Instrumentos achados por restaurador em templo
barroco de Congonhas e que, provavelmente, pertenceram ao entalhador português
Servas, testemunham processo construtivo do século XVIII.
Nascido em Portugal, Francisco
Vieira Servas (1720-1811) trabalhou como entalhador e escultor em madeira nas
igrejas de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas, no Santuário do Senhor
Bom Jesus do Matosinhos e de Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas; e de
Nossa Senhora do Rosário, de Mariana, além de outras em Ouro Preto, Itaverava e
São João del-Rei. Segundo os especialistas, ele criou estilo próprio na
concepção dos altares, com destaque para um elemento denominado arbaleta (arremate
sinuoso).
O achado
ocorrido há três semanas e divulgado dia 27 último, se deu quando o restaurador
Geraldo Eustáquio removia o “envelopamento” do arco do cruzeiro e viu a verruma
e depois os dois malhos. “Quando
encontrei a verruma e peguei nela, me senti um entalhador do Século XVIII.
Guardamos o material, chamamos o escultor Luciomar Sebastião de Jesus, que
conhece profundamente todo o acervo histórico das igrejas de Congonhas. Em
seguida, avisamos ao pároco. Ao encontrar os malhos e saber que o arco do
cruzeiro é atribuído a Servas, tive outra emoção. A parte superior do arco,
onde estavam as peças, não tinha o menor indício de violação”, afirmou
Geraldo, explicando que, antigamente, se usava a verruma, o ferro de pua e o
trado. “Atualmente, se usa a furadeira
elétrica”.
Para o diretor de Patrimônio, a
descoberta tem um caráter mais surpreendente, “pois nunca se ouviu falar que alguém tenha encontrado uma ferramenta
associada a um grande entalhador daquele século. Para Luciomar, “elas vão atrair estudiosos e curiosos sobre
o fazer artístico daquele período. São testemunhas de um intrincado processo
construtivo da época, que nos revela a técnica dos grandes mestres”.
Esse achado, na
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, templo barroco de Congonhas, na Região
Central, joga mais luz sobre a forma de trabalhar dos escultores do século XVIII
e traz à tona da história da arte o nome do entalhador português Francisco Vieira Servas (1720-1811),
que trabalhou nessa e em outras cidades do período colonial, também
autor do retábulo-mor da igreja. “É uma
descoberta muito importante de objetos que, tudo indica, pertenceram ao artista
português ou à equipe de seu ateliê”, disse o diretor de Patrimônio da prefeitura local, o
escultor Luciomar Sebastião de Jesus.
Entusiasmado,
Luciomar explicou que as ferramentas artesanais, certamente feitas pelos
próprios entalhadores, podem ter sido esquecidas e não deixadas de propósito.
Na sua avaliação, passados quase três séculos – a matriz é de 1734 –, ele
acredita que o arco do cruzeiro tenha funcionado como uma “cápsula ou máquina do tempo”, mantendo intacto o conjunto. “Quando vi as três peças, fiquei
impressionado e comentei sobre a excepcional descoberta com o restaurador
Geraldo Eustáquio Mendes de Araújo. Isso significa um laço com o passado,
preenche lacunas e serve de caminho para compreendermos melhor o jeito de
trabalhar naqueles tempos”, conta Luciomar.
As ferramentas estavam pouco acima do “entablamento”, dentro do arco do
cruzeiro. “As tábuas que o compõem formam
um envelopamento, o que permitiu que ficassem escondidas. Pelo que vimos, o
arco nunca foi aberto, tal as condições da policromia e dos cravos existentes”,
disse Luciomar. Logo que foi encontrado, o material foi entregue ao titular da
paróquia, padre Paulo Barbosa, que pretende, quando terminarem as obras de
restauração da matriz, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) das Cidades Históricas, expô-las permanente. Em Congonhas, Servas,
contemporâneo de Francisco Antonio Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814) deixou sua
marca também na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, já restaurada, e Santuário
do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como Patrimônio da Humanidade,
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco).
Malhos de madeira |
Fotos: Escritório Técnico de Congonhas/Iphan-MG/Divulgação)
Fonte,com adaptações: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/12/28/interna_gerais,835556/diretor-de-patrimonio-de-congonhas-comenta-descoberta-de-ferramentas.shtml
Chama Mamãe
A matéria foi copiada, conforme fonte indicada. Com isso, desconfigura.Tentei configurar, sem lograr êxito. Desculpem-me, mas queria mesmo que vocês soubessem do conteúdo.
ResponderEliminarEm boa hora resolveste colocar aqui este texto e as fotos. É uma descoberta extraordinária e interessante. Para vossa informação, a verruma, com aquele feitio, foi uma ferramenta que se manteve praticamente igual até ao final do séc. XIX, início do séc.XX. Tenho uma, que deve ser de 1890 e que ainda tem o aço e madeira em bom estado. Mais tarde, por volta de 1920 começaram a aparecer umas mais sofisticados, (também tenho uma) já com duas rodas dentadas de tamanhos diferentes e uma manivela ligada à roda maior. Uma volta da roda maior dava 5 ou 6 da roda pequena, que por sua vez, estava ligada à broca. Só por volta dos anos 50 é que aparecem os berbequins eléctricos de venda ao público, mas com preços proibitivos. Hoje, para trabalhos pequenos, ainda prefiro as verrumas antigas.
ResponderEliminarObrigado pelo texto, Mamãe.
Uau! És mesmo um privilegiado.Tens um tesouro.
EliminarOntem à noite fiquei verdadeiramente surpreendido com esta postagem de Mamãe.
ResponderEliminarÉ uma a honra estas descobertas histórica com séculos de existência, que evidencia como os artistas trabalhavam na construção de igrejas e outros monumentos e o supremo cuidado com que pretendia deixar testemunhos práticos dos instrumentos que inventavam para executarem seus trabalhos e na certeza de que mais tarde em obras de restauração seriam descobertos e assim transmitirem aos vindouros como executavam suas obras de arte, é uma honra escrevia eu acima que este blogue seja também um fiel depositário do conhecimento destes achados que irão ficar em museu.
Como tenho familiares no Brasil, pois o meu concelho de Penela é das zonas em que mais se emigrava para o Brasil, especialmente da terra de minha avó materna, sendo que dos 3 filhos 2 dos rapazes também abalaram para a zona de São Paulo, com a curiosidade que um dos meus tios tinha como arte a de carpinteiro e bem me lembro de ver na sua oficina tanto os maços como as verrumas... a um amigo que anda muito pelo facebook(já com mais de 90 anos...) vou-lhe transmitir este texto de Chama a Mamãe.
Muito obrigado Mamãe por esta dádiva preciosa....esperando que o problema de saúde esteja a caminho de cura total.
Um excelente ANO DE 2017 e claro um beijo de gratidão e amizade.
Quem agradece sou eu, pelo espaço.
EliminarAinda nem "mexi" no problema, Dom.Ou melhor, nao mexeram. Estou a realizar exames solicitados
EliminarEnfim...cá estou, ainda.
Interessante artigo que nos chega do Brasil. Texto explicativo de um "achamento" que certamente dará lugar a pesquisa. Certamente que o proprietário deste blogue bairradino passará por aqui a agradecer este valioso contributo de "Chama a Mamã".
ResponderEliminarOntem, casualmente, encontrei uma docente que trabalhou num liceu de Aveiro e que me disse sem eu nada perguntar, que seguia o EG, pois esteve ligada a este bairro onde o pai, já falecido, morou. Apesar de passarem por aqui poucos comentadores, são muitos os que vão lendo quem vai dando o seu contributo.
Não posso deixar de referenciar aqui mais um bom comentário do amigo Alfredo Moreirinhas,
O que não faço para agradar aos amigos!? hehehehe
EliminarOlá, minha amiga!
ResponderEliminarGosto de a ver por aqui é a escrever sobre um tema que para mim é quase desconhecido, mas interessante.
Aproveito para desejar um Bom Ano, com saúde recuperada.
Beijinhos.
Amém!
EliminarBjs.