terça-feira, 15 de abril de 2014

NEM TANTO AO MAR...


São unha com carne, amigas desde os tempos de escola. Mas tão diferentes uma da outra...

Uma é cautelosa, ansiosa, introvertida, tímida, pessimista.
Quando a convidam para uma festa, passa dias a conjecturar, a pensar ...
se deve ou não aceitar o convite.
Usa a sua inteligência para esgrimir a arma do cepticismo metodológico, perde-se em raciocínios intermináveis, questiona tudo, reage e contesta os mais elaborados e bem fundamentados argumentos.
Quando vai às compras no supermercado,não é raro vê-la com duas embalagens na mão, a pensar demoradamente sobre qual delas há-de levar.
Apesar de ser bonita,cheia de encantos, triste mas simpática, educada, calma e de não lhe faltaram pretendentes, nunca casou, nem se lhe conheceu namorado.

A outra, a sua amiga, era o seu retrato invertido.
Despreocupada, segura de si, exuberante, optimista, encarava a vida com uma auto estima indestrutivel, convencida de possuir os méritos que tinha e até os que não tinha.

A beleza não a tinha bafejado, embora a colmatasse com o seu voluntarismo, a sua extrovertida alegria e total despreocupação que a levavam a seduzir e a conquistar a simpatia de todos.
Perdera a conta aos namorados que teve. Casou três vezes e outras tantas se divorciou. Em cada um deles tinha achado que era para a eternidade, que nada o abalaria.
Após o último divórcio, assegurava que não voltaria a casar.
No entanto, passados poucos meses, decidiu casar de novo e convidou a amiga para a boda, dizendo-lhe:

- Desta vez encontrei a minha alma gémea. Só a morte nos separará!
- Vou pensar se posso ir. Depois digo-te, está bem? Respondeu-lhe a amiga...

A boda foi bonita. O quarto casamento da Certeza foi muito badalado, veio até nos jornais!
Estavam muitas figuras do jet-set.

Quem não esteve presente foi a sua amiga Dúvida, ainda indecisa sobre a aceitação do convite.

Rui Felício

6 comentários:

  1. O Rui, lá foi tricotando o seu raciocínio, até à apoteose final. Duas formas de estar na vida. Mas, de facto,nem tanto ao mar nem tanto à terra. Será no meio que está a virtude. Mas, nos tempos que correm, as certezas são poucas e as dúvidas são muitas. Mesmo muitas ...

    Do que não tenho dúvidas e até tenho muitas certezas, é que os convidados do casamento da CERTEZA é normalmente um cortejo de falsidades, risos de plástico, vigaristas e alguns oportunistas de fraque alugado, na procura de lugar ao sol, naquela feira de vaidades. Mas é deste tipo de fauna que se alimentam as revistas cor de rosa. Uma espécie de pornografia sem nus. Digo eu, sem CERTEZAS.

    Os mais "incultos", vivem espremidos nos transportes públicos, Vêm futebol ao fim de semana
    e digerem telenovelas todas as noites, com romances patetas e de cordel. São o jet - menos set. Como em tempos recuados ...

    Quanto ao texto, como sempre é bem pensado e elaborado. É sempre com prazer que te leio, Rui.

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  2. CERTEZA e DÚVIDA tão díspares mas tão presentes e essenciais em todos nós, em todos os momentos desta passagem que é a vida... Até é o casamento se contrai com ELAS com um sucesso relativo (pois nada é perfeito... E o que é isso de Felicidade? ).
    Gostei muito deste texto que proporciona uma reflexão das inúmeras questões que se nos levantam constantemente e que caracterizam a nossa conduta/carácter...Bem escrito e com pormenores que evidenciam ainda mais esta "luta dorida" pela qual passamos.Há o humor fino, uma das tuas características genéticas...
    Para mim é um texto metafórico que nos assenta a todos e de que maneira!

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  3. DONA CERTEZA E DONA DÚVIDA duas amigas (in)separáveis no in pela amizade mas separáveis na atitude!
    E assim nos presenteou o Rui com mais uma bela "estória", bem engendrada, que nos conduziu pelos meandros da sua imaginação onde realçou a determinação da CERTEZA a levou a gozar os prazeres da vida enquanto a DÚVIDA vai continuar a a ter a dúvida ...se existe!

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  4. Se não houvesse dúvidas, nunca existiriam as certezas...

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  5. Se só existissem certezas, nunca existiriam dúvidas! Toma!

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  6. As dúvidas, por vezes, atormentam-me e nem sempre se justifica!
    Agora, certezas, certezas, duvido que as tenha.
    Duvido muito dos que dizem terem sempre certezas...

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