Lágrimas pela Ucrânia… Crónica de Cândido Manuel Ferreira
A 28 de fevereiro, no quarto dia da invasão da Ucrânia, publiquei uma crónica em que antevi a “humilhante derrota” do exército russo.
As razões dessa previsão assentavam em fortes razões, desde logo do foro militar: a operação fora mal concebida, dispersa até num ataque de mau gosto a uma central nuclear desativada; a imobilização no terreno, muito antes de Kiev, de uma coluna russa com 64 Km; e as perdas já infligidas aos atacantes, consideradas muito graves pelos especialistas.
Acresciam ainda outros factos determinantes: a impressionante resposta ucraniana, firmada num líder que surpreendia pela sua coragem, cultura e discernimento; a reação de uma Europa, unida como nunca em toda a sua História milenar; e mais a garantia da NATO, que prometia travar um passeio que se adivinhava triunfal.
Todos estes fatores, embora importantes, não seriam ainda decisivos. A minha convicção assentou então na desesperada reação de Putin que, nesse mesmo dia, anunciou recorrer a armas nucleares, se necessário. Era como se, depois de um primeiro assalto falhado, um lutador reentrasse em cena usando técnicas proibidas. Conheço o funcionamento do cérebro dos sociopatas, que sentem prazer com o sofrimento e morte dos outros e nunca desistem dos seus objetivos. Naquele instante, aquele serial-killer sofria as dores do fracasso e do desespero.
Sempre acreditei, e ainda acredito, que a loucura de Putin será travada por dentro, por colaboradores próximos não interessados no seu próprio holocausto. E muito embora temendo a repetição dos massacres de Alepo, e outros mais recentes no Cáucaso, previ então um impasse militar e um armistício próximo. E perante o sucesso ucraniano, enquanto produtor de vinhos alentejanos, atrevi-me até a comunicar à Embaixada da Ucrânia que teria muita honra em fornecer alguns excelentes vinhos, para serem servidos nas comemorações oficiais da vitória, em Lisboa e em Kiev.
Uma oferta que, nos dias seguintes, acabou por se tornar diplomaticamente delicada de gerir, face aos horrores que, entretanto, se desenrolaram perante os nossos olhos: não faz hoje qualquer sentido falarmos em qualquer comemoração, ainda que na sequência de uma estrondosa vitória.
E foi neste delicado contexto que, na tarde de 5 de abril, recebi uma comunicação telefónica de uma colaboradora da Embaixada da Ucrânia, a agradecer a minha oferta, mas, naturalmente, a decliná-la.
Estabelecido, contudo, um diálogo aberto e franco, facilmente assentámos numa alternativa. Esmagada a barbárie, e ultrapassado o furacão, o mundo civilizado irá certamente participar num gigantesco plano de recuperação da Ucrânia. E então, sim: compromisso assumido em nome da Senhora Embaixadora, os vinhos alentejanos acompanharão as cerimónias da reconstrução, em Lisboa e, provavelmente, até mesmo em Kiev.
Com muito trabalho pela frente, a nossa conversa não podia prolongar-se por muito tempo. Mas, por entre insistentes agradecimentos, a minha interlocutora ainda pôde encerrar a sua comunicação lançando duas enérgicas interjeições:
- Viva a Ucrânia! Viva Portugal! – Proclamou, com a voz embargada, incapaz de esconder a enorme onda de comoção que a avassalava:
Como despedida, devo ter-lhe respondido à altura do momento presente:
- Glória à Ucrânia! E viva a Europa!
Pois não é verdade que, neste turbulento mundo em que vivemos, nunca, de Lisboa a Vladivostok, a Europa esteve tão unida e tão próxima dos valores greco-judaico-cristãos em que assenta a garantia do progresso da Humanidade?
Grande abraço de parabéns.
ResponderEliminarFelicidades
Com desejos que tenhas um dia muito feliz, aqui vai um abraço de parabens Ju Faustino M Lopes
ResponderEliminarUm abraço de parabéns, Cândido!
ResponderEliminarParabéns daqui de Leiria, onde continuas a ser uma referência.
ResponderEliminarParabéns amigo Cândido!
ResponderEliminarGrande abraço.
Lágrimas pela Ucrânia…
ResponderEliminarCrónica de Cândido Manuel Ferreira
A 28 de fevereiro, no quarto dia da invasão da Ucrânia, publiquei uma crónica em que antevi a “humilhante derrota” do exército russo.
As razões dessa previsão assentavam em fortes razões, desde logo do foro militar: a operação fora mal concebida, dispersa até num ataque de mau gosto a uma central nuclear desativada; a imobilização no terreno, muito antes de Kiev, de uma coluna russa com 64 Km; e as perdas já infligidas aos atacantes, consideradas muito graves pelos especialistas.
Acresciam ainda outros factos determinantes: a impressionante resposta ucraniana, firmada num líder que surpreendia pela sua coragem, cultura e discernimento; a reação de uma Europa, unida como nunca em toda a sua História milenar; e mais a garantia da NATO, que prometia travar um passeio que se adivinhava triunfal.
Todos estes fatores, embora importantes, não seriam ainda decisivos. A minha convicção assentou então na desesperada reação de Putin que, nesse mesmo dia, anunciou recorrer a armas nucleares, se necessário. Era como se, depois de um primeiro assalto falhado, um lutador reentrasse em cena usando técnicas proibidas. Conheço o funcionamento do cérebro dos sociopatas, que sentem prazer com o sofrimento e morte dos outros e nunca desistem dos seus objetivos. Naquele instante, aquele serial-killer sofria as dores do fracasso e do desespero.
Sempre acreditei, e ainda acredito, que a loucura de Putin será travada por dentro, por colaboradores próximos não interessados no seu próprio holocausto. E muito embora temendo a repetição dos massacres de Alepo, e outros mais recentes no Cáucaso, previ então um impasse militar e um armistício próximo. E perante o sucesso ucraniano, enquanto produtor de vinhos alentejanos, atrevi-me até a comunicar à Embaixada da Ucrânia que teria muita honra em fornecer alguns excelentes vinhos, para serem servidos nas comemorações oficiais da vitória, em Lisboa e em Kiev.
Uma oferta que, nos dias seguintes, acabou por se tornar diplomaticamente delicada de gerir, face aos horrores que, entretanto, se desenrolaram perante os nossos olhos: não faz hoje qualquer sentido falarmos em qualquer comemoração, ainda que na sequência de uma estrondosa vitória.
E foi neste delicado contexto que, na tarde de 5 de abril, recebi uma comunicação telefónica de uma colaboradora da Embaixada da Ucrânia, a agradecer a minha oferta, mas, naturalmente, a decliná-la.
Estabelecido, contudo, um diálogo aberto e franco, facilmente assentámos numa alternativa. Esmagada a barbárie, e ultrapassado o furacão, o mundo civilizado irá certamente participar num gigantesco plano de recuperação da Ucrânia. E então, sim: compromisso assumido em nome da Senhora Embaixadora, os vinhos alentejanos acompanharão as cerimónias da reconstrução, em Lisboa e, provavelmente, até mesmo em Kiev.
Com muito trabalho pela frente, a nossa conversa não podia prolongar-se por muito tempo. Mas, por entre insistentes agradecimentos, a minha interlocutora ainda pôde encerrar a sua comunicação lançando duas enérgicas interjeições:
- Viva a Ucrânia! Viva Portugal! – Proclamou, com a voz embargada, incapaz de esconder a enorme onda de comoção que a avassalava:
Como despedida, devo ter-lhe respondido à altura do momento presente:
- Glória à Ucrânia! E viva a Europa!
Pois não é verdade que, neste turbulento mundo em que vivemos, nunca, de Lisboa a Vladivostok, a Europa esteve tão unida e tão próxima dos valores greco-judaico-cristãos em que assenta a garantia do progresso da Humanidade?
Cândido Ferreira
7 de abril
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ResponderEliminarde Fernando de Oliveira Rafael