quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

ESTRELAS CADENTE- TEXTO DE RUI FELÍCIO

ESTRELAS CADENTES

Vivi alguns meses na Casa Branca, em Coimbra, numa casa do meu avô paterno, perto da linha do comboio da Lousã, até que os meus pais e eu pudéssemos ir viver para a nova casa do Bairro.

Logo ao lado, havia um grande olival e terrenos de cultivo onde as luzes do Calhabé não chegavam.

Noite quente de verão, céu estrelado onde a inexplicável imensidão do universo fazia as pessoas emudecerem e reflectirem.

Os meus seis anos de idade mais incompreensível tornavam a noção de infinito a que o meu pai às vezes aludia em conversas com a minha mãe e os meus avós.

Disse-nos que naquela noite iria acontecer um belo espectáculo de estrelas cadentes...Ninguém, excepto eu, aceitou o convite que nos fez para sairmos de casa e irmos para o fim do olival esperar pelo tal espectáculo celestial.

 O meu pai e eu éramos os sonhadores da família...

Deitados sobre a relva, ambos contemplávamos silenciosos, quietos e maravilhados o céu negro, sem lua, pontilhado por milhões de estrelas. Deixando a mente vaguear sem rumos definidos.O silêncio era apenas entrecortado pelo ligeiro ruído das folhas das árvores à passagem da leve brisa quente que corria.

Finalmente as primeiras estrelas cadentes começaram a riscar o céu.

Entusiasmado, insisti com o meu pai para irmos apanhar uma. Ele sorriu e não querendo desfazer a minha fantasia, acedeu...

Levantámo-nos e o meu pai ficou a observar a minha correria em direcção à orla das árvores. Eu sabia exactamente onde uma delas tinha caído.

Como é enternecedora a fantasia das crianças que perseguem sonhos como se fossem realidades...

O meu pai ao fim de algum tempo, chamou-me para voltar para junto de si, tentando explicar-me que aquelas estrelas se desfazem no ar e não chegam a cair na terra.

Regressei para junto dele. Aproximei-me ofegante, feliz por ter conseguido apanhar uma.

Aquela mesmo que eu tinha visto descer do céu em direcção ás árvores do olival!...

Mostrei-a orgulhoso ao meu pai, brilhante, a luz esverdeada a pulsar na palma da minha mão...

O meu pai não quis estragar a felicidade da minha ilusão.

Só uns dias mais tarde me explicou que aquilo que eu apanhei na relva não era uma estrela cadente.

Era um pirilampo....

Rui Felicio

( Reeditado )

 

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