sábado, 30 de março de 2019

A MONARQUIA EM COIMBRA


 A MONARQUIA EM COIMBRA
 Na Travessa do Ponto e Virgula, empoleirada no píncaro do morro que a natureza plantou entre a Rua Visconde da Luz e a Rua Ferreira Borges, estava a casa apalaçada de mais de vinte divisões onde vivia o Barão do Calhabé, numas exíguas águas furtadas, dono e senhor de extensas herdades entre o Tovim e os Arcos do Jardim. Falecido há mais de dez anos, vivia o Barão, desde então, num completo desassossego porque o seu titulo nobiliárquico e os bens inerentes, só podiam ser transmitidos à filha mais velha que ainda estava por nascer e só depois do seu casamento. A sua irmã mais nova, já casada, a tais pergaminhos não tinha direito por herança, por decreto real do Rei de Portugal que havia de nascer 50 anos depois. Das profundezas da sua tumba, no cemitério da Conchada, mandou proclamar éditos para que se apresentassem candidatos à mão da tal filha mais velha. Apareceu um jovem, falecido há dezenas de anos, apresentando os seus atributos. Era um esqueleto bem conservado, onde balançavam três braços musculosos. Por falta de concorrência, o Barão aceitou de imediato a sua candidatura à mão da filha mais velha que havia de nascer. Ela gostou logo dele, por ter um braço a menos que os quatro das pessoas normais, facto que a libertaria de trabalho quando tivesse que lhe passar as camisas a ferro. Ao invés, o pretendente não vivo, começou a desfazer nela por ser uma mulher já demasiado idosa e ainda não nascida. O casamento não se consumou, a filha mais velha do Barão ainda demorou mais cem anos a nascer e morreu de nova, sempre divorciada, duzentos anos depois. O Barão exigiu ser exumado e mandou que lhe fosse feito um funeral com pompa e circunstância logo que voltasse a nascer. O titulo nobiliárquico caducou, os bens inerentes foram confiscados a favor do bairro da Solum e a designação Calhabé foi substituída por S. José. 
Rui Felício
NB:Não, não estou louco.Vou a caminho

quarta-feira, 27 de março de 2019

terça-feira, 26 de março de 2019

ENCONTRO COM A ARTE - POESIA

Desejo-te TEMPO*

Não te desejo um presente qualquer,
Desejo-te somente aquilo que a maioria não tem.

Desejo-te tempo, para te divertires e para sorrir;
Desejo-te tempo para que os obstáculos sejam sempre superados
E muitos sucessos comemorados.

Desejo-te tempo, para planear e realizar,
Não só para ti, mas também para os outros.

Desejo-te tempo, não para ter pressa e correr,
Desejo-te tempo para te encontrares,
Desejo-te tempo, não só para passar ou vê-lo no relógio,
Desejo-te tempo, para que fiques;
Tempo para te encantares e tempo para confiares em alguém.
Desejo-te tempo para tocares as estrelas,
E tempo para crescer e amadurecer.
Desejo-te tempo para aprender e acertar,
Tempo para recomeçar, se fracassares...

Desejo-te tempo também para poder voltar atrás e perdoar.

Desejo-te tempo, para ter novas esperanças e para amar.

Não faz mais sentido protelar.
Desejo-te tempo para ser feliz.
Para viver cada dia, cada hora como um presente.

Desejo-te tempo, tempo para a vida.

Desejo-te tempo. Tempo. Muito tempo!


José Régio

Enviado/sugerido porJosé Afonso Costa

domingo, 24 de março de 2019

NOTÍCIA TRISTE

FALECEU

JOSÉ DOS SANTOS SIMÕES

O corpo encontra-se em câmara ardente 
hoje domingo dia 24 no Centro Funerário
Nossa Senhora de Lurdes  Capela Páscoa                 a partir das 17H30.
Funeral  realiza-se amanhã dia 25 pelas 14H30
para o cemitério da Conchada

Encontro de Gerações envia sentidas condolências
a toda a Familia








Recordando o amigo ZECA SIMÕES




COIMBRA DE OUTROS TEMPOS IV

   FOTO Nº 1 Eléctrico 5 com o chora-Calhabé
    FOTO Nº 2 Calhabé- Construção da actual igreja de São José, vendo-se ainda a velha igreja
     FOTO Nº 3 Casa do Sal


                    FOTO Nº 4
  Cheia 1983- nas imediações da Praça 8 de Maio.Confuència das ruas da Sofia, Olimpio Nicolau e Visconde da luz-Praça 8 de Maio
FOTO Nº 5 Sousa Bastos
    FOTO Nº 6     Antiga Torre da Santa Cruz-anos 50
 
FOTO Nº 6   O eléctrico 4
 FOTO Nº 7  RIO MONDEGO

FOTO Nº 8  Arco de Almedina-acessso a Quebra Costas
FOTO Nº 9     Arcos do Jardim
FOTO Nª 10    Arnado
FOTO Nª 11   Coimbra- Avenida Navarro
FOTO Nº 12   Bairro Marechal Carmona/Norton de Matos
FOTO Nº 13  Cais no Mondego- Barcas serranas
FOTO Nº 14   Cheias de 2007- Ruas da Baixa
FOTO Nª 15   Estádio Municipal de Coimba- Calhabé-lado esquerdo-igreja de São José

sábado, 23 de março de 2019

RECORDAÇÕES DE CASERNA

O Major Ramires acumulava com a sua qualidade de engenheiro militar a de sócio duma empresa de construção civil. Detestava andar fardado, mas, naquele dia, tinha que se uniformizar por causa de uma cerimónia importante a que ia presidir no quartelao meio dia.
Como de costume, manhã cedo e ainda à paisana, despachou o expediente no escritório e por volta das 11 horas, encafuou-se a custo na exígua casa de banho anexa ao seu gabinete, para trocar de roupa. Em cima da sanita, abriu a maleta onde trazia a farda, despiu a roupa civil e foi-se ataviando com o fardamentoMirou-se no diminuto espelho que pouco mais reflectia do que o seu rosto, fechou o colarinho da camisa esverdeada, ajeitou o nó da gravata verde azeitona, abotoou o blusão, alisou o cabelo à escovinha e pôs a boina castanha.
Saiu a correr, pelas traseiras, meteu-se, apressado, no seu carro estacionado no pátio do escritório e arrancou em direcção ao quartel.
Chegou à parada do quartel às 12 horas em ponto, onde já se encontrava formado o Batalhão, à sua espera. O Capitão, seu interino, ao ver chegar o carro, mandou tocar o clarim para as honras militares ao Major Ramires que, entretanto, saiu da viatura e estugou o passo em direcção à formatura.
Os soldados perfilaram-se em sentido, ergueram as armas ao ombro e entre soluços abafados e depois incontidos, rebentaram em estrepitosas gargalhadas, perante o pasmo do Major, incrédulo por tamanho acto de indisciplina e inusitada falta de aprumo militar.
Foi então que o Major Ramires reparou no que tinha acontecido.
A pressa e o receio de se atrasar para a cerimónia, o raio do espelho do escritório ser tão pequeno que não deu para se ver de corpo inteiro e a sua proverbial distracção, estiveram na origem de se ter apresentado impecavelmente uniformizado apenas da cintura para cima. Dali para baixo, só trazia cuecas brancas de meia perna, sapatos e peúgas.
Estas, afiveladas por uma fina liga elástica à borda das cuecas...
Rui Felício
Publicado em 27-10-2010

sexta-feira, 22 de março de 2019

ANIVERSÁRIO

ROSA MELO PATO

22-03-1929

Nesta data especial....

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!

quarta-feira, 20 de março de 2019

PÁSSAROS DO SUL ...






voo adiado ...

É com um sorriso divertido que vou observando da minha varanda privilegiada na praia de Porto de Mós, em Lagos, da tentativa de um sonhador que pretendia elevar nos céus um parapente. O homem, ainda jovem, tinha umas pernas longilíneas e corria pela areia húmida e dura com a elegância e a leveza de uma ave pernalta. Mais fácil seria lançar-se de uma arriba poucos metros ali ao lado, um abismo de respeito. Assim talvez conseguisse os seus intentos e ficasse pendurado no céu azul, entre um cântico de glória ou uma missa de finados. Olhando e degustando um robalo escalado naquele restaurante encravado na falésia, eu intimamente queria que o jovem conseguisse os seus intentos de iludir os Tratados de Física, o grande sonho do Homem que hoje em grandes jatos comerciais cruza continentes e oceanos. Mas ali era uma questão de honra. Contrariar as Leis da Gravidade de um modo mais ou menos artesanal. Porém, a natureza venceu. Uma nova correria pela praia quase deserta e o parapente a ruir como um baralho de cartas. Foi o fim de uma aventura que nem sequer começou. De joelhos no chão e uma cara de desilusão, o pássaro adiado foi recolhendo todo o panal que trouxe depois debaixo do braço e abandonou o areal. O inverno de um dia de praia simpático e soalheiro no inverno do seu descontentamento. Aquele episódio e aquela tentativa de voar trouxe - me à lembrança tempos antigos. No meu armazém de memórias, com surpresa, recordei o Mestre Florival e da noite em que nos balançámos   mar adentro na sua pequena traineira. Apenas um pequeno rádio nos ligava a terra em décadas já tão distantes. Hoje, não sei se teria capacidade para uma madrugada longa ao relento, de me deitar na ré do barco de mãos cruzadas na nuca e um molho grosso e duro de cordas a servir de travesseiro, a olhar as estrelas e a ouvir o marulhar brando do mar a bater no casco da embarcação. Depois o regresso ao cais, quando o sol já subia ainda tímido a linha do horizonte. A juntar ao barulho ritmado do motor a bater lá no fundo da traineira e como cortejo na cauda do pequeno barco, um bando de gaivotas a piar na rota e na cobiça do pescado de Mestre Florival. Aquele voo falhado de um turista acidental, foi para mim um turbilhão de lembranças e de me recordar o voo plano sereno e elegante das inocentes aves na minha primeira e única experiência num modesto barco de pesca, com direito a guarda de honra das simpáticas gaivotas - os meus pássaros do sul.
QP        

ENCONTRO COM A ARTE. - FOTOGRAFIA

     FOTO de Nuno Sousa

terça-feira, 19 de março de 2019

ENCONTRO COM A ARTE-POESIA

                  OUTRO POEMA SOLIDÁRIO


um riso
um sorriso
um abraço
o que damos de nós           
a cada passo
o enlace de nós 
que se faz laço
da vida minha e tua
com sentido 
                                                           
e quando me perturbo solitário
daquele recebo um sonho florido
de ti algum suspiro solidário
de tantos o saber porque estou vivo

e assim se engalana a minha rua

que reflecte a ilusão de todo um povo
a rua que de minha se faz tua
na esperança de nascer o homem novo

- são rimas que se arrumam

dir-me-ão
mas rimas que se animam
pois então
por elas se recriam novos laços
e não ficarão dores
nem males
sem cura
nem haverá lugares
de desventura
nessa minha rua feita só de abraços.

Jorge Castro
do livro
Outros poemas de Menagem




segunda-feira, 18 de março de 2019

domingo, 17 de março de 2019

ANIVERSÁRIO

JOSÉ ALVIM

17-03-1942

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES


PARABÉNS!

sexta-feira, 15 de março de 2019

AMOR ENCARNADO ...







Do Benfica por decreto ...

Que estranho pensamento o meu, que me leva pelos caminhos do passado. De deambular numa bruma de saudade por terras tão distantes e tão singelas. Freixial do Campo como porto de abrigo das minhas emoções. Recordar as gentes. Lembrar quem tão bem me tratou, numa cordialidade e amizade que não era mascarada. Gostavam de mim e eu gostava deles. Do Calmeiro fica-me uma eterna saudade. Cidadão sem mácula, a honra da palavra dada em mais de um metro e oitenta de altura. No seu estabelecimento de cafetaria, alguns emblemas e calendários alusivos ao seu Sporting de Lisboa. O Francisco Calmeiro era um deslocado no meio da tribo encarnada da aldeia, que venerava o Benfica da capital. Mas nada que alguma vez provocasse a falta de harmonia fraterna entre os seus pacatos habitantes. Numa tarde de verão, sentados à mesa do seu Café e resguardados do calor, ofereci - lhe um pequeno galhardete da Académica de Coimbra. Pesadamente, levantou-se da cadeira. Arrastou os pés grandes e inchados que mal cabiam nas sandálias e, religiosamente, pendurou o presente que lhe acabava de oferecer em local bem visível, junto a um emblema do verde da sua simpatia e do seu contentamento. Depois apertou - me a mão e selámos uma amizade perene. Soube há dias que o Calmeiro partiu para a Grande Viagem. Mas tenho a certeza absoluta que aquele adereço coimbrão que um dia lhe ofereci lá continua na prateleira de uma amizade sólida. Não quero, não quero voltar a Freixial do Campo. Recuso abraçar a Felisbela vestida de negro para o resto de vida a chorar no meu ombro a morte hedionda. Recuso olhar o balcão vazio sem o rosto e o sorriso de um homem de afetos - recuso. Mas não recuso ver os outros. Os tais da tribo encarnada. Recordar o António e o Joaquim. E o João taberneiro. O António e o Joaquim são irmãos. O Joaquim muito falador. O António mais reservado. Porém, era o António quem mais afirmava a sua fé no Benfica. Na sua velha “Peugeot” cinzenta de caixa - aberta, trazia pendurado no espelho retrovisor um enorme galhardete do clube do seu coração, com um grande emblema de uma águia de asas abertas, e em rodapé e a letras douradas a afirmação perentória – O Glorioso.   Também em local estratégico, uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima colada no “tablier” junto ao volante, para que Ela o guardasse de algum acidente na estrada. E assim, balançando entre a devoção ao Santuário de Fátima e o amor pelo Santuário da Luz, o António lá ia caminhando pela vida. No intervalo desses dois bastiões de fé, consertava janelas e persianas e era assim que ganhava o seu sustento. E juntava-lhe alguma agricultura de subsistência, no quintal da sua pequena moradia de janelas airosas. Já o Francisco tinha uma grande empatia comigo. E um dia, para minha surpresa, rematou-me à meia - volta : … o senhor Pereira é boa pessoa, vê-se mesmo que é do Benfica! E eu, colhido de surpresa naquele chavão de que “quem não é do Benfica não é bom chefe de família”, não tive capacidade de lhe dizer que não. De lhe afirmar que a minha cor não tinha cor. Que a minha cor era a ausência de cor. Mas, para não o desiludir, do Benfica fiquei por decreto. Todas as quartas - feiras eu deambulava pelas ruas estreitas e empedradas de Freixial do Campo. No regresso, parava o meu velho carro junto da venda do João taberneiro. O João que arrasta consigo a cegueira desde a nascença. Mas ali estava ao balcão, tratando do seu negócio. Naqueles fins de tarde, oferecia-me um copo de vinho tinto. Dizia-lhe então que preferia vinho branco, enquanto as moscas dançavam num estranho bailado junto da lâmpada mortiça pendurada do teto por um fio encardido e gasto pelo tempo. Então, com gestos estudados, quase mecanicamente, ele trazia a garrafa e enchia-me o copo sem desperdiçar uma gota. Depois falávamos. Apesar da sua costela encarnada, evitava falar de desporto. Ouvia o seu pequeno rádio colocado em cima de uma prateleira em madeira e estava a par de tudo quanto era notícia. Falava da política nacional e internacional. Era um cidadão atento, apesar da sua tragédia negra. Terei sempre por aquele homem humilde um carinho muito especial. E, por vezes, naqueles dias de quarta – feira, o Benfica europeu batia-se para lá da fronteira. Então o Francisco e o António entravam na venda e encaravam comigo e de rajada perguntavam-me se o clube do “nosso” coração ia ganhar. E eu acenava-lhes afirmativamente com a cabeça, resoluto. E eles, que entendiam aquilo como uma profecia quase divina ou se como eu tivesse os dotes mágicos do bruxo da Meimoa, iluminavam o rosto num sorriso de certeza de vitória e brindávamos em mais uma rodada de vinho ao êxito encarnado. E o Francisco dava uma cotovelada no braço do irmão e exclamava em jeito de elogio que me era dirigido: aqui o amigo Pereira é mesmo um grande benfiquista !!!
QP