Achei tão interessante este artigo de opinião no Diário As Beiras de hoje, que o transcrevo aqui na íntegra:
O Palito Métrico e Correlativa Macarrónea Latino-Portuguesa
Em 1746 é publicado uma das obras mais relevantes para a Praxe Académica – O Palito Métrico. Inicialmente, tratava-se apenas de um folheto de 14 páginas escrito por António Duarte Ferrão, pseudónimo do padre João da Silva Rebello (1710-1790). Este trecho contava as desaventuras do novato (Caloiro) João Fernandes que se dirige a Coimbra para fazer o seu exame de admissão à Universidade. Após uma atribulada viagem até Coimbra em cima de um macho, é “descoberto pela malta” que nele praticam a clássica investida (nome dado à praxe nessa altura). Ao fazer o exame de admissão no dia seguinte chumba e vende a Capa e Batina para pagar viagem. Ao chegar a casa é recebido com enorme festa pela mãe, pai, numerosa família e vizinhos da aldeia que o esperavam. Para todos os efeitos, tinha conseguido passar no exame de admissão e deliciava todos com contos dos seus feitos heróicos e do seu estatuto de Doutor. No entanto, um colega conterrâneo chega e descobre-se a trama...! O pai, furibundo, passa um atestado de pancada ao nosso João Fernandes deixando-o fechado no sótão em lençóis de vinho com a sina de passar o resto da sua vida a guardar cabras.
O sucesso e fama deste folheto inicial foi tanto que levou a que vários outros autores fossem acrescentando trechos e histórias ao longo de quase dois séculos, dando origem a uma vasta obra com o nome final de “O Palito Métrico e Correlativa Macarrónea Latino-Portuguesa”.
Esta composição teve várias edições de diferentes tamanhos, sendo que a maior englobava 36 composições de vários autores, uns anónimos e outros de pseudónimos.
A sua última edição completa é de 1942 (11ª edição). A obra contribui com imenso valor histórico pois fornece um panorama do quotidiano não só da Praxe Académica como também dos costumes da época e da própria cidade de Coimbra num período temporal desde o séc. XVIII até ao fi m do séc. XIX.
Antes da primeira edição do Código de Praxe, o Palito Métrico era considerado como que a ‘bíblia’ pela qual se deviam guiar os trâmites praxísticos, sendo raro o estudante que não soubesse citar de cor trechos diretos da obra.
O nome “Palito Métrico” é uma referência a uma das mais antigas partidas de Coimbra que consistia em colocar um Caloiro a medir algo (um edifício) usando palitos. Teoriza-se que tal prática apareceu devido a uma fábrica de palitos existente no Lorvão. Inicialmente eram as freiras do Mosteiro do Lorvão que faziam os palitos para decoração dos doces conventuais. Para pagar as custas do estudo, alguns Estudantes participavam na manufatura também. Os palitos eram penosamente fabricados à mão, um a um, com uma simples navalha, sendo posteriormente embrulhados em papel. O subtítulo da primeira obra de Duarte Ferrão traz dissimulado este significado:
“Palito Métrico - Lavrado no Lorvão da Pachorra, com a ferramenta da Cachimónia, Embrulhado no título de Calouríada e oferecido aos Regalões do Parnaso no esquipático pires de um poema mestiço”.
É preciso contextualizar também que o termo “métrico”, na poética, implica uma estrutura em verso, ao oposto da prosa. Assim temos que o título espelha que cada verso foi trabalhado à mão (como um palito), com o canivete da Pachorra (muita paciência) e embrulhado nas Calouríadas, isto é, inspirado nas epopeias da vida de um Caloiro (termo vindo da Ilíada, primeiro romance épico da civilização ocidental). É depois oferecido aos Regalões do Parnaso, referência à própria Academia apreciadora das artes.
Fizeste tu muito bem, que o texto merece ser divulgado.
ResponderEliminarFiz porque merecia.
ResponderEliminarEu gostei
Por isso mesmo o meu secretário gastou algum tempinho a transcrever o texto.
EliminarObrigado Secretário.
ResponderEliminarUma rosa para ti!
É sempre um prazer.
EliminarRosas. Uma rosa não chega.