quinta-feira, 16 de março de 2023

TRAGÉDIA EM COIMBRA 1938 POR RUI FELÍCI

TRAGÉDIA EM COIMBRA
Dia gelado de inverno. A água que escorria de patamar em patamar na velha fonte do Jardim da Sereia, tinha solidificado em pontiagudos fusos que lhe davam uma inusitada e fantasmagórica aparência.
Desde o Liceu D. João III, ao longo da mata do jardim, eu e mais uma dúzia de miúdos fomos recolhendo pequenos paus secos com a ideia de fazermos na Praça da República uma fogueira para nos aquecermos. E, principalmente, para nos divertirmos...
Chegados à Praça empilhámos os paus recolhidos e preparámo-nos para acender o monte de lenha.
Chegou-se ao pé de nós um homem de certa idade e aconselhou-nos a não o fazermos. Um de nós ainda lhe disse, com a esperteza saloia dos 15 anos de idade, que ele não era polícia para nos tentar proibir.
- Não é nada disso! – retorquiu o homem!
- Se me ouvirem, perceberão porque é que vos peço para não acenderem o lume!
............................
E contou-nos o que mais de vinte anos antes se tinha passado naquele mesmo local onde nos aprestávamos para fazer a fogueira:
O programa das Festas da Rainha Santa de 1938 integrava um simulacro de incêndio. Para o efeito foi construído no meio da Praça da República um “prédio” de 7 andares em madeira. Distribuídos pelos andares do “prédio”, colocaram 13 figurantes.
Pelas 21,30 horas do dia aprazado, a base do edifício foi regada abundantemente com gasolina, a que, acto continuo, alguém chegou o fogo. O “alarme” foi dado para que os bombeiros acorressem ao local e extinguissem o incêndio. Tal como previsto...
Sucedeu, porém, que as chamas irromperam com uma enorme velocidade e violência, mais do que os promotores do espectáculo tinham calculado.
O edifício foi devorado pelas chamas em poucos minutos. Quando os bombeiros chegaram já alguns dos figurantes tinham morrido carbonizados, enquanto outros se começaram a lançar, com o corpo em chamas, estatelando-se no chão da praça.
Os bombeiros ainda estenderam uma lona na tentativa de atenuarem a queda dos últimos que se atiraram, mas o dispositivo não era suficientemente forte e os corpos que nela embateram acabaram por sucumbir.
Dos 13 figurantes só houve um sobrevivente!
...........................
Um dos mortos era meu irmão – finalizou o homem...
Rui Felicio

 

Sem comentários:

Enviar um comentário