terça-feira, 31 de janeiro de 2012

NOTÍCIAS DE COIMBRA

TURBO ROTUNDA EM COIMBRA

" São Rotundas onde se canalizam, através de lancis, os veículos numa trajetória muito mais precisa do que a que se utiliza hoje, evitando entrecruzamentos no anel de circulação", diz Ana Bastos, professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Turbo Rotunda em Coimbra no Bolão junto aos campos de treino da Académica - ACADEMIA DOLCE VITA


Enviada por António Rui
Publicado no Semanário Expresso

ANIVERSÁRIO LAU

EDUARDO  JOSÉ ALVES REIS


                     LAU


31-01-1945 / 31-01.2012


67 ANOS


"Encontro de Gerações" deseja


MUITAS FELICIDADES!
PARABÉNS!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

deputados bem dispostos...

Estados D'Alma de Pedro Sarmento

Como é meu costume, sempre que exponho seja Pintura ou Fotografia escrevo sempre um texto um poema sobre o tema/titulo que escolho para a Exposição, quase sempre também dedicado a alguém que muito me inspira..... quer na vida quer nas artes.

Aqui fica a minha partilha dessas palavras que foram lidas sábado passado no Furadouro na abertura da Exposição, digamos que foi um momento bonito e emocionante para mim, para a minha inspiração e para quem nos conhece bem e sabe que efectivamente aquilo que escrevo é aquilo que sinto.

Espero que gostem.
Um abraço
Pedro Sarmento

PS: Por favor clikar no Texto/foto para abrir em grande

Para ver as fotos expostas com qualidade e em tamanho aceitável por favor visitar 

Vou clikar no texto:

“ESTADOS D´ALMA”

Guardo fragmentos, e sabores da vida que nos rodeia
Em magníficas memórias,  e imagens de tantos afectos
Com paixão, um sorriso nos lábios, e o delírio no olhar
E o desejo de nós, do amor, da saudade e do abraço.

Na pele e no desejo, sinto algum do tempo que não temos
A vida que nos anima e nos junta todos os dias mais uma vez
Na alma os sonhos que junto aos teus fiéis pensamentos
Um beijo no espaço entre dois sorrisos e um abraço.

Percorro becos e fragmentos de lugares de ti e de mim
Vejo-te em brisas que aqui e ali de leve me tocam o olhar
Saboreio-te ainda mais cada vez que te penso mais perto de nós
Espreito-te num abraço quente com o coração carregado de emoção

Não tenho nem mágoas, nem medos nem sequer receios inúteis
Apenas o sonho de te reencontrar num luar de Fevereiro
E nele uma estrela brilhante e perdida que te possa oferecer
Com todos os segundos  e todas as imagens da minha existência

Capto nas minhas fotografias a doçura do sossego do teu ombro
Procuro nelas os meus caminhos, os teus passos e a tua calmaria
Também mais uma noite junto de ti e uma velha canção de amor
Tu és a “imagem” a foto da minha vida…o meu estado d´alma

HÁ HORAS DE SORTE!


Nove horas da manhã de quinta-feira, do dia 28 de Dezembro de 1972...
O sol brilhava mas a aragem cortante penetrava pelos agasalhos e enregelava os ossos.

Olha a grande! Quem quer a grande?
Há horas de sorte!
Com as cautelas presas por uma mola à banda do casaco de xadrez velho e desbotado, na cabeça um boné de napa, com pala rija preta e luzidia, encimado por uma placa oval de metal dourado com o número da licença de vendedor de lotaria nacional, e uma coçada mala de cabedal ao tiracolo, o Nicolau palmilhava o “canal”, incansável, para cá e para lá, desde o Largo da Portagem, a Ferreira Borges, a Visconde da Luz, até à Praça 8 de Maio, bradando e apregoando a sorte para os outros. Não se lhe conhecia família. Morava sozinho num quarto alugado na Rua das Padeiras. Havia mais de vinte anos que era cauteleiro, sem nunca ter exercido outra profissão. Chegou a tirar a carta de condução no Zé Pais, ao Calhabé, mas nunca arranjou dinheiro para um carro.
Ao meio-dia daquela quinta-feira ia andar à roda e ele só tinha até às onze horas para entregar à Santa Casa o jogo que não conseguisse vender, onde lhe restituiriam o dinheiro das cautelas devolvidas. Como sempre fazia todas as semanas com o jogo sobrante...
O dia não lhe estava a correr mal. Às onze menos um quarto já só lhe restava meio bilhete para vender. Em frente ao Café d’ A Brasileira, viu aproximar-se um senhor muito bem posto.
Repetiu a cantilena, em voz tronitroante, abanando o meio bilhete à frente dos olhos daquele passante. Via-se que era gente fina, que era endinheirado.
Mas este, indiferente, de olhar vazio e distante, nem pareceu dar pela sua presença.
Mesmo assim, o Nicolau seguiu ao lado dele até ao Café Montanha, insistindo para que lhe ficasse com o meio bilhete.
Era o 33321, o que noves fora dava 3. E três era a conta que Deus fez, asseverava-lhe o Nicolau. Mas o tal senhor, insensível a este e outros argumentos, nem para ele olhou, nem um gesto lhe fez. Tão pouco se dignou, ao menos, dizer-lhe que não com um simples aceno.
Quem cala consente, conjecturava o cauteleiro. O gajo está mortinho para me comprar o jogo. Está a fazer-se caro mas, não tarda nada, vai-me ficar com o meio bilhete, dizia para os seus botões.
Porém, ao vê-lo descer as escadinhas ao lado do Aeminium, resoluto, em direcção à Praça Velha, desistiu. Convenceu-se, finalmente, que o homem não lhe compraria nada.
Olhou para o relógio. Gaita! Já eram onze e cinco! Ainda correu à Santa Casa mas já não lhe puderam aceitar a devolução do meio bilhete.
Ficou com ele, que remédio! Lá se tinha ido o lucro de uma semana de trabalho!
Mas o Nicolau tinha razão. Três, sempre era a conta que Deus fez. A taluda, nesse dia saiu ao número 33321! Nem queria acreditar que tinha ficado rico! Pulava de contente, contava aos clientes habituais que a sorte, depois de anos e anos de vida humilde e sofredora, lhe tinha batido à porta. Deus era justo, afinal! Agora já não passaria mais dificuldades, proclamava ele com um brilho de felicidade nos olhos encovados. A notícia espalhou-se por toda a cidade com a velocidade do rastilho que faz detonar a dinamite.
No dia seguinte, o mesmo senhor muito bem posto, a quem não conseguira vender o jogo na véspera, abordou-o na esplanada do Café Montanha, onde o Nicolau, de perna cruzada, estava refastelado a beber o café matinal, depois de ter ido à Santa Casa para saber quando receberia o prémio e de ter depositado o meio bilhete no Banco, como o tinham aconselhado, prevenindo a sua perda ou furto.
O dito senhor muito bem posto, com um largo sorriso afectuoso e inesperada prosápia, pediu-lhe licença para se sentar, deu-lhe uma palmada nas costas, felicitando-o, e sugeriu-lhe que investisse a fortuna que tinha ganho. Porque barco parado não faz viagem...
Estendeu-lhe a mão e apresentou-se:
- Chamo-me Sebastião Cardoso Viegas. Sou dono da Empresa de Construções Secavi, S.A.R.L.
Conversaram longamente à mesa do café. Quinze dias depois, o Nicolau exibia aos amigos, inchado de vaidade, a escritura que tinha acabado de assinar no cartório notarial da Rua da Sofia. Distribuía cartões de visita com o seu nome e a tarja a dizer “Administrador”. Revelava que agora era o dono e único accionista de uma grande empresa de construção civil. Daquela que o Sr. Viegas lhe vendeu, por se sentir velho e com uma doença incurável, segundo lhe tinha confidenciado muito em segredo. A Secavi, S.A.R.L. tinha uma dúzia de grandes camiões novos, diversa maquinaria pesada, quatro gruas e vários terrenos para construção, espalhados pelos arredores de Coimbra. O Nicolau não se cansava de mostrar, orgulhoso, toda essa riqueza aos seus amigos, levando-os a visitar, a bordo do seu Mercedes novo, verde escuro, cheio de cromados, o estaleiro do lado de Santa Clara e alguns terrenos na Portela, no Tovim, na Adémia e na Pedrulha.

Um ano e meio passado, em plena canícula, já depois de lhe terem sido arrestados os bens da firma, executadas as hipotecas, accionados os avales e penhoradas todas as contas da empresa e mesmo as particulares, para pagar impostos em atraso, contribuições em divida à Previdência, mútuos bancários, juros vencidos e avultadas dívidas a fornecedores, o Nicolau, que até aí nem sabia o que significavam muitos daqueles esquisitos palavrões, voltou à Baixa, com o mesmo casaco de xadrez e o mesmo boné, traje que usava sempre, fosse verão ou fosse inverno.

A voz estridente do seu pregão voltava a ecoar pelas paredes dos prédios do “canal”:

Olha a grande! Quem quer a grande?
Há horas de sorte!

Rui Felício

domingo, 29 de janeiro de 2012

Exposição Fotografia



Para quem não tem possibilidades de se deslocar ao Furadouro, embora não seja a mesma coisa aqui fica uma a mostra das fotografias expostas.

Um abraço 

Pedro Sarmento

INTERLÚDIO POÉTICO SOBRE A CRISE!

     As sarnas de barões todos inchados
   Eleitos pela plebe lusitana
   Que agora se encontram instalados
   Fazendo o que lhes dá na real gana
   Nos seus poleiros bem engalanados,
   Mais do que permite a decência humana,
   Olvidam-se do quanto proclamaram
   Em campanhas com que nos enganaram!

 II
   E também as jogadas habilidosas
   Daqueles tais que foram dilatando
   Contas bancárias ignominiosas,
   Do Minho ao Algarve tudo devastando,
   Guardam para si as coisas valiosas?
   Desprezam quem de fome vai chorando!
   Gritando levarei, se tiver arte,
   Esta falta de vergonha a toda a parte!

 III
   Falem da crise grega todo o ano!
   E das aflições que à Europa deram;
   Calem-se aqueles que por engano?
   Votaram no refugo que elegeram!
   Que a mim mete-me nojo o peito ufano
   De crápulas que só enriqueceram
   Com a prática de trafulhice tanta
   Que andarem à solta só me espanta.

 IV
   E vós, ninfas do Coura onde eu nado
   Por quem sempre senti carinho ardente
   Não me deixeis agora abandonado
   E concedei engenho à minha mente,
   De modo a que possa, convosco ao lado,
   Desmascarar de forma eloquente
   Aqueles que já têm no seu gene
   A besta horrível do poder perene!
 


    Luiz Vaz Sem Tostões



enviado por Celeste Maria

sábado, 28 de janeiro de 2012

NOTÍCIAS DE COLMAR

Um LICOR BEIRÃO para a ilha mais próxima do Paraíso




Encontro com ANTOINE !




Há dias em que a amplitude das emoções que vivemos pode provocar danos invisiveis.

Ontem tinha consulta no Hospital com o médico que me tem seguido e que queria novamente fechar-me talvez numa gaiola, bastante admirado de eu ter previsto  pirar-me para Portugal de 23 de Fevereiro a 12 de Março. Confesso que dormi muito mal esta noite. Não conseguia afastar do meu cérebro todas as recomendações e apreensões recebidas.
Hoje, voltei de novo ao Hospital de manhã. Tinha consulta marcada com o cirurgião. Uma Romena, roda 24, tão speed como o Speedy Gonzalez. Mas eficaz e senhora do seu...bisturi!
Contei-lhe que andava "feeling blue" (um pouco em baixo)desde esse encontro da véspera com o seu colega (que não é cirurgião mas excelente médico) e que não percebia lá muito bem essa sua atitude.
"Monsieur DE OLIVEIRA (já lhe disse várias vezes para me retirar o DE, mas na Roménia este prefixo deve estar ainda muito ligado à aristocracia, pois aqui já não o é, desde que a Linda DE SOUSA atravessou a fronteira com uma mala de cartão)acho que o meu colega exagerou um pouquinho. Pode ir à vontade, visitar o seu Pais e no regresso continuamos com os tratamentos!! Esteja descansado!

Ouff!Apeteceu-me beijá-la quando ouvi aquela frase mas tive medo que ela me pusesse alguma máscara de clorofórmio para me anestesiar.Sabe-se lá? Também poderia apreciar. Aliás é uma das caracteristicas do "French Kiss". As reacções são sempre muito estranhas.Mas, num hospital, a "coisa" era capaz de virar caldeirada!

Claro que, neste preciso momento, muitos de vos já estão a pensar, "mas o que é que o Bobbyzé tem"? E até talvez já a impingirem-me doenças alarmantes, que não tenho.
Nada de grave, amigos! Nada que se compare com as "pedradas" que levei. Dir-vos -ei quando ai estiver convosco.

Esta tarde, mais um choque emocional!Daqueles momentos muito especiais que se traduzem por atalhos constantes à nossa adolescência.
Estavamos em 1966. Tinha eu 18 anos. Curtiamos o movimento yé-yé, escutando e dançando no Greco e no Egg ao som da Françoise Hardy, da Sylvie Vartan e até da Sheila. De repente, aparece um  Francês, de cabelos compridos, camisa às flôres e com uma harmonica, entoando "Les elucubrations


"Ma mére m'a dit ANTOINE fais toi couper les cheveux..." Este primeiro verso foi muito aproveitado pelo meu Pai, para contrariar os meus primeiros sinais de rebelia (pacifica) nao admitindo que viéssemos para a mesa com o cabelo excessivamente comprido. The same old story!

ANTOINE et les Problèmes! Quem não se lembra deles?
Há 35 anos, resolveu romper com os seus sucessos no mundo do showbusiness, percorrendo os oceanos do planeta num catamaran chamado "Banana Split", dedicando-se à realização de documentàrios, filmes e livros sobre as mais belas ilhas deste Mundo. Escolha arriscada mas perfeitamente assumida! Sucesso garantido. Todos os canais de TV, ávidos em reportagens deste género, propõem cada vez mais,praias com palmeiras abraçando águas limpidas e quentes das Caraibas. Excelente antidote para esta Crise que nos pretendem colar à pele!

ANTOINE veio hoje a COLMAR apresentar o seu ultimo filme "NOVA CALEDONIA, a ilha mais proxima do Paraiso". Duas sessões com  sala esgotada!Imagens fantásticas desse territorio francês, bem próximo do Paraiso mas a 24h de avião de Colmar!


No final, tive o enorme privilégio de discutir um pouco com ele e lhe oferecer as credenciais habituais sobre o LICOR BEIRÃO!

Expliquei-lhe a receita do CAIPIRÃO. Riu-se porque, inicialmente, ao ver a caixa, pensou que se tratava de Vinho Verde! Credo! Faltavam as lagostas!

Escrevo este artigo ao som do ultimo e excelente trabalho da JACINTA, que a JOANA teve a enorme gentileza de me enviar.Neste ambiente Jazz, nao posso deixar de refletir nestes momentos mágicos que tenho atravessado ao longo da minha vida, indo ao encontro de personagens que marcaram a minha (e a vossa também) adolescência e que surgem assim, dum momento para o outro, no meu caminho!

EVERYDAY I HAVE THE BLUES...Oh!Yeahh!! 





Bobbyzé

PATEIRA DE FERMENTELOS



Em dia de inauguração de exposição, deixo-vos aqui (na minha opinião) duas belas imagem, captadas sábado passado. A primeira pouco depois das 7 da manhã e a segunda por volta das 8 e meia, nas margens da Pateira de Fermentelos.

Tenham um excelente fim de semana, e se puderem apareçam na Praia do Furadouro mais logo para um Porto de Honra e um abraço, e já agora para apreciar 20 Fotos que demonstram os meus "Estados d'Alma". 

CONCERTO SOLIDÁRIO

LUÍSA AMARO e AMIGOS
na BAIRRADA
em CONCERTO SOLIDÁRIO

Não foi Rota, mas o "Encontro de Gerações do BNM" esteve representado no espectáculo da Associação Bairrada Solidária.
LUISA AMARO brilhou com a sua guitarra. Os acordes da guitarra de Coimbra levou-nos para uma viagem pelo Médio Oriente com sons quase irreais, bem acompanhada pelo clarinete baixo do Gonçalo Lopes e a percussão do Victor Rodrigues.
A única mulher a tocar Guitarra Portuguesa é uma querida amiga, uma boa contadora de histórias e uma virtuosa interprete que consegue tirar sons sublimes da sua Guitarra de Coimbra.


Luís Nazaré, Olinda, Teresa L, Daisy, Teresa B,
Luisa Amaro, Alfredo e Nazareth.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

NO RASTO DE CAMILO ...

Foto de São Vaz

Camilo e Maria Moisés ...

É sempre no coração do Outono, que se juntam. Um grupo de amigos, que se uniram num laço de amizade. As vicissitudes da guerra, marcou-os para sempre. O sentimento da partilha, no seu máximo expoente. Fosse por motivos emocionais, pela falta da família, ou pelo simples repartir um pedaço de pão, quando um dia acabou o que apenas havia para comer: esparguete com cubos de marmelada, subtraídos do bornal da ração de combate. Para muitos, esta recordação sombria será descabida. Nem sequer a compreendem. Num mundo cada vez mais competitivo, de viscosa hipocrisia, em que a sociedade se atropela num mundo sem lei, na procura de um qualquer objectivo, parece custar entender as fortes raízes de uma solidariedade cimentada em momentos muito difíceis. Um ribeiro cristalino de afetos.
Perdoem-me a modesta prosa. Nem era aqui que eu queria chegar. Vão perguntar-me - com razão – onde é que Camilo Castelo Branco entra, neste atrevido monólogo. Apontar-me o dedo acusador. Do pobre escrevinhador, que se atreveu a invocar o nome de um dos nossos baluartes da Literatura. Uma heresia. “Quem te manda a ti sapateiro, subir além da chinela” – dirão. Mas hoje, ao recordar estes sete companheiros, que vão esgrimindo floretes contra o Tempo, insistindo em manter este querer como se fosse eterno, lembrei-me do dia em que trilhámos o rasto de Camilo. Foi lá para as bandas de Celorico de Basto. Uma simples ponte suspensa sobre um rio, ligando dois povoados, aguça a curiosidade do viajante. Também por ali passeou Camilo Castelo Branco, ainda a “Ponte de Arame” não existia. No local, lembrar Maria Moisés. Recordar os seus dramas e o seu pranto, quando nas margens das águas revoltas e caudalosas, chorava a sua desdita de criança abandonada à nascença e resgatada de um berço de vime, pelo humilde pescador Francisco Bragadas, num cenário de contornos bíblicos. E, naquele dia triste e cinzento, com o Tâmega adormecido em sereno leito, recordámos o escritor. A homenagem que se impunha, naquele emaranhado de frondosa vegetação, que une as freguesias de Rebordelo e Anóia. No chão, o retalho colorido em tons de verde e castanho da fofa manta - morta. Talvez a pauta onde se inspirou Camilo, no seu romanesco cantar. Uma torrente de sentimentos lúgubres. A fatalidade do Destino cruel. O arrastar das grilhetas de uma vida parda. Uma sofrida sinfonia de Outono.
Q.P.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

NOTÍCIA TRISTE

Faleceu o Senhor JOSÉ DOMINGOS ALVES DOS REIS

DECANO do nosso Bairro.
À sua esposa Dona Paula, seu filho Mário Manuel e nora Maria Isabel,
seus netos Luis Pedro e Carla
"Encontro de Gerações", apresenta sentidos pêsames.

O corpo encontra-se na Capela Mortuária de São José (Torre).
Missa de corpo presente pelas 10 horas de amanhã, seguida do funeral.


        ------------------------------------------------------------------------------------------------
O Senhor REIS era o sócio número 1 do Centro Norton de Matos.
E um dos primeiros colaboradores do Centro de Recreio Popular do Bairro 
Marechal Carmona - hoje CNM.
Pertenceu também ao chamado grupo dos CAMONEANOS!


Foto dos Camoneanos
Em pé da esquerda para a direita: Virgilio Carvalho, Pinto, Armando Ferreira,
Torreira da Silva, Quaresma, Alves, Pinto e Sabino.
Em baixo, no mesmo sentido: Abilio Soares, Daniel Soares, Reis (falecido
ontem) e Pontes.

Algumas referências
Virgilio - Pai do Jó e Lilito
Pinto: Pai da Aninhas Pinto e  Isabel Maria. Uma vive no Porto e outra em Braga
Quaresma: Pai do Tomané e Fernando
Armando Ferreira. Pai do João José advogado, já falecido e de Bélinha
o outro Pinto (mais baixo), pai do Raul Pinto,  e da Maria Cristina, vivia em frente do Armando Ferreira
Sabino: Pai do Carlos Alberto
Daniel Soares: Pai do Topê. Era delegado de propaganda médica
Alves: sogro do Nito, pai da Teresinha e da Manuela Luxo
Pontes: pai do Pedro Pontes, vivia em frente ao Vinhas e trabalhava na baixa na Casa Pontes
Abilio Soares: pai do Abilio e do Zé Eduardo
 Torreira da Silve é o pai do nosso canadiano, do Armando e da Maria Isabel

Colaboração do Quito

ENCONTRO COM A ARTE! -EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA - PEDRO SARMENTO

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PARABÉNS, EUSÉBIO ...

Parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida ...


Ali, naquele lugar, na sua terra - natal, confraternizámos. Mas já lá ia o tempo em que em S. Siro, a quarenta metros da baliza, o Eusébio colocou a bola no chão, afagou-a e olhou para a baliza. O publico riu e desdenhou. Qual pantera, de tronco para a frente e olhos pregados na baliza, Eusébio desferiu um pontapé rasteiro e fulminante, que colou a bola na rede. O estádio ficou gelado e a águia voou alto. Era o Benfica de outras eras.


Eusébio só houve um. Educado, modesto, leal e amigo do seu amigo. Nunca uma falta maldosa para magoar um adversário. Nunca um gesto obsceno para o publico. Nunca uma palavra de mau humor, para quem o interpelava. Nunca o menosprezar de um adversário, por mais fraco que fosse. Nunca a arrogância dos mediocres.


Um abraço, Eusébio. Obrigado.

Quito Pereira

ANIVERSÁRIO DE EUSÉBIO

foto in Jornal A Bola

EUSÉBIO Ferreira da Silva

25-01-1942 / 25-01-2012


           70 ANOS
MUITAS FELICIDADES!


PARABÉNS!


É em Coimbra que os estudantes estrangeiros aprendem a dizer saudade

ESCOLA SÃO BARTOLOMEU!

Aqui está a foto da turma de 1954, da Escola de S.Bartolomeu.Só falta a professora...
TONITO: 2ª fila é o 7º a contar da esquerda!(aliás , vê-se logo que é ele)
Marido da Teresa: 4º sentado a contar da direita ( com as meias bem puxadas a cima!!!) e babete na barguilha!
Manuel Matos: 3ª fila, o primeiro a contar da esquerda

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

REVISTA DE IMPRENSA - AS BEIRAS


Um grupo de antigos alunos que frequentaram a escola de São Bartolomeu, na avenida Fernão de Magalhães ( Baixa de Coimbra), entre os anos de 1953 e 1957, reuniu-se no passado sábado num convívio de confraternização que serviu, também para reviver outos tempos, nomeadamente quando a escola era dividida em classes de rapazes e de raparigas.

Nota: na foto: em cima no lado direito o TONITO e em baixo ao centro  Manuel Matos-Rua Carvalho Araújo-Rua I  e do lado direito o João Rocha.
São os que conheço...

PARA OS QUE GOSTAM DE BILHAR...



enviado por Herménio Rafael

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Isto já é o meu «Jornal do Fundão», carais!

"Para: Paulo Moura
De: Fernando Paulouro (J. Fundão) - fernandopaulouro@jornaldofundao.pt
Assunto: Resposta tardia e penitência

Caro Paulo Moura

Permita que o trate assim. Conheci bem o seu pai e lembro-me bem dele como correspondente e amigo do “Jornal do Fundão”. Era muito jovem, mas já andava pela aventura do JF. Peço-lhe imensa desculpa de só hoje lhe responder. Mas o ano que passou foi atribulado para mim do ponto de vista da saúde (fui submetido a uma intervenção cirúrgica pesada, como dizem na medicina, e etc...) e a sua mensagem de Agosto coincidiu com o meu relativo afastamento do jornal. Mas aqui estou a dizer-lhe que, tendo lido as prosas que me enviou do Quito Pereira, gostei de as ler, não só pela desenvoltura da escrita, mas pela sensibilidade que ela traduz. Os textos cabem no JF e ficarei feliz se os puder publicar. Num tempo em que a escrita se padroniza e tantas vezes fica refém da matriz comercial, é bom ouvir o rumor do mundo através das realidades primordiais...
Fica com o meu e-mail, para si e para o Quito Pereira, que terei seguramente prazer em conhecer. E venham os textos. O da cadeira vazia do carpinteiro, parece-me excelente. Posso publicá-lo?
Um abraço e grato, muito grato, pela sua insistência, que me permitiu a resposta de hoje.
Outro abraço
Fernando Paulouro Neves"

Agora é contigo, Quito!
Contacta o Fernando Paulouro (tens ali em cima o e-mail dele) que eu tenho mais que fazer, mais concretamente apressar-me a renovar a assinatura do nosso JF.
Abre aço!

MILAGRE


Desde os tempos de escola que se consideravam namorados. Mas de facto só o eram de nome, porque jamais tinham trocado um beijo que fosse. Pelas festas do padroeiro São Sebastião, em Agosto, era a única altura do ano em que se encostavam de forma mais próxima no baile do pátio da Junta ao lado da igreja, ao som dos conjuntos então em voga na região de Coimbra.
A Conceição, profunda devota da Virgem Maria, frequentadora assídua da igreja das Torres do Mondego, cumpridora escrupulosa dos santos mandamentos, preservava a sua castidade, senão totalmente nos pensamentos, pelo menos nas obras, fixando o braço estendido contra o ombro do Júlio, que empurrava com firmeza quando o rapaz, ao dançar, parecia querer ultrapassar a fronteira do decoro.  
E mesmo assim, o olhar crítico e atento das velhas da aldeia, impedia-os de irem longe nesse roçagar disfarçado dos corpos ao ritmo da música.
Agora, em finais de Setembro, estavam sentados um ao lado do outro, integrados num rancho de homens e mulheres que se afadigavam na desfolhada do milho ceifado dois meses antes e secado na eira da quinta do Sr. Fachada. A algazarra era enorme quando alguém desfolhava uma espiga vermelha, o milho rei, que se aprestava a dar beijos e abraços aos demais, de forma especial e mais demorada aos respectivos namorados ou namoradas.
Sentados em pequenos bancos num dos cantos da eira estavam o João França e o Ti Zé Carne Assada a tocarem concertina e tambor para animarem a dura labuta do pessoal que, numa azáfama, descamisava as espigas.
Tinha sido o dia escolhido para o Julio e a Conceição anunciarem finalmente o noivado.
Ao Julio pulava-lhe o coração desencontrado no peito arfante, rebrilhavam-lhe os olhos, naquela que era a primeira vez em que falavam já com o assentimento da família dela e por isso com um sabor diferente de antes, quando trocavam palavras só de fugida.
Mas as respostas da rapariga aos convites sussurrados pelo Julio, eram dadas com uma inflexão estranha e entoações herméticas, pouco explícitas que o deixavam desorientado.
Quando chegou o Padre João que vinha abençoar a desfolhada, a Conceição levantou-se, beijou-lhe respeitosamente a mão e pediu-lhe que intercedesse por ela para um milagre.
- Que milagre queres tu Conceição?
- Queria que o Sr. Prior pedisse ao São Sebastião a graça de eu ficar sempre virgem. Antes do casamento, durante o parto se o houver e depois dele, para eu manter a minha castidade até à eternidade.
O Júlio, tornou-se homem e é pai de três filhos. Tantos anos passados, continua a ser muito amigo da Conceição que,  contudo, se mantém imaculadamente virgem.
E solteira…


Rui Felicio

ENCONTRO COM A ARTE! Luis Garção

Ponte Pedro e Inês
Coimbra

Os Meus Momentos a Preto e Branco [MY MOMENTS]-LUIS GARÇÃO NUNES

REVISTA DE IMPRENSA - DIÁRIO DE COIMBRA - LICOR BEIRÃO

domingo, 22 de janeiro de 2012

Quem tem olho para o negócio, quem é, quem é?

NOTÍCIAS DE COLMAR

A Alma do FRANK ZAPPA !
Tinha mesmo que ir visitar a alminha do Mozart do século XX.

Depois da derrota em casa com o berço da nossa Patria, seguida duma má aventura marítima da CONCORDIA do COSTA, onde um cabo marinheiro promovido a Capitao tentou mostrar ao mundo inteiro que nem todos os rochedos fazem parte dos mapas em serviço, esperava-se agora uma vitória redondante contra as areias do Pinhal de Leiria!

Uma catástrofe nunca vem só! Por isso e antes de me pôr nos ares com a EASYJET em direcção ao JAMOR, fui ter com as alminhas do FRANK ZAPPA, que, não esqueçamos, salvou há uns anos atrás a BRIOSA de descida de divisão!

E as notícias não são francamente otimistas! Rafael, se gostas de porrada, mas da séria, então vai a Oliveira de Azemeis, porque aquilo promete mesmo!!! No regresso, podes já   anular caminhetas ou trotinettes pois ainda não será desta que lá iremos!!!

E mais não digo, tal é a raiva que vai dentro de mim !!!!

NB-nas fotos, podem vêr como fui recebido com as côres da Briosa! Nem isso chegou!!








Bobbyzé

  

HORTICULTURA BIOLÓGICA - AUTO CULTIVO URBANO




FELICIDADES PARA O ANDRÉ FERRÃO

INTERLÚDIO PARA UM DOMINGO SERENO - VAMOS AO CIRCO!



Enviado por Zé Afonso

sábado, 21 de janeiro de 2012

NOTÍCIAS DE COLMAR

Janeiro em Badenweiller.





Depois das janeiras no BNM  fomos até à pequena cidade termal de Badenweiller, situada a 50 kms de Colmar. Um burgo muito agradável famoso pelas suas piscinas que contêm àguas milagrosas, excelentes no tratamento de reumatismos. Talvez a ANGELA necessite um dia destes de dar um saltinho até cá!Mas por enquanto, com as taxas de juros incrivelmente baixas na Alemanha, as verdadeiras dores so surgirão muito mais tarde. Estes fulanos têm mesmo uma sorte do caraças! Até a água deles curaria todos os males da Europa!!!!As da nossa CURIA, nem com o LEITÃO mesmo ali ao lado, serviriam aos Portugueses para lhes subtraírem as enxaquecas preconizadas pela TROIKA!!!Para continuarmos a cantar "...levantai hoje de novo..." só uma boa água pé nos salvará!




Bom fim de semana para todos!

bobbyzé

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ENCONTRO COM A ARTE! - EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE MARIA GUIA PIMPÃO

EXPOSIÇÃO DE PINTURA
MARIA GUIA PIMPÃO



BRINCOS DE CEREJA

A MISSÃO ...

O ofício de carpinteiro ...

São pálidas, estas tardes de fim de outono. Ora chovendo, ora mostrando um sol envergonhado, que vai dourando os campos, empapados da água generosa que alimenta os poços ressequidos. Lá em baixo, junto ao pontão do Chão da Vã, a ribeira cristalina vai saltitando entre pedras e pequenas fragas, lambendo as margens da aldeia, como o cão fagueiro que roça o dorso pelas pernas do dono. O seu cantar milenar, é um hino triunfal. O renascer da cor nas hortas, desmaiadas pela canícula. A frescura e o cheiro da terra plena de vigor, que nos apura os sentidos na procura das coisas mais simples e mais essenciais à vida. O tributo de cada chão, sitiado entre muros de pedra granítica, a quem o vai afagando com um arado e lhe revolve as entranhas musculadas.
Mas é um estranho drama este, o da Natureza! Enquanto as pequenas courelas, plenas de vitalidade, cantam louvores à generosidade dos céus, as árvores de folha - caduca vão gemendo o seu fado secular. Debruçam-se sobre a estrada à minha passagem e a aragem gélida que percorre a já sua parca folhagem, é como um lamento ao remar dos dias curtos e cinzentos. O suspirar por uma primavera ainda longínqua, que traga os dias clamorosos de sol e claridade e as noites mornas e cintilantes de estrelas, tudo embrulhado numa fantasia de acordes e de silêncios, nesse palco imenso em que tem a primazia o clamor uníssono do cantar das cigarras.
Mas, é nestas tardes agrestes, que mais sinto a vulnerabilidade da vida. O silêncio convida à meditação. O conseguir destrinçar o essencial, do acessório. De saber que a morte não é irremediável. Apenas o é para nós, os simples mortais. Porque o Tempo – esse – é imortal. Também as courelas, que passam de mão em mão, de geração em geração, reclamam o seu estatuto de imortalidade. Que a cada Árvore sucederá outra Árvore. Mas a cada Homem não sucederá outro Homem. Cada Homem, parte para a vida como para uma corrida de fundo, onde deveria cumprir uma missão. A missão da solidariedade fraterna, de se dignificar pelo trabalho em prol de si próprio e dos outros, nesta curta etapa da existência. Mas somos imperfeitos. Alguns de nós, porém, simples anónimos, também se vão da lei da morte libertando. Pelas suas vidas transparentes de candura, de honestidade e de trabalho, na comunidade em que estavam inseridos.
Meditei nisto ontem, quando fui ao Lar cá da aldeia e vi a cadeira do carpinteiro vazia.
Q.P.

Deus lhe pague!

Elis,sempre!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

MARCHA DO VAPOR "Marcha do Vapor", de Dias Soares (Adaptação à Toada Coimbrã)


(Edição de vídeo de Marinela St. Aubyn) Frias Gonçalves interpreta a "Marcha do


 Vapor", de Dias Soares, numa homenagem à linda Figueira da Foz ...


Enviado por Tó Roxo

BIBLIOTECA "ENCONTRO DE GERAÇÕES"-Contos da Daisy

O PAI BATEU-ME

O pai bateu-me.
A carrinha do colégio parou à porta do meu prédio. O Senhor António disse-me adeus, a sorrir. Gosto do Sr. António.
— A mãezinha está em casa, Sr.ª Eduarda?
A Sr.ª Eduarda aparece à porta da casinha dela, que é casinha de porteira.
— Não a senti sair, menino…
Subi os degraus a dois e dois. A mãe estava em casa!… Ainda bem. Tinha tantas coisas para lhe contar!… A senhora professora, no colégio, falou nela e disse coisas muito bonitas à cerca do que ela escreve… como a mãe é inteligente…
Abri a porta com a chave que a mãe me ofereceu quando eu fiz sete anos. Já era um senhor e já podia entrar em casa, mesmo que não estivesse lá ninguém. Já não precisava de ir para a casinha da Sr.ª Eduarda até a mãe chegar…
— Não batas com a porta, Zé Alexandre!
Só lhe via a cabeça, depois, eram as costas do sofá.
— Desculpe, paizinho…
Cheguei-me a ele e beijei-o na cara. A barba picou-me. E ele nem sequer me olhou.
Corri à cozinha. A mãe não estava lá. Fui ao quarto dos pais. A mãe não estava lá.
— A mãezinha não está?
— Não!
Disse-o secamente, sem desviar os olhos do jornal. Parecia zangado.
— Mas a Sr.ª Eduarda disse…
— Não interessa o que a porteira disse!
Estava zangado. Agora, eu sabia que ele estava zangado.
Sempre agarrado à pasta dos livros, fui para o meu quarto. A mãe não estava. Teria ido fazer alguma compra? Pousei a pasta em cima da cama.
Na salinha, o pai continuava a ler o jornal.
Sentei-me na sua frente, a olhá-lo.
— A mãezinha foi às compras?
— Não sei!
Porque será que o pai me mete medo? Nunca senti este receio da mãe. E, hoje, ele está zangado.
— A mãezinha demorar-se-à muito?
Ele tirou os olhos do jornal e fixou-os em mim. A barba por fazer dava-lhe aspecto de mais velho. Parecia o avô. E via-se bem que não estava contente.
Não me respondeu. Depois de me fixar, voltou a atenção para o diário e ficou assim. E eu ali, solitário. Não sabia que fazer. Mexia-me e remexia-me no "maple" inquieto por nada saber do que acontecera à mãe.
— Pára quieto, Zé Alexandre!
Fiquei na posição em que a frase me surpreendeu. Não tive coragem para mexer nem um dedo da mão. E cansei-me de respiração suspensa. Não podia mais. De mansinho, levantei-me e fui para o meu quarto.
Que teria acontecido? Eu já tinha percebido que a mãe e o pai, nos últimos tempos, discutiam muito. E se se zangaram? E se a mãe se foi embora? Não! A mãe não se ia embora sem mim. Iria? Quem era aquele homem que ia com a mãe no carro, no outro dia, quando eu e o Sr.ª António e os outros meninos, passámos por eles?
— Zé Alexandre!
Corri para a porta do meu quarto e espreitei. O pai tinha pousado o jornal e olhava para mim, muito sério.
— Sim, paizinho…
— Veste o casaco que vamos jantar fora…
O coração deu-me um pulo. Íamos ter com a mãe…
— Vamos ter com a mãezinha?…
— Não fales mais na tua mãe!
Não falar mais na mãe… Não falar mais na mãe… Não falar mais na mãe!
— Mas eu quero a mãezinha!
E o pai bateu-me.
As lágrimas de dor da bofetada, misturaram-se com as lágrimas de saudade da mãe…
E o pai bateu-me.
7 de Janeiro de 1971


Ilustração de Agustín Casillas, Escultor Espanhol de Salamanca, 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O GESTO DE UM CAMPEÃO ...

José Augusto

Este é um episódio simples, de antanho, que vos venho aqui contar. Há, porém, eventos que já nos fogem da memória. Quando já não se consegue explicar, com precisão, as datas em que aconteceram. Mas creio que foi lá pelo início da década de sessenta, do século passado.
Naquela tarde de Domingo, a Académica jogava com o Benfica, no Municipal de Coimbra. Estádio cheio, a rebentar pelas costuras, um tapete verde apelativo e um dia cheio de sol. A cor predominante era a vermelha, no topo Norte e no topo Sul do Estádio. Na bancada nascente, predominava o negro das capas de Coimbra. A entrada da equipa do Benfica em campo, era sempre uma festa. Em passo de corrida e em fila indiana, invadiam o relvado, perante o clamor da claque benfiquista e o garrido das suas bandeiras. Nós, os de Coimbra, olhávamos para aquela manifestação de poder, daquele que era, naquela época, o clube sem rival em Portugal, com prestígio e fama por todo o mundo. Depois entrámos nós, de negro vestidos e losango ao peito. No emblema, a águia era substituída por um telhado e a Torre de uma Universidade vetusta, respeitada na Europa e por todo o universo intelectual. Mas no que toca a esgrimir armas com o nosso opositor daquela tarde, pressentia-se que a festa seria encarnada. Mas não foi. A Briosa, tinha igualmente uma equipa em que se perfilavam dos melhores jogadores do País e três tiros certeiros na águia contra apenas um dos de Lisboa, pôs em delírio as hostes academistas. Crispim, marcou o terceiro, na baliza do lado norte, e cá fora foi levado em ombros pela claque. Horas depois do jogo, ainda se bebia cerveja, na escadaria da Sé Velha.
Eu era ainda um imberbe menino. Recordo a longa fila de trânsito, no fim do jogo. Nessa tarde, fui para Eiras, onde viviam os meus avós. Ao volante do carro, o meu tio Luís Pereira, benfiquista assumido, compunha nervosamente os óculos na cara e não dizia uma palavra.
Nessa noite, fui com a família despedir-me do meu tio Ernesto, que ia para Lisboa. Delirante e levado pelo meu pai, entrei na Estação Velha de bandeira da Briosa desfraldada. Para surpresa minha e nossa, à espera do “Rápido”, estava a equipa do Benfica. Silenciosos, com pequenas malas na mão, os jogadores aguardavam a chegada do comboio. Alguns futebolistas, olhavam para mim e sorriam. E então deu-se o inesperado. José Augusto, “ponta – direita” do clube da Luz, pousou a mala no chão, dirigiu-se a mim com um largo sorriso e deu-me um beijo.
Nunca mais esqueci aquele episódio. Da verdadeira estatura cívica de um grande atleta, rendido ao amor de uma criança pela sua Associação Académica.
Por vezes, vejo o José Augusto na televisão. O cabelo embranqueceu e jamais se lembrará deste episódio. Mas o sorriso é o mesmo. O glorioso sorriso do seu amado e Glorioso Benfica.
Q.P.

Coimbra TURVA

Os sacanas sacaram as canas todas.
Está tudo turvo.
Vou tentar dar a volta ao assunto.
Como sair desta situação não sei.
Quando resolver o assunto, eu apito.
Tonito.

A FIDALGA DA PORTELA

Rio Mondego junto à Portela

Desconhecia-se-lhe a genealogia, mas o seu porte altivo, raiando às vezes a sobranceria, fazia com que os camponeses se desbarretassem e se curvassem à sua passagem, cumprimentando-a reverentemente  e apelidando-a de Senhora Fidalga.
Depois de lhe terem morrido os pais em anos sucessivos, vivia sozinha no enorme casarão apalaçado, fronteiro ao Mondego, antes de se chegar à Portela, rodeado pela quinta cheia de pomares, bungavilias, madressilvas  e um extenso vinhedo. Solteira, com quarenta anos feitos há pouco, nunca constou que se tivesse enleado nos amores de algum namorado ou amante.
Caminhou pelo corredor, atravessou o salão de jantar, aproximou-se da gaiola pendurada junto a uma janela, meteu a mão pela frincha da grade entreaberta e pegou no minúsculo canário que afagou docemente. Repetindo uma rotina diária, falou com ele, chamou-lhe meu bijou, enfiou-o entre os seios e foi até ao varandim, ainda lambido pelos derradeiros raios de sol do crepúsculo.
Chamou o capataz que, por baixo, alinhava as ferramentas agrícolas que o pessoal lhe vinha entregando no dealbar de mais um dia de labuta no campo.
- Faça Vossa Senhoria o favor de dizer, Senhora Fidalga, respondeu o Francisco olhando para cima.
A atitude submissa do Francisco contrastava com o seu corpo possante, entroncado, musculoso, de homem jovem de trinta e poucos anos, bem parecido, o rosto tisnado pelo sol, cabelo negro de azeviche, nascido e criado na quinta onde também já tinham servido os seus pais enquanto foram vivos.
- Vem cá acima e traz uma mão cheia de aveia para dares de comer ao canário.
Passado um bocado, o Francisco bateu à porta da sala pedindo licença para entrar, trazendo na mão fechada a comida para o pássaro. Dirigiu-se à gaiola e, admirado, viu que estava vazia.
A fidalga, de olhos mortiços como ele nunca antes tinha visto, meio deitada no longo sofá, deslizou devagar a alva mão pelo veludo vermelho e macio do cadeirão e, em voz cava, disse ao Francisco:
- Anda cá, homem! O bijou está aqui!
Atónito, o Francisco viu-a abrir o generoso decote, entrevendo lá dentro as penas amareladas do pássaro que se espanejava, irrequieto, entre as fartas carnes da Senhora Fidalga.
- Estás à espera de quê, homem? Vá, traz cá a comida depressa, que o meu bijou está esfomeado.

Desde então, os camponeses que trabalhavam na quinta comentavam entre eles, à boca pequena:
- O raio do canário anda gordo! Pudera! O Sr. Francisco dá-lhe de comer várias vezes ao dia…

Rui Felício