A FONTE DOS AMORES
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Camões, Os Lusíadas, Canto III
A história trágica dos amores de Pedro e Inês de Castro, quase sete séculos depois, continua a povoar o imaginário popular, entrelaçando lenda com factos reais. Não só em Portugal como no mundo inteiro.
William Shakespeare, mais de 250 anos depois, ficcionou e escreveu o drama dos amores de Romeu e Julieta, baseando-se num conto italiano.
Os de Pedro e Inês, porém, são uma realidade histórica, que o povo emoldurou com alguns enredos imaginários, esbatendo a trama política que conduziu ao assassínio e preferindo destacar a ignomínia de D. Afonso, em contraponto ao profundo amor do seu filho pela bela Inês.
A Fonte dos Amores ainda hoje preservada num idílico recanto da Quinta das Lágrimas, na margem esquerda do rio Mondego e a dois passos do antigo Paço de Santa Clara, é visita quase obrigatória do roteiro turístico de quem passa por Coimbra.
Diz a lenda que o tom avermelhado que tinge a água do regato, provém do sangue jorrado do peito de D. Inês após o seu assassinato.
Todos sabemos que essa cor sanguínea é reflectida de uma rara espécie de algas que ali têm subsistido ao longo dos séculos, mas a tragédia, quando junto à fonte nos quedamos e nela meditamos, tolda-nos a razão e preferimos acreditar na lenda.
Arrepia estar naquele local e recordar o caso único da coroação póstuma, perante toda a Corte, daquela que só foi Rainha de Portugal depois de morta.
O romantismo de Coimbra vem de longe...
Rui Felício
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