Conto de Natal
A Joaninha levantou-se cedo apesar de estar de férias. Tinha que ir fazer carava à ti Maurícia que estava doente, para a sua filha Ludovina poder ir cuidar dos " vivos" que tinha no curral e na loja: marrano, galinhas, patos, vaca, cabras e até um burrinho que prometeu emprestá-lo para o presépio da aldeia.
Ora, a Joana não pensava noutra coisa senão no presépio e na ida ao musgo com as outras cachopitas. Mas ela gostava tanto da ti Maurícia que até nem se "enfadava" de não ir para a "ramboia" com as suas companheiras.
A ti Maurícia viu-a tão pensativa que a chamou para a sua beira. Puseram o travesseiro a aconchegar as costas e, sentadas lado a lado, pareciam duas crianças pequenas. Elas riam, conversavam e combinavam qualquer coisa em segredo.
Quando a Ludovina subiu com o braçado de lenha para o lume elas calaram-se um poquenino.
_ Ai mãe, devem estar a matutar alguma! Para estarem tão caladinhas!
_ Ó Bina, arranjas um poquenino de barro para a tua mãe fazer um Menino Jesus? _ pediu a Joaninha.
_ Ó filha, não vês que o barro não pode ir para a cama que suja tudo?
_ Mas a ti Maurícia diz que se senta na cadeira de napa que lhe fez o ti Zé Manso e põe uma saca de serapilheira no colo e eu ajudo-a.
_ Pois Baia, e eu depois que me "amanhe" com tudo por fazer! _ ia resmungando ao mesmo tempo que tentava pôr tudo capaz de lhes satisfazer os desejos.
E, assim, a ti Maurícia, que já não saía da cama a não ser para lhe mexerem a enxerga e mudarem os lençóis, passou uma semana inteirinha a levantar-se quase ao lusco-fusco e só se deitava depois da ceia. Das suas mãos saíram as mais lindas imagens do presépio. A Joaninha "pinchava" de alegria e dizia que aquele era o mais lindo presépio que já tinha visto.
E a Ludovina dizia a toda a gente que a Joana era a melhor enfermeira de todas as redondezas. Mesmo sem usar mezinhas conseguia curar todas as maleitas da sua mãe.
No dia de Consoada a Joana olhava as "parceiras", a caminho da igreja, carregadas de cestas de musgo. Foi então que o Eduardo se voltou e lhe veio dar a sua cestinha cheia para ela fazer o seu presépio. Todos os outros amiguinhos vieram trazer-lhe, também, um musgo dos seus, um poucochinho de serradura para desenhar os caminhos e até lhe trouxeram um pedacinho de espelho quebrado para fazer um lago. A Benedita correu e deu-lhe um dos seus três patinhos.
O senhor Padre estava embevecido a olhar para as suas crianças. Então, prontificou-se a fazer com elas o presépio da Joana em casa da ti Maurícia. E foi o presépio mais lindo daquele Natal na nossa aldeia.
Georgina Ferro
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