28-02-1946
Nesta data Especial...
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PARABÉNS!
28-02-1946
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28-02-1943
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PARABÉNS!
Envelhecer, porque sim, …mas com sabedoria.
Numa obra clássica, De Senectute, Cícero compôs uma tese magistral sobre a velhice e a sabedoria de envelhecer. Num diálogo aberto de um Catão idoso e os jovens Lélio e Cipião, desenha-se uma bússola para guiar a vivência da juventude e da velhice de modo harmonioso, diluindo aquilo que hoje se chama “conflito de gerações”. Na mesma obra já se afloram as formas inconvenientes de velhice e de juventude, coisas a evitar numa vida feliz.
Mas os tempos são outros. Os avanços médicos e farmacológicos levam-nos muito longe ¬– talvez demasiado longe – e as pirâmides etárias viram-se invertidas no mundo dito mais desenvolvido. Por outro lado, a saúde do corpo não é, frequentemente, acompanhada pela saúde da mente e uma parte da nossa vida pode já não ser um equilíbrio desejável entre corpo e mente. As demências, esquecimentos, perdas de referências são cada vez mais frequentes. Amamos os nossos e queremos tê-los connosco a vida inteira, pais e avós, mas, às vezes, quando os olhamos nos olhos, eles já não estão lá.
Há, felizmente, casos de perfeita harmonia e o ato de envelhecer é um exercício de sabedoria e de testemunho de uma vida cheia. Era esse o caso do João das Quintãs, um velhote dinâmico, de olhos azuis, intensos, tão azuis como o céu que há 92 anos o cobria. Naquele fim de manhã quase corria pela “Tomboreira”, saltando as pedras traiçoeiras que outrora tinham dado nome ao caminho. Entre Moimentinha e o Lar de Arneirós iam uns bons oito quilómetros, feitos a pé, estivesse chuva, estivesse sol.
O que o levava lá era a outra parte de si, a mulher, que, há anos, estava internada no lar. Ela tinha começado por pequenos esquecimentos, perdas de rotinas do quotidiano e acabara, mais tarde, por não reconhecer nada do mundo. Esquecera-se de como se comia ou bebia, de todas as rotinas e, mais triste, de quem era aquele homem que sempre a amara. Para o João das Quintãs, esse fora o grande esquecimento que o prostrara, como num luto, e o levara a pedir à senhora da Casa do Povo para arranjar um lugar no Lar. Por amor, decidira que era melhor que a sua mulher tivesse quem olhasse por ela do que tê-la em casa, em condições menos próprias. Claro que poderia pedir aos filhos, mas como poderiam eles vir todos os dias, da cidade, tratar da mãe?
Todos os dias, depois do almoço, chegava ao lar e ficava sentado com ela, num canto da salinha, pegando-lhe nas mãos e perguntando: “sabes quem sou eu?” Ela respondia da mesma forma, ou seja, nada respondia, permanecendo apática e sem reação. Ele, então, começava a falar-lhe de quando se conheceram, das brincadeiras “zuratas” de infância, quando se punham a azangar as escaleiras da barroca de uma vez só, mergulhando de cabeça no lodo, ficando todos sujos. Muitas vezes, as mães, com um fueiro, faziam-nos correr à sua frente, para lhes meterem juízo na cabeça, mas tinha sido esta loucura cúmplice que os aproximara e se mudara em amor para a vida toda. Ele falava e falava; para ela, nada deveria fazer sentido, não reagia e os olhos continuavam cinzentos e sem brilho.
Então, lá voltava ele à liça, com mais histórias comuns, como quando, depois de casados, tinham decidido ir para a Quinta do Monte, sem quase nada de seu para além de um jerico trôpego, um cobertor surrado e uma muda de cama que cobria a humilde cama, encostada à parede do lagar, para evitar as goteiras de chuva que caiam por toda a casa. E saltava no tempo para o nascimento dos primeiros filhos, as obras na casa, a chegada dos dias bons, a vinda dos netos. Mas ela…nada. Os olhos nada diziam, a boca não esboçava o mínimo trejeito.
Um certo dia, começou, por nada mais ter que conversar, a falar na chuva, do cheiro da terra, do arco-íris e do sabor das maçãs e, então, pareceu que tudo mudava de cor. Ela olhava para ele e sorria… e os olhos brilhavam. Quando ele se calava, tudo voltava ao mesmo.
O João da Quintã percebeu, então, que, se queria tê-la, por breves instantes, junto de si, havia que saber chamá-la. Por essa razão, enquanto descia a “Tomboreira” já ia alinhavando a conversa dessa tarde: iria falar-lhe toda a tarde de cores, aromas e sabores.
Professor Antonino Silva
Setembro 2022
26-02-1948
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MARICOTA
24-02-1948
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23-02-1962
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23-02.-1945
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20-02-1947
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JOYEUX ANNIVERSAIRE!
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15-02-1947
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12-02-1949
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09-02-1945
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SUSTO DE MORTE
A noite caiu, ainda a Ti Amélia Pataqueira, antes de regressar a casa, arrumava a enxada no pequeno casebre de madeira onde guardou os apetrechos com que tinha estado todo o dia a amanhar a horta da pequena leira que possuía, paredes meias com o cemitério das Torres do Mondego.
Correu o ferrolho e deu a volta à enorme chave, que rangeu no buraco da fechadura ferrugenta. De todas as vezes se lhe arrepiava a pele quando ouvia aquele som a cortar o silêncio do local, como se receasse acordar os mortos do outro lado do muro. Encaminhou-se para a azinhaga íngreme de calhau rolado, polido pelos anos, em direcção à aldeia, lá em baixo. Passou em frente ao portão do cemitério, encimado por dois enormes anjos de pedra ali postados como sentinelas e guardiões do campo sagrado onde jaziam aqueles que a morte já tinha levado e que ela bem conhecera em vida.
Benzeu-se, arremedou uma rápida genuflexão, olhou de soslaio as silhuetas das campas que o portão de ferro forjado e a claridade das estrelas deixavam entrever e aprestou-se para começar a descer a ladeira.De súbito estacou, tensa, rígida, as mãos enclavinhadas no cesto de verga onde transportara o farnel, com o coração em cavas, rápidas e violentas batidas. De dentro do cemitério, tinha ouvido um som esfusiante, parecido com o barulho do gasómetro da sua casa, quando lhe chegava o fósforo para o acender.
Virou a cabeça e viu uma luz azulada a subir da campa do Ti Zé França, que falecera há pouco mais de um mês.Desatou a correr pela quelha abaixo, gemendo de medo. Quando olhava para trás, via aquela luz azulada, aquele fantasma que a perseguia.
Já cá em baixo, entrou de rompante na taberna do Zé Brasileiro, onde alguns homens da aldeia jogavam às cartas em redor de uma carcomida mesa de madeira.
Aos olhos apavorados da Ti Amélia, e à sua respiração ofegante, corresponderam os homens da taberna com um pesado e inquisitivo silêncio.
Recobrado o fôlego, tartamudeou que a alma do Zé França vinha atrás dela!
A Ti Amélia Pataqueira nunca tinha ouvido falar de fogos fátuos. Muito menos imaginava que são provocados pelos gases provenientes da decomposição da matéria orgânica que entram em combustão quando em contacto com o oxigénio do ar.
Nem tão pouco sabia que a deslocação do ar que a sua louca correria provocara, arrastara atrás de si a chama dessa combustão.
Rui Felício
----reeditado----
01-02-1947
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