O Mimoso era um homem introvertido. Refém dos seus
misteriosos pensamentos, falava pouco. O seu distanciamento para com os
camaradas de armas daquela pequeno aquartelamento lá para os lados do Gabu,
fizeram dele uma ilha. Uma ilha de solidão.
Tão estranho comportamento, abriu um fosso no relacionamento
com a pequena comunidade militar daquele leste da Guiné. Alguns deitavam-se a
adivinhar. Uns diziam que era feitio, outros talvez um desgosto de amor.
Naquele dia, já próximo da época natalícia, o Cleto teve um
azar. Numa vinda ao Gabu num camião militar, o buraco na estrada fez o monstro
dar um enorme solavanco. O Cleto, displicentemente sentado em cima de um guarda
– lamas, foi cuspido violentamente da viatura. Perdeu os sentidos e, de
imediato foi providenciado o transporte para o Hospital de Bissau, o que só
veio a acontecer no dia seguinte por via aérea.
O mal não era de monta e, dois dias depois, estava de
regresso ao aquartelamento. Para além de um forte hematoma na testa, o Cleto
trazia um pé engessado e deslocava-se com grande dificuldade de muletas.
Passava muito tempo no seu catre, lamentando a sua desdita.
Na noite de Consoada, o João Cleto estava desmoralizado. A evolução
do seu estado de saúde não se fazia sentir. Recusou a companhia dos amigos para
a ceia e ali ficou no seu abrigo subterrâneo, a coberto do fogo inimigo que
poderia aparecer da escuridão do capim.
Naquele silêncio, meditando sobre aquela noite tão especial, viu com surpresa abeirar-se dele o Mimoso, com o seu porte avantajado. Ficou
expectante. Afinal o Mimoso era o tal companheiro que não procurava a
camaradagem de ninguém.
Então o transmontano, que trazia debaixo do braço um embrulho
de papel grosso, sentou-se junto dele. Cuidadosamente, abriu a encomenda que
exalava o cheiro dos belos enchidos que a família lhe tinha enviado daquele
pedaço de Portugal, para que o Mimoso tivesse o aroma e os sabores da sua terra
de origem em época natalícia.
Fez então menção de dividir aquela merenda com o camarada
agora debilitado de corpo e de espírito. O João Cleto não teve coragem de
recusar o convite para aquela ceia surpreendente e improvisada.
Então, tendo como testemunhas as estrelas cintilantes que
polvilhavam o céu que se via pela vigia do abrigo, os dois homens comeram
pausadamente e conversaram em ameno convívio, honrando a noite mágica do Deus
Menino.
Quito Pereira
A Noite,em que todos os milagres acontecem.
ResponderEliminarAproveito o ensejo, Quito, para te desejar um mimoso Natal...em família, com muito Amor e Paz no coração de todos.
Que o aniversariante seja convidado a compartilhar de grandioso festejo.
Jesus!
Obrigado, "Chama a Mamã". Bom Natal para si e Família é o meu desejo. Um ANO NOVO que corresponda aos vossos desejos ...
ResponderEliminarUm abraço
Tal como a Chama a Mamãe diz "A noite em que todos os Milagres acontecem"
ResponderEliminarMesmo lá longe na África ´longíqua o Natal também é Natal.
Esta será mais uma das recordações que jamais se apagarão com o tempo da tua memória.
E porque o Natal aconteceu, nada melhor que a tenhas partilhada connosco nesta quadra maravilhosa.
Bem hajas!
O espírito de Natal cumpre-se em situações por vezes inusitadas, mas em tempos de guerra ainda mais se acentua a ternura e a partilha dos amigos.
ResponderEliminarGostei, Quito!
Boas Festas.
O espírito de Natal cumpre-se em situações por vezes inusitadas, mas em tempos de guerra ainda mais se acentua a ternura e a partilha dos amigos.
ResponderEliminarGostei, Quito!
Boas Festas.
Outra história de guerra muito bem contada pelo Quito. Um Bom Natal para ti e familia
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