A noite vem de mansinho, pé ante pé
Aqui, na minha aldeia, cessa o ruído
As crianças deixam o largo do Enxido
E os homens saem da taverna ou café
Atiçando o ladrar de algum cão atento
Que escuta o mais leve sonido do vento
Para lá do aconchego da chaminé
Ao abaixar da noite tudo se aninha
Tombam, no chão, algumas folhas esteadas
Onde dormitam lagartixas enroladas,
Aranhas tecedeiras, uma joaninha…
A flor turquesa da chicória adormece,
O policromado matiz desaparece
À medida que a escuridão caminha
Em noites quentes de Verão, com lua cheia
Aquela fada altaneira a brilhar
Desperta um não sei quê no nosso olhar
Que põe tudo diferente… tudo prateia
Como se nos convidasse para a farra
A bailar ao som da estouvada cigarra
Cantarolar que nos cativa e enleia
As fadas, então, acordam a madrugada
Obrigam a lua a recolher o seu luar
Para que o sol possa vir administrar
A paleta do arco-íris apresada
No pratear cinzento duma noite clara
Que, embora seja duma beleza rara,
A Natureza é mais linda, acordada
Georgina Ferro
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