terça-feira, 31 de janeiro de 2023

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

AVAREZA - TEXTO DE RUI FELÍCIO

AVAREZA

Bateram ao longe, na Torre da Universidade, as doze badaladas da meia noite.Empurrou devagar a porta do palheiro onde dormia, perto da Arregaça, evitando o chiar dos gonzos ferrugentos. 

Escutou atento, quedo, olhar de lince a perscrutar na escuridão. Nem uma palha mexia, nenhum sussurro. Apenas o desconsolado coaxar de um rã solitária, ao longe, quebrava o silêncio da noite.Com mil cautelas, o “Carolíngio” voltou a encostar a porta e saiu, pé ante pé, envolto numa esburacada capa alentejana, a cabeça coberta por um seboso capuz de serapilheira que lhe escondia o rosto.A lua, em quarto minguante, projectava fantasmagóricas sombras dos pinheiros e iriava de luminosas pérolas os charcos formados pelos pingos grossos da chuva que horas antes tinha desabado.

De vez em quando parava, tenso, ouvido à escuta, olho à espreita, o pé direito fincado à frente e a ponta do esquerdo colada à terra, mais atrás. Pronto para o impulso de fuga ao menor sinal...Mas não. Nada! Só os gemidos da folhagem à passagem da brisa que corria, quebravam a quietude.Foi subindo, por entre as urzes, o mato, as silvas e o musgo enlameado que atapetavam a colina do Pinhal de Marrocos.Era perto da mina que estava o seu tesouro, amealhado durante mais de vinte anos de mendicidade na cidade.Hoje, vinha aumentá-lo, enriquecê-lo, juntar-lhe o pecúlio granjeado durante o dia.Como sempre, quedar-se-ia junto dele, apalpando-o, tomando-lhe o peso, com o sigiloso testemunho dos  pinheiros e das nuvens pesadas que emolduravam o ténue luar. 

Muito depois, voltaria a tapar a cova com a pesada pedra que o escondia e regressaria. Guardar as moedas das esmolas que lhe davam, era o único prazer que a vida lhe dera. Nunca desperdiçara um tostão em nada que lhe parecesse supérfluo.Alimentava-se de casqueiros secos, de sopa azedada e de algum resto de carne que lhe davam, vestia-se com roupas que lhe ofereciam. Achava um desperdício, substituir o fétido catre onde dormia desde há anos. Calafetava com lama as frinchas das tábuas do casebre para evitar o frio da aragem e do vento. Sentia-se feliz e, no íntimo, ria-se da vaidosa presunção dos senhores doutores que o esmolavam, dizendo para os seus botões:- o dinheiro que este me dá, faz-lhe mais falta a ele do que a mim..

Levantou a pesada laje que recobria o tesouro, meteu as mãos ávidas de prazer no fundo buraco, vasculhou, rebuscou, mas nada encontrou!Estava vazio! Praguejou, ameaçou em vão, e, por fim, soltou um agonizante grito rouco que o eco da outra margem do Mondego lhe devolveu segundos depois. Alguém descobrira o tesouro e lho roubara...Pelas suas contas, o suficiente para serem compradas duas ou três casas na cidade.Pela primeira vez na vida, recriminou-se por nunca ter tirado proveito daquele dinheiro. Mas era tarde!    

Rui Felicio

 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

ENCONTRO COM A ARTE-FOTOGRAFIA


Fotos de Celeste Maria Rafael e Fernando Rafael nos novos passeis na margem direita do Mondego, depois da consolidação dos paredões do Rio!
COIMBRA MAIS BONITA!



 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

FOGO PRESO-TEXTO DE RUI FELÍCIO

FOGO PRESO

Não falhava!

Todos os anos em Agosto, lá ia eu pernoitar em casa do meu avô na véspera da procissão da Festa das Torres do Mondego. Despertava cedo, no dia seguinte, com o estralejar dos foguetes que ecoava do outro lado do Mondego, nas Carvalhosas, com a algazarra dos cães a ladrar e com o barulho infernal dos bombos dos Zés Pereiras, acompanhados pelos estridentes choros das gaitas de foles.

Naquele ano, a festa ia ser de estalo. O juiz, António Fueiro e os restantes componentes da Irmandade era tudo gente de primeira escolha. Pela primeira vez ia haver fogo de artifício, vindo especialmente de Gondomar, que era longe como um milhão de diabos. E o melhor que se fazia em Portugal, garantia o pirotécnico!

Raios parta o sacana do homem, dizia o regedor, referindo-se ao pirotécnico. Homem duma cana, corroborava o Toino Pataqueiro, enquanto levava à boca mais um tinto morangueiro e besuntava os dedos num naco de toucinho cru. Do fogo de artifício iria emergir no ar uma barca serrana toda engalanada, coisa nunca vista, nem nas Festas da Rainha Santa em Coimbra! Nem mesmo nas da Senhora da Agonia lá no Minho, acrescentava o vendedor do foguetório …

No ano anterior, a festa tinha sido um fiasco. O Ti Zé Carne Assada, que foi o juiz desse ano, só se tinha preocupado em apresentar lucros com a quermesse e com a venda de bilhetes para o baile no recinto da Junta. Ainda por cima, entregou o dinheiro todo ao Padre João, para obras na igreja.

Na taberna do Sr. Almeida, o António Fueiro não se cansava de espalhar a novidade. O coração quase lhe saltava do peito rude quando se imaginava na noite do arraial a ser aclamado pela aldeia.

No rio, lá em baixo, o pirotécnico afadigava-se a montar o fogo preso, em duas barcas serranas ancoradas na correnteza, para o grande festival da noite da festa. Seria dali que os foguetes de lágrimas se desprenderiam, para espanto dos aldeões e dos forasteiros, varrendo com as suas luzes multicores o casario da povoação.

E chegou a hora tão ansiosamente esperada. Toda a gente se acotovelava à beira da estrada de Penacova que atravessa a terra, no pátio da Junta e no adro da igreja. A um sinal do Fueiro, um impaciente cachopo, limpou o ranho à manga da camisa e desatou descalço, em louca correria pela quelha que vai dar ao rio, para avisar o homem dos foguetes que podia começar.

Uma salva de três morteiros assinalou o início. A seguir, a populaça o que viu, foi o Mondego, lá em baixo, iluminar-se de várias cores e uma densa nuvem de fumo elevar-se lentamente em direcção à aldeia.

O impacto dos três primeiros foguetes tinha aberto um buraco no chão meio apodrecido de uma das barcas que se foi afundando lentamente com todo o arsenal pirotécnico a bordo. Os foguetes disparavam para a esquerda, para a direita, mas não para o ar, como bichas de rabiar, incendiando  o fogo preso que estava na outra barca.

Porém, o homem de Gondomar tinha parcialmente razão! Como prometido, uma das barcas serranas boiava nas águas toda engalanada pelas labaredas e por uma estrepitosa e colorida miríade de chispas. Só lhe faltou subir aos ares... 

Rui Felício

 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

ANIVERSÀRIO GUILHERMINA LEÃO

GUILHERMINA LEÃO

18-01-1952

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

ANIVERSÁRIO ROMICAS

MARIA AMÉLIA MARTINS

           ROMICAS

18-01-1959

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDAES!

PARABÉNS
 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

AMOR COM AMOR SE PAGA-TEXTO DE RUI FELÍCIO

AMOR COM AMOR SE PAGA

  

Há muitos dias que o Roberto se instalava no Parque Dr. Manuel Braga com o cavalete e todos os apetrechos de pintura.

Pintava o rio Mondego e a ponte de Santa Clara emoldurados pela folhagem das árvores do jardim.

Travara conhecimento com a Mariana que costumava passear pelo aprazivel espaço ribeirinho quando saía do emprego ao fim da tarde.

Na sexta-feira passada, o marido da Mariana tinha ido a um congresso médico em Praga e estaria por lá durante dez dias. Aliás, a Mariana já estava habituada a estas ausências do marido que, volta e meia, viajava para o estrangeiro em trabalho.

 Perguntou ao pintor se nessa noite ele não queria ir espairecer, beber uns copos e ouvir música com ela numa qualquer discoteca da cidade.

 O Roberto sorriu, pousou os pinceis, arrumou a tela e o cavalete e disse-lhe que sim, que bem precisava de passar umas horas de descontracção.

  Agradecia-lhe o convite, que o enaltecia. Para mais, vindo de uma simpática e bonita mulher como a Mariana, que todos os dias ia apreciar o seu trabalho.

 Divertiram-se muito, felizes, e, alta noite, a Mariana convidou-o para um último copo em sua casa.

Uma coisa levou à outra e deram por si abraçados no sofá a beijarem-se intensamente.

 Aperceberam-se que não tinham preservativos. Nem um nem outro tinha previsto ou imaginado que a noite iria acabar assim.

 Dirigiu-se à secretária do marido, um móvel antigo que ela tinha herdado do seu pai. A gaveta de cima estava sempre fechada à chave. Quantas vezes ela, em miúda, em casa dos pais, tinha aprendido a abri-la com um gancho do cabelo.

  Depois de casada nunca mais o fizera por uma questão de respeito e confiança no Daniel, seu marido.

Mas agora teria que o fazer para ver se, por acaso, ali haveria preservativos.

E havia...

 Misturada com uns óculos antigos, um relógio, um caderno velho, inúmeras esferográficas, um molho de extractos bancários presos com um clip, papeis do seguro da casa, uma caixa de aspirinas,  pilhas gastas, um rolo de fita adesiva , lá estava uma caixa de preservativos encetada mas quase completa. 

 Tirou um e deu-o ao Roberto.

No dia seguinte, a Mariana magicava que se o Daniel desse pela falta de um preservativo e se a questionasse, o que lhe iria responder?

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O Daniel até hoje, nunca fez qualquer alusão ao assunto. Na verdade, se o fizesse, teria que ser ele a explicar à Mariana porque carga de água tinha uma caixa de preservativos escondida na gaveta, se nas relações com a mulher nunca os usavam. 

 Rui Felicio

 

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

ANIVERSÁRIO BRANCA SARMENTO


BRANCA SARMENTO

10-01-1947

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES

PARABÉNS!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

ENCONTRO COM A ARTE-FOTOGRAFIA PRAÇA DE CEUTA-BNM- COIMBRA

PRAÇA DE CEUTA - 1950

(bairro Marechal Carmona/ actual bairro Norton de Matos)

A nossa casa era e é a número 1, à direita  na foto...com a minha mãe à janela. Terminava ( ou começava) aqui o bairro; ainda não tinham construído prédios no lado norte da praça...era uma zona aberta, que dava para uma barreira que tinha um caminho que descia até à linha férrea do combóio da Lousã e logo depois o cruzamento de S. José. Era das principais entradas e saídas do bairro. Num instante  se chegava à paragem do eléctrico número 5 que ia para a Portagem ou no sentido ascendente para os Arcos do Jardim. Também dava jeito para as meninas do liceu feminino (na foto ao fundo).  Esta foto também documenta como eram as casas, as janelas de guilhotina com portadas de madeira, os portões, os pequenos muros com arbustos, os jardins, as praças sem automóveis e relvadas, os bonitos candeeiros de globo.  Todo o bairro era assim...nos primeiros anos. Hoje está irreconhecível.

Por RUI PATO

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

ANIVERSÁRIO -LENA MORGADO

MARIA HELENA  SANTOS BASTOS MORGADO

                  LENA MORGADO

06-01-1950

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS
 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

ANIVERSÀRIO- SÃO VAZ PEREIRA

MARIA DA CONCEIÇÃO DIAS VAZ PEREIRA

02-01-1951

Nesta data especial...

"Encontro de Geraões" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÈNS!