A RÁDIO NO MEU BAIRRO
Não havia ainda televisão em Portugal. E mesmo depois de ter aparecido em meados de 1950, muito poucas pessoas a ela tinham acesso doméstico, porque os aparelhos eram caros e o dinheiro escasseava.
A força da comunicação era, portanto, a rádio, indiscutivelmente.
Os noticiários eram, sobretudo, uma forma de propaganda do regime, mantendo o povo na obscuridade e afastado do que se passava no mundo.
As audiências, porém, subiam em flecha às horas dos programas de entretenimento ou de desporto. Despovoavam-se as ruas do bairro, com toda a gente fechada em casa, escutando o som roufenho dos aparelhos de rádio de fraca qualidade, vivendo entusiasmada e atenta os relatos dos feitos dos nossos hoquistas, habituais vencedores a par dos rivais espanhóis, dos famosos torneios de Montreux.
Ou ainda, ouvindo e cantarolando as canções dos artistas em voga nos cíclicos Serões para Trabalhadores da Emissora Nacional, enquadrados na “alegria no trabalho” que o regime intencionalmente incentivava, ou o programa, mais aberto, de “Os Companheiros da Alegria” no Rádio Clube Português conduzido por Igrejas Caeiro, que não se cansava de dizer que “uma nota de 500 não se pode deitar fora...”.
Ultrapassavam-nos a todos, em número de ouvintes, as rádio novelas, cuja memória ainda perdura nas pessoas desse tempo.
Os folhetins diários do Teatro Tide e do Simplesmente Maria, faziam paralisar quase por completo, as actividades das donas de casa, das rapariguinhas e de alguns rapazes do bairro. E forneciam pretexto para acesas discussões, logo a seguir às emissões, especulando-se sobre os seus futuros desenvolvimentos, e sobre as obscuras intenções das personagens mais populares das novelas.
Interpretadas por, entre outros, Carmen Dolores, Alice Ogando, Olavo d'Eça Leal, Francisco Mata, Odete de Saint-Maurice.
As novelas faziam esquecer por momentos, os sacrifícios e dificuldades que afectavam as vidas da maioria das famílias do bairro.
Panem et circensis... ( Menos panem, mais circensis )
Rui Felício
-----reeditado-----
Muito bem retratado
ResponderEliminarAcrescento uma nota de outro teor
Regressei ao bairro em 1959 e senti um ambiente algo estranho, que só viria a compreender mais tarde: era perturbador perguntarem.me se em Lourenco Marques eu andava sozinha na rua, por causa das feras e ao ir a zona comercial ver a cortina de algumas janelas a deslocar-se sem que ninguem aparecesse...
E andar de biciclete, com alguns rapazes?!!
Julia Faustino
E todos os dias pelas 13h00 ligávamos para o Rádio Clube Português e recebiamos a partir do emissor de Miramar a "Graça com todos" dos Parodiantes de Lisboa. Então o Patilhas e Ventoinha era imperdível.
ResponderEliminarBem me lembro dos Parodiantes de Lisboa ABRAÇO
ResponderEliminarBoa noite