terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O SENHOR DA SERRA-TEXTO DE RUI FELÍCIO

O SENHOR DA SERRA


Na freguesia de Semide, concelho de Miranda do Corvo, há um antiquíssimo santuário que foi durante séculos destino de peregrinações de todo o País e até de Castela.

Só perdeu protagonismo depois de Fátima quando aqui Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos e que na década de 20 monopolizou os crentes. 

Situa-se num penhasco que domina uma bela paisagem em direcção à Serra da Lousã e, nalguns dias, até à Estrela. 

Era tradição os crentes irem até ao Senhor da Serra durante a noite, acendendo fogueiras para afugentar os lobos e proteger os rebanhos que por ali pastavam até ao anoitecer.

Miranda do Corvo, que obteve foral em 1143 de D. Afonso Henriques, pertencia ao Condado de Coimbra e, como terra de fracos recursos, aproveitava as cabras velhas e já sem utilidade para as abater e comer.

Como eram animais de carne duríssima, tinham que temperá-la de um dia para o outro em grandes tachos de barro que no dia seguinte iam ao forno durante três ou quatro horas.

Os intestinos e miúdos da cabra eram também aproveitados atando-os com linhas em pequenas bolas a que chamaram negalhos.

Miranda do Corvo intitula-se a capital da chanfana contra igual pretensão da vizinha Poiares. 

Certa noite de Lua Cheia, um grupo de malta em dois carros decidiu ir ao Senhor da Serra, levando consigo a empregada de limpeza do Café do Silva que insistiu em que a levássemos connosco.

Chegados ao cimo do proeminente monte do santuário,  saímos, acendemos uma fogueira e espantámo-nos com o que disse a dita empregada:

       - Olha a Lua daqui é igualzinha à de Coimbra!!


Rui Felicio


 

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