VOLFRAMISTAS
Durante a Segunda Guerra Mundial, entre as necessidades dos nazis para alimentarem a sua máquina de guerra, ocupava lugar de destaque a do volfrâmio para endurecimento das ligas metálicas das armas.
O Estado Novo, disfarçando a sua apregoada neutralidade, à socapa ou por caminhos ínvios, vendia aos alemães a produção das minas da Panasqueira que chegaram a empregar 10 mil mineiros ao serviço da Beral Tin & Wolfram Limited que tinha a concessão estatal.
Contava-me o meu pai, que trabalhara para essa empresa no começo da sua vida profissional, como contabilista, em Sarzedas, anos antes de eu nascer, que muita gente nessa altura enriqueceu. Não propriamente os mineiros, que esses iam subsistindo com salários miseráveis, mas sim os candongueiros que surripiavam minério escapado ao controle da mina e às barragens nas estradas circundantes feitas pela polícia.
Que depois vendiam no mercado negro...Esses novos-ricos, por norma gente de origens modestas e rudes, sem princípios e sem educação, faziam questão de ostentarem a súbita riqueza, aperaltando-se com roupagens de alto preço que adquiriam na Baixa de Coimbra, para com elas alardearem posses e suplantarem o estatuto social que tanto odiavam e invejavam do professor, do médico, do advogado, do lavrador, do oficial do exército ou até mesmo do padre.
Embrulhavam-se em camisas de seda italiana, fatos muito “british” com etiqueta do Pais de Gales, sapatos de pele com polainitos, made in United Kingdom, gabardines com grandes lapelas imitando os SS alemães.Hospedavam-se invariavelmente no Hotel Astória onde se enfrascavam com “champagne bouergois”. Exigiam aos criados do Hotel que lhes trouxessem lagostas de Cabo Verde ou cervejas holandesas, berravam-lhes e exibiam-lhes molhos de notas com que pagariam as iguarias de que o hotel não dispunha.
Usavam bigode à Clark Gable, chapéu de coco à Winston Churchill e bengala encastoada a prata, exibindo-se, prazenteiros, entre a classe universitária que, com não menor pedantismo, vagueava pela Ferreira Borges e pela Visconde da Luz.
Consta que o dono da casa comercial onde entrassem, tinha que aumentar o preço dos artigos, se lhos quisesse vender. Argumentar que vendia barato significava a imediata saída do volframista à procura de quem lhe vendesse mais caro. Para poderem dizer aos amigos, a fortuna que lhes tinha custado esta ou aquela peça.
Como bons profissionais, os comerciantes da cidade rápido aprenderam as manias dos volframistas e começaram a mandar vir etiquetas estrangeiras para substituírem as de origem. Nas camisas de popeline feitas em São Mamede de Infesta, colavam etiquetas de Milão, os fatos da Covilhã passaram a ter etiqueta made in UK, no espumante de Sangalhos colavam rótulos de Bordéus, os sapatos e os chapéus de São João da Madeira ganhavam etiquetas de Cambridge e a prata das bengalas passou a ser substituída por latão dourado.
Era dinheiro fácil, urgia gastá-lo! Ainda os há agora, com outros nomes...
Rui Felício
-----reeditado------
A geração de 40 ouviu falar deles, não presenciámos o basbaque mas alguns eram-nos apontados como "foram". Para quem vivia da trapaça, do risco e da arrogância, bem podia levar a sua esperteza mais longe, apregoando preços de inveja, sem realmente os pagar.
ResponderEliminarTomané