quarta-feira, 6 de setembro de 2023

LÁPIS DE TINTA - TEXTO DE RUI FELÍCIO

 LAPIS DE TINTA

No topo das carteiras da escola existiam dois tinteiros de louça encastrados na madeira e ao lado  uma caneta de aparo junto a cada um deles.

Nas provas de caligrafia, o professor exigia que os alunos escrevessem com aquelas canetas, cujo aparo iam molhando no tinteiro, desenhando no papel de linhas, o texto que iam lendo do quadro preto da sala.

Enquanto nos exercícios de aritmética eram autorizados a  usar lápis e borracha, na caligrafia era obrigatório escreverem a tinta.

Uma descoberta revolucionária apareceu nos anos cinquenta.

Já era possível escrever a tinta sem recurso às canetas de aparo que às vezes esborratavam tudo.

Foi quando apareceu o lápis de tinta.

Tinha o mesmo aspecto dos lápis vulgares mas, quando se humedecia a ponta, escrevia a tinta com se de uma caneta se tratasse.

Não descansei enquanto não tive um desses lápis que eram vendidos na Tabacaria Celeste.

Um luxo e uma vaidade !

Na escola da Rua do Volta Atrás, no primeiro dia que levei o lápis de tinta, não parava de levar o bico à boca para o molhar com a língua, orgulhoso de ser dos primeiros a ter um utensilio daqueles.

Ao intervalo, no recreio, estranhei a risota dos meus colegas.

Ao principio levei isso à conta de inveja.

Só percebi quando o Zé Bento me disse:

- Oh pá, vais ter de lavar a boca. Está tudo azul à volta.

Levei horas para fazer desaparecer a tinta. 

Rui Felicio



5 comentários:

  1. Rua do Volta Atrás, era rua T, mais tarde Rua Chaimite, onde eu morei mesmo em frente á escola

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  2. Não me lembro dessas canetas/lápis. Lembro-me nos finais dos anos 50, das primeiras esferográfica. O meu primo Durval tinha ido com a TUNA aos States e trouxe uma. Nunca gostei delas, ainda hoje não sei escrever com esferográfica.

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  3. Olá... aqui é da Amazônia...câmbio!

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