim dos anos quarenta do século passado, a Mata do Choupal era um arrabalde sombrio da cidade. Um talefe nas margens do Mondego e do mundo. Mas decidiu partir, levando ao seu lado num velho Ford, um pai aflito. 

Guiando devagar e aos solavancos, evitando as poças de água do caminho de terra batida e de pontes de madeira que eram pulos entre braços do rio, os dois homens chegaram junto ao cais das angústias. A futura mãe ganhou um ânimo novo, ao ver ali uma luz ao fundo do túnel do seu sofrimento. Em mangas de camisa e tendo como ajudante a Maria José, mulher de baixa estatura e rosto trigueiro, mãe de um pai ancioso, o parto difícil teve um fim feliz. Com a criança de pequeno porte de cabeça para baixo e presa pelos pés, o médico deu-lhe um açoite nas nádegas e o menino chorou num vagido sofrido.

Então o médico, de óculos na ponta do nariz, olhou melhor o nascituro débil e escanzelado e teve a frase proscrita - minha senhora, o seu rapaz não presta para nada. Talvez uma forma dilacerante de expressar o seu desagrado, por ter sido quase coagido a deslocar-se àquela casa plantada no coração da Mata nas margens do Mondego. Com o valor dos seus préstimos no bolso, despediu-se numa saudação soturna,  rodou o Ford de proa virada para a cidade e, de novo evitando as poças de água, aos solavancos partiu.

Num alguidar com água morna, a Maria José lavou com cuidado e desvelo o seu pequeno neto. Depois, aconchegou-o na cama junto de uma mãe depauperada do esforço de horas heroicas. A criança foi deitando corpo com o leite da vaca que o Vale todos os dias trazia numa pequena vasilha de alumínio, já que o leite materno tinha secado dos seios exauridos daquela mãe-coragem. Batia à porta de mansinho e, de boné na mão num sinal de respeito e cortesia, saudava a Maria José que, junto à lareira, o pequenito enrolado num cobertor no seu berço de madeira ­- feito na carpintaria da Mata com os materiais recolhidos nas margens do Choupal e  oferecido pelos seus trabalhadores - mexia com uma colher de pau o café que borbulhava nas brasa da lareira num aroma enleante e divino. O menino em suave repouso, era filho primogénito da Mata e dos assalariados daquele pulmão de Coimbra, que também o adotavam como seu.

A frase terrível do médico sobre aquele menino, ficou gravada para sempre como um ferro em brasa num coração de mãe. Talvez uma premonição na Ata dos Livros da Vida. Com o amor de mãe, de pai, da Maria  José e do José António - o avô, o menino aprendeu a amar a natureza. E a respeitá-la. E a ouvir, de janelas abertas de par em par e na grafonola de cor verde-escuro, a "Valsa dos Patinadores" que invadia a Mata nos seus acordes, uma obra de Émile Waldteufel tão ao gosto do avô José António, que tinha na música entre choupos, plátanos e eucaliptos, a moldura dourada que lhe adoçava a existência de uma imaculada vida.

Kito Pereira (Contos da cidade)