GARRAIADA DA FIGUEIRA
A Comissão Central da Queima das Fitas, dava livre-transito em todas as entradas nas diversas festas da Queima, a quem se inscrevesse para fazer parte do elenco da garraiada da Fig.da Foz.
O Noronha desafiou-me para irmos falar com a Comissão e sabermos o que era preciso fazer.
Lá fomos, o Noronha, o Reis Marques e eu.
Os tipos da Comissão disseram-nos que precisavam de um Cavaleiro, alguns Forcados e um Matador.
O Noronha, filho de um oficial da GNR sabia montar a cavalo pelo que a escolha do Cavaleiro era óbvia.
O Reis Marques forte e espadaúdo seria Forcado.
A mim, embora sem perceber nada de tauromaquia, só restava ser Matador.
No domingo seguinte de manhã teríamos que nos apresentar na Praça de Touros da Figueira.
Assim fizémos. Reparámos que tinham desenhado cartazes que colocaram nas ruas adjacentes à Praça:
- Zé Panhonha cavalgará o Rocinante vindo da Arena de Cádis;
- Marquês Rabejador agarrará pela cornadura a fera bestial;
- El Fininho vindo directamente de Sevilha exibirá belos passes de peito a centímetros do touro.
O El Fininho era eu, claro
Já na Praça, vestiram-me um "traje de luces" cheio de dourados e abaixo dos joelhos umas meias cor de rosa justas às minhas canetas fininhas
Na cabeça, o "montero", chapéu esquisito que os matadores usam.
Na mão, uma capa vermelha para citar o bicho.
E começa a tourada!
O Noronha montando o Rocinante cita o garraio logo que este sai esbaforido da porta dos curros.
Rodeia-o, grita-lhe galopa à sua frente e, por fim, com um gesto largo cede-me a faena, apontando para mim que estava na trincheira.
Pulo por cima das tábuas, atiro o "montero" para a bancada sob uma tonitruante salva de palmas e cito o touro de praça a praça.
Mas…
O animal lá longe não me ligava nenhuma.
Até que finalmente me viu tanto eu berrava para ele investir.
Com a pata raspou a terra, baixou os cornos, urrou e desatou a correr na minha direcção de cabeça baixa.
Quis imitar, como vira na televisão, o Manuel dos Santos, famoso toureiro que obrigava o touro a circular à sua volta sem ele mesmo sair do seu lugar.
Coloquei o capote à minha frente e no último momento afastei-o para o lado direito esperando que o touro seguisse o pano vermelho.
Mas…
Ele baixou a cabeça, enganchou os cornos por baixo das minhas pernas e antes de eu cair, com uma potente marrada fez-me voar por cima da trincheira onde me estatelei.
Fui levado em braços para a enfermaria sob fortes aplausos.
Rui Felício
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