quinta-feira, 21 de julho de 2022

COIMBRA- FONTE DOA AMORES - TEXTO DE RUI FELÍCIO

A FONTE DOS AMORES

 

Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo o doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito;

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas.


Camões, Os Lusíadas, Canto III

 

A história trágica dos amores de Pedro e Inês de Castro, quase sete séculos depois, continua a povoar o imaginário popular, entrelaçando lenda com factos reais. Não só em Portugal como no mundo inteiro.

William Shakespeare, mais de 250 anos depois, ficcionou e escreveu o drama dos amores de Romeu e Julieta, baseando-se num conto italiano.

Os de Pedro e Inês, porém, são uma realidade histórica, que o povo emoldurou com alguns enredos imaginários, esbatendo a trama política que conduziu ao assassínio e preferindo destacar a ignomínia de D. Afonso, em contraponto ao profundo amor do seu filho pela bela Inês.

A Fonte dos Amores ainda hoje preservada num idílico recanto da Quinta das Lágrimas, na margem esquerda do rio Mondego e a dois passos do antigo Paço de Santa Clara, é visita quase obrigatória do roteiro turístico de quem passa por Coimbra.

Diz a lenda que o tom avermelhado que tinge a água do regato, provém do sangue jorrado do peito de D. Inês após o seu assassinato.

Todos sabemos que essa cor sanguínea é reflectida de uma rara espécie de algas que ali têm subsistido ao longo dos séculos, mas a tragédia, quando junto à fonte nos quedamos e nela meditamos, tolda-nos a razão e preferimos acreditar na lenda.

Arrepia estar naquele local e recordar o caso único da coroação póstuma, perante toda a Corte, daquela que só foi Rainha de Portugal depois de morta.

O romantismo de Coimbra vem de longe...


Rui Felício


 

Sem comentários:

Enviar um comentário