quarta-feira, 19 de outubro de 2022

IN MEMÓRIAS & INSPIRAÇÕES por José Passeiro

"Alguns dos meus amigos, (não muitos), tinham bicicletas. Eu não tinha, nem sabia andar. Melhor dizendo. A do meu pai, lá estava, pendurada na loja da casa, no mesmo sítio onde a deixou, quando partiu. As rodas estavam uma lástima, e a corrente enferrujada e presa. Era no entanto uma bonita bicicleta, dourada, com chapa de matrícula  branca esmaltada , aplicada no eixo da roda dianteira.
Um dia resolvi que tinha de aprender. Retirei-a a custo do suporte, e mostrei-lhe a luz do dia, pela primeira vez em muitos anos. 
Usando alguma criatividade, pois os tempos eram difíceis, lubrifiquei as partes mecânicas com azeite, e enchi os periclitantes pneus com enchumaços de papel de sacos de cimento, em substituição das câmaras de ar ressequidas e inúteis.
Era pequeno demais para uma bicicleta de roda 28. Fiz algumas tentativas de montar usando um talude como apoio, mas rapidamente percebi que a tarefa de subir e começar de imediato a rolar, era impossível e o chão, cruel, acolheu-me algumas vezes nos seus braços, antes de conseguir mover-me sequer 10 cm. 
Tentei então uma nova forma. Já a tinha visto a ser executada por alguns companheiros. Consistia em colocar a perna direita, por dentro do quadro, e pedalar dessa forma bizarra, mas eficaz. Penso que mesmo o cientista mais galardoado,  teria alguma dificuldade em compreender a forma como nos equilibrávamos sem nos estatelarmos, pedalando desse jeito. O certo é que após alguns trambolhões, consegui fazer os primeiros 30/40 metros, ileso, e sem qualquer ajuda. Olhei para trás, para onde tinha começado, e considerei que esse foi um dos momentos mais felizes da minha vida." in Memórias & Inspirações
Foto partilhada do Facebook sem identificação do autor.

JOSÉ PASSEIRO

 

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