Em frente à sala de estar, tenho um jardim interior envidraçado que, frequentemente, observo pensativo, absorto, só com a suave música de fundo a pautar a minha placidez.
Enterrado no sofá, não dou pelo passar do tempo, deixo correr livremente o pensamento, sem peias, pelas recordações do passado, pelo rotineiro presente, pelas utopias do futuro, pela beleza do que nos rodeia.
Admiro as brilhantes gotículas da chuva a deslizarem, como pérolas, pelas folhas das plantas.
Algumas vezes, como ontem à noite, abro a porta de vidro que dá acesso ao jardim e vagueio no meio daqueles seres vegetais, imperceptivelmente sensíveis, que parecem corresponder e retribuir as carícias que lhes dou com o toque macio dos meus dedos.
Depois vou me deitar, envolvendo-os num olhar de despedida.
Esta manhã, depois de acordar e de ter ido à casa de banho, passei apressado pela sala, antes de ir preparar o pequeno almoço.
Estaquei silencioso, imóvel... Incrédulo! Surpreendido!
Um casal de jovens volteava no sofá!
Agitados, abraçados, fundidos num só, em frenéticos movimentos crescentes, obviamente deliciados, indiferentes ao mundo, no auge de uma orgia de sexo explícito, nem deram pela minha presença.
Devo ter me esquecido de fechar a porta do jardim e permiti com essa distracção, que aqueles jovens invadissem a minha casa.
Dali a pouco, aquelas duas belíssimas borboletas, já saciadas, esvoaçaram lado a lado, em direcção à rua, sacudindo as maravilhosas asas multicoloridas
Por Rui Felício
12-05-2010
Boa iniciativa do blogue. Um bom livro, é um amigo que é espólio de cada casa e de cada prateleira. Quando fechado, sabe esperar, paciente, por uma nova oportunidade de ser relido ou de que uns novos olhos ávidos de emoções, na procura de atributos que exaltem as qualidades do autor. Um bom texto, é sempre um bom texto. A marca da pena de quem o produziu está lá e o autor vê em cada linha, em cada parágrafo, um filho que gerou na proporção do seu talento. Por mim, tudo o que vou alinhando em palavras, independente qualidade da prosa, é sempre algo gerado com o amor de quem gosta de semear as palavras escritas.Julgo que o autor - Rui Felício - pensa como eu e este texto faz parte do seu património afetivo ...
ResponderEliminarAbraço, Rui ...
A espaços outros belos textos do Rui Felício aparecerão por aqui.
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