A Felisberta tinha tinha cinco filhos pequenos. Um era ainda de colo.
O seu homem, o Armindo, tinha adoecido com as maleitas e havia uma semana que ardia em febre. O Chico da ti Rita já lhe dera injecções de penincelina e até já tinha tomado todas as mèzinhas aconselhadas pela ti Neves, mas cada vez se via a definhar mais e mais .
As vacas tinha-as levado ela ao lameiro, com o mais pequenino embrulhado no xale e o outro pela mão. Os três mais velhinhos (de dois, quatro e seis anos) ficaram sentados numa manta de trapos no balcão, enquanto iam debulhando umas baginas secas, ao desafio, cada um para sua malga a ver quem a enchia primeiro. Assim, estavam entretidos e não faziam barulho ao pai.
Felisbela, foi num pé e voltou noutro.
Quando estava a tapar o portal do lameiro, a te Maurícia acenou-lhe de longe e foi-se acercando para saber notícias do Armindo. Como também tinha ido levar a vaca, fez-lhe carava no regresso. Pegou-lhe no pequenito ao colo e a caminhada foi bem mais rápida.
A Felisberta estava muito consumidinha com a saúde do seu Homem. E o trabalho não se dava feito sem a sua ajuda. Os catraios eram tão novinhos que nem se atrevia a mandá-los sozinhos a fazer qualquer serviço. Mas, naquele dia ia ter que pedir ao seu Toninho, que fosse soltar as vacas de volta.
_ Hoje não é preciso. Eu vou buscar a minha e trago as tuas. - ofereceu-se a Maurícia. _ E olha lá mulher! Não tens o feno por agadanhar?
_ Pois tenho, sim senhora, mas como é que eu posso? Mesmo que arranjasse carava não ia poder arranjar a merenda para todos. Se a minha mãe que Deus tem, cá estivesse! E chorou duas ou três lágrimas teimosas que limpou do lado de dentro da aba do avental.
_ Oh!, mulher, não te consumas mais. Então, logo tu que até grávida ias ajudar a toda a gente, achas que as tuas parceiras e os quintos do teu homem iam deixar o feno a apodrecer!? Deixa comigo.
A ti Maurícia foi passando palavra e num instante arranjou quem fosse gadanhar para o Vale da Cruz, para os "Quintchóis" e para o lameiro das Fontainhas. Num só dia fizeram tudo.
A Felisberta ainda tinha meia dúzia de farinheiras, um "butcho" e duas chouriças de ossos. Também tinha uma enfiada de "baginas" secas que davam para um bom almoço. Com a graça de Deus, dizia ela, tinha queijo curado e queijo fresco feito de véspera.
Para evitar muita mexida à volta do Armindo, foi tudo preparado em casa da ti Maurícia com a ajuda da ti Isabel Augusta.
_ Com amigos assim quem pode ficar doente?! _ dizia o Armindo a chorar como se não fosse um homem.
Só que ele, por mais vontade que tivesse, já não tinha força para saltar da cama tão depressa.
Foi o senhor doutor Esteves que o encaminhou para Lisboa, para ser tratado. Mas estava tão fraco que o Chico do carro o foi levar, porque não aguentaria a camioneta da carreira para a estação do Barracão, quanto mais ir sentado nos bancos de tábua do comboio até Lisboa! E, em boa hora o fez, porque um mês depois já era o Armindo que não passava um só dia sem prestar ajuda a qualquer um dos seus amigos.
Era assim a vida das gentes da minha aldeia que tanto amo!...
Georgina Ferro
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