terça-feira, 17 de janeiro de 2012

BIBLIOTECA "ENCONTRO DE GERAÇÕES" LIVRO RITMO DA RUA - ÚLTIMA PARTE



           UM OLHAR  SOBRE O BAIRRO 


                    NORTON DE MATOS

       POR UM ESTUDANTE BRASILEIRO




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                                                             CODA
   Eis meu projeto para compreender o Norton de Matos: caminharia pelo bairro, sentiria seu ritmo. Aos poucos, abordaria as pessoas, faria perguntas. Juntando o que recolhesse comporia um todo – que eu admitia e até desejava fragmentado. Tinha a consciência de que não me seria dado recompor em texto a complexidade de um bairro. Por isso, mergulhei no pequeno.
   Parecia-me difícil pensar em representatividade; complicado imaginar que, selecionando um grupo de pessoas, daria conta de transmitir o espírito do bairro. Como sua essência não se deixasse apreender de maneira objetiva, renunciar a essa pretensão pareceu-me honesto.

   Em um livro chamado L´Infra-ordinaire, o escritor francês Georges Perec propõe uma nova maneira de olharmos para as coisas. Estamos acostumados, ele revela, à ideia de que a vida se deva mostrar sempre espetacularmente. Ficamos atentos ao extraordinário, quando estaria no infraordinário a verdadeira amostra daquilo que somos. Sugere, então, que, em busca de nossa verdade, tratemos de indagar o tijolo, o cimento, os utensílios, as ferramentas, os ritmos: tudo aquilo que nos havia deixado de surpreender.
   É a reivindicação de um olhar virgem, capaz não exatamente de tornar deslumbrante o cotidiano, mas de se alumbrar diante dele sem alterar sua condição. Um olhar que produza algo semelhante à “metafísica dos postes e das azaleias” propostas por Lourenço Diaféria ao falar da crónica.

   Assim conduzi minha aproximação ao bairro. Ao olhar atento juntei a entrevista e o compromisso com a realidade. Optei pela trama episódica – seria o caso dizer rapsódia? – para reproduzir na estrutura do livro a inviabilidade de se compreender um bairro de maneira única. Coloquei-me disponível a tudo que suas ruas me quisessem dizer.
   Não esqueço que O ritmo da rua seja um retrato definitivo. Imagino-o, sim, como um registro de episódios que talvez os próprios moradores, presos ao passado ou ao cotidiano, eventualmente deixem de notar. E é a eles que dirijo meus agradecimentos: seja aos entrevistados, que elevei ao posto de regentes, seja à orquestra anônima que dita, sem saber, o ritmo do  bairro Norton de Matos.

Coimbra/Campinas
abril-outubro de 2011



Nota ADM: o livro é muito mais do que aqui se transcreve.
É um excelente contributo para a história do nosso Bairro!
Obrigado amigo DANIEL SERRANO
Esperamos sua companhia em nova oportunidade!
Um abraço, meu e de todos os amigos com quem privou, aqui no BAIRRO!

14 comentários:

  1. De facto, a Voz do Calhabé, enquanto não se extinguiu, acompanhou a "carreira" do Bairro desde a sua origem.
    Parabéns ao autor pelo trabalho publicado. Algumas imprecisões não lhe retiram mérito.
    PM

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    1. Pedro Martins é sempre agradável uma apreciação ao livro.
      O nosso amigo Daniel Serrano, mesmo com uma outra imprecisão, deixou-nos mais um testemunho sobre a história do nosso Bairro, que enriquece a Biblioteca do Centro Norton de Matos!
      O livro começou agora a circular entre os amigos interessados.
      Neste momento está na posse do Carlos Viana.
      Quando se encontrar disponivel, comunico-te para o poderes ler.Tenho a certeza que vais apreciar, pois tudo o que diz respeito ao Calhabé e ao Bairro te interessa.

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  2. "tratemos de indagar o tijolo, o cimento, os utensílios, as ferramentas, os ritmos: tudo aquilo que nos havia deixado de surpreender"
    Apetece-me sublinhar esta frase, que bem ilustra o espírito do livro (cuja leitura dos excertos publicados tenho acompanhado com interesse) e que acho ser também o espírito que emana deste tecido iniciado em 2008, nunca sujeito a padrões mas sempre em construção aberta, que no fundo é o tecido de vidas simples, mas intensas e apaixonadas.
    Quanto ao livro, não seria possível comprá-lo por encomenda ao autor? O pessoal inscrevia-se, como p/ a caminheta, PAGAVA, e o Rafael (quem mais?...) mandava vir.

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    1. Ao autor e a mim próprio é gratificante ler opiniões sobre o livro!
      Assim sendo o meu abraço e agradecimento.
      A emissão foi apenas de 25 livros, segundo me comunicou o seu autor Daniel Serrano.
      Não faço ideia como será fazer uma 2ª edição, para a qual se abriria uma inscrição.
      Todavia o autor diz ser possivel enviar em PDF, o que já fez para o Tonito Dias. Os dados estão em comentário logo na 1ª postagem.
      Se necessário eu copio para aqui para um próximo comentário.
      Um abraço.

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    2. Caros amigos do bairro,

      É com satisfação que, visitando o blog depois da comilança e excessos de final de ano, noto que “O ritmo da rua” conquistou espaço – e não pequeno! – nesta página. Fico honrado, realmente.

      Como devem ter imaginado, enviei pouquíssimas cópias em papel do livro porque imprimi pouquíssimos exemplares. Os que foram parar em Coimbra, espero que rodem e rodem por muitas mãos, que reconhecimento maior não haverá que o de notar que o povo do bairro, matéria do livro, está também a lê-lo.

      Quero também me colocar à disposição para enviar, por e-mail, a quem quer que tenha interesse, uma cópia digital do livro em formato *pdf. Não é tão agradável quanto ler no papel, mas aplaca a curiosidade. Basta que escrevam para dbmserrano@gmail.com, e-mail pelo qual terei também o maior prazer em receber suas impressões sobre “O ritmo da rua”.

      Um forte abraço a todos, com agradecimentos reiterados e sinceros! E ótimo 2012!

      Daniel

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    3. Para solicitar PDF:

      dbmserrano@gmail.com,

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    4. Obrigado pela indicação, de que não me tinha apercebido na primeira publicação. Já enviei mail ao autor.
      Abraço,

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    5. Lino Zé...também te ía disponibilizar o livro!

      Tenho a certeza que vais apreciar!

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  3. Já me chegou " o ritmo da rua ", a vivo e a duas cores, pela mão amiga e corajosa do Fernando Rafael que, mesmo correndo o risco de apanhar com os restos do vírus gripal, fez questão de o fazer chegar até ao prédio amaricano.
    Está lido e amanhã será devolvido para que outros possam aproveitar este excelente trabalho de Daniel Serrano.

    "relatos jornalísticos sobre um bairro de Coimbra", é assim que é sub-titulado pelo autor. E bem! Pode-se dizer que estamos perante uma grande reportagem jornalística, cuidadosamente assente em testemunhos reais e diversificados. A recolha de informação é feita com base do que ao repórter é transmitido e, assim sendo, a este nada mais lhe resta do que cumprir a sua missão: transmitir com rigor as informações recolhidas.
    Aliás, com absoluta consciência da diversidade das fontes de recolha, ele própria se interroga e nos interroga, logo na abertura do livro:
    "Uma comunidade é algo vivo. Seus limites são tão fluidos quanto a identidade dos seus moradores."... " como um caminhante que, embora não despreze os mapas, encontra prazer também quando se perde. Qual será, no Norton de Matos, o ritmo da rua?".
    E, ao longo de mais de 100 páginas, vai-nos transmitindo de forma clara o ritmo que observou, o pulsar do coração do Bairro que soube sentir. Fez um sério trabalho de investigação, recolhendo dados oficiais e testemunhos de desconhecidos, com o mesmo cuidado e rigor.
    Vale a pena ver como "fecha" o seu trabalho:
    " Não espero que O ritmo da rua seja um retrato definitivo. Imagino-o, sim, como um registro de episódios que talvez os próprios moradores, presos ao passado e ao cotidiano, eventualmente deixem de notar"
    Não, Daniel, não é de facto um retrato definitivo porque esse não existe. Um bairro, mesmo este Bairro, é apenas uma molécula social e, portanto, sempre em mutação...

    Parabéns pelo excelente trabalho.

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    1. Por...,aliás bolas, porque é que te não fui levar o livro há muito mais tempo?
      Isto é o que se chama fazer a apresentação do livro, chamando a atenção para a sua valia como mais um testemunho escrito sobre o nosso Bairro!
      É verdade que esta tua apreciação resulta do faCto de teres lido o livro na íntegra. O que é diferente de apenas se tomar conhecimento de alguns capítulos que publiquei!Embora o que foi publicado dava uma amostra do que seria na totalidade...e que seria para despertar a curiosidade dos leitores, pelo menos de alguns!
      Em nome do Daniel Serrano e do meu toma lá um abraço!

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    2. 012/1/19 Lino Pereira

      "tratemos de indagar o tijolo, o cimento, os utensílios, as ferramentas, os ritmos: tudo aquilo que nos havia deixado de surpreender"
      Apetece-me sublinhar esta frase, que bem ilustra o espírito do livro (cuja leitura dos excertos publicados tenho acompanhado com interesse) e que acho ser também o espírito que emana deste tecido iniciado em 2008, nunca sujeito a padrões mas sempre em construção aberta, que no fundo é o tecido de vidas simples, mas intensas e apaixonadas.
      Quanto ao livro, não seria possível comprá-lo por encomenda ao autor? O pessoal inscrevia-se, como p/ a caminheta, PAGAVA, e o Rafael (quem mais?...) mandava vir.

      Caro Daniel Serrano:

      Tendo publicado, a propósito da última postagem do seu trabalho no blog Encontro de Gerações, o comentário transcrito acima, fui informado pelo Fernando Rafael da possibilidade de ler o seu livro, completo, em pdf.
      Assim, e porque também tenho do BNM as marcas mais impressivas da minha juventude (vivi ali dos 12 aos 38 anos, lá nasceram os meus filhos...) teria muito prazer em poder ter acesso à obra completa,
      Ficarei por isso muito grato e prometo remeter-lhe depois um comentário mais substancial.
      Com os melhores cumprimento

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  4. Caro Rafael:

    No contacto que estabeleci com o Daniel Serrano (conforme transcrição abaixo), e que agora me respondeu enviando o pdf do livro, podes ver que ele me interroga quanto à possibilidade de publicar nova edição em Coimbra.
    Com inteira honestidade lhe respondi que estou muito afastado da vida da cidade, pelo que desconheço quaisquer hipóteses de obter uma solução.
    Como era inevitável, lembrei-me de lhe sugerir a tua pessoa como talvez a mais indicada para estudar a questão, embora tenha agora consciência de que talvez tenha sido abusivo o meu impulso sem te consultar, pelo que peço desculpa.
    Em todo o caso, e já que a asneira está feita, ocorreu-me como potencial interessada a Minerva, até em função da sua localização aí no bairro, assim como a possibilidade de a Junta de Freguesia e/ou a Câmara poderem patrocinar a edição, dado tratar-se de obra com provável interesse patrimonial, e até talvez também algum apoio do próprio CNM.
    Seja qual for o desenvolvimento que isto possa ter, é claro que podes contar com toda a colaboração que eu possa dar, por pequenina que seja.
    Renovando as desculpas pelo meu atrevimento,
    grande abraço,


    ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Lino Pereira
    Data: 26 de Janeiro de 2012 18:55
    Assunto: Re: O Ritmo da Rua
    Para: Daniel Serrano



    Muito obrigado pela sua resposta e disponibilidade.
    Irei ler o seu trabalho com o máximo interesse e partilhar as opiniões que ele me suscitar, certo de que será estimulante para muitas e boas recordações e motivo de animados convívios.
    Quanto à hipótese de uma nova edição, ainda que seja apoiante da ideia terei alguma dificuldade em emitir uma opinião consistente, já que não vivo em Coimbra há 25 anos e não conheço o ambiente editorial. Contudo, acredito que alguns amigos em Coimbra terão entusiasmo e disponibilidade para procurar um caminho, a começar pelo insuperável Fernando Rafael, homem apaixonado, como pode verificar aquando da sua investigação, pelo bairro e pela cidade, e grande conhecedor do meio.
    Não sabendo se alguma vez abordou tal hipótese com ele, sugiro-lhe que o faça, pois é talvez a melhor pessoa para desencadear o processo.
    Desejando-lhe os maiores êxitos e disposto à colaboração com o que estiver ao meu alcance, renovo os meus agradecimentos e envio-lhe um grande abraço.



    No dia 26 de Janeiro de 2012 17:56, Daniel Serrano escreveu:

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    1. No dia 26 de Janeiro de 2012 17:56, Daniel Serrano escreveu:


      Caro Lino,


      Em primeiro lugar, desculpe-me pela demora para responder. Andava fora da minha cidade, sem acesso à net, e apenas hoje retornei.


      E com grande alegria leio seu comentário no blog: agrada-me imensamente que o povo do Norton de Matos esteja tomando contato com o livro e reconhecendo nele meu trabalho. É muito gratificante. Obrigado pelas palavras!


      Envio logo o arquivo pdf, para que logo possa lê-lo na íntegra. Como disse o Fernando Rafael, a primeira tiragem foi mínima: 25 exemplares que se foram todos (muitos comprometidos com a Universidade pela qual me formei com o trabalho).


      Mas por que não pensar numa segunda leva? Acredita que haveria interesse de alguma editora de Coimbra em publicar o livro?


      Um forte abraço,

      Daniel

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