ESTRELAS CADENTES
Vivi alguns meses na Casa Branca, em Coimbra, numa casa do meu avô paterno, perto da linha do comboio da Lousã, até que os meus pais e eu pudéssemos ir viver para a nova casa do Bairro.
Logo ao lado, havia um grande olival e terrenos de cultivo onde as luzes do Calhabé não chegavam.
Noite quente de verão, céu estrelado onde a inexplicável imensidão do universo fazia as pessoas emudecerem e reflectirem.
Os meus seis anos de idade mais incompreensível tornavam a noção de infinito a que o meu pai às vezes aludia em conversas com a minha mãe e os meus avós.
Disse-nos que naquela noite iria acontecer um belo espectáculo de estrelas cadentes...Ninguém, excepto eu, aceitou o convite que nos fez para sairmos de casa e irmos para o fim do olival esperar pelo tal espectáculo celestial.
O meu pai e eu éramos os sonhadores da família...
Deitados sobre a relva, ambos contemplávamos silenciosos, quietos e maravilhados o céu negro, sem lua, pontilhado por milhões de estrelas. Deixando a mente vaguear sem rumos definidos.O silêncio era apenas entrecortado pelo ligeiro ruído das folhas das árvores à passagem da leve brisa quente que corria.
Finalmente as primeiras estrelas cadentes começaram a riscar o céu.
Entusiasmado, insisti com o meu pai para irmos apanhar uma. Ele sorriu e não querendo desfazer a minha fantasia, acedeu...
Levantámo-nos e o meu pai ficou a observar a minha correria em direcção à orla das árvores. Eu sabia exactamente onde uma delas tinha caído.
Como é enternecedora a fantasia das crianças que perseguem sonhos como se fossem realidades...
O meu pai ao fim de algum tempo, chamou-me para voltar para junto de si, tentando explicar-me que aquelas estrelas se desfazem no ar e não chegam a cair na terra.
Regressei para junto dele. Aproximei-me ofegante, feliz por ter conseguido apanhar uma.
Aquela mesmo que eu tinha visto descer do céu em direcção ás árvores do olival!...
Mostrei-a orgulhoso ao meu pai, brilhante, a luz esverdeada a pulsar na palma da minha mão...
O meu pai não quis estragar a felicidade da minha ilusão.
Só uns dias mais tarde me explicou que aquilo que eu apanhei na relva não era uma estrela cadente.
Era um pirilampo....
Rui Felicio
( Reeditado )