Naquela tarde de verão, Irene percorria a pé a estreita fita
de alcatrão que ligava Salgueiro do Campo à povoação de Palvarinho. Com o sol a
pino, parei o carro junto dela e ofereci-lhe uma boleia. Reconheceu-me da
farmácia e aceitou. Naqueles quatro quilómetros deu para conversar, e lá me foi
dizendo que durante vinte e sete longos anos tinha trabalhado numa pastelaria
de Belém. E no Palvarinho a deixei e parti. Pelo caminho fui meditando naquele
percurso de vida daquela minha companheira de viagem na sua simplicidade, que
de uma simpática e pequena aldeia da Beira – Baixa um dia partiu para a grande
metrópole, e em como foi parar lá para as bandas do Restelo. E que ligação
haveria com os famosos pasteis de nata de Belém. Porém, por um blog sabemos
muitas coisas. E eu, que vou oferecendo a minha colaboração a um outro Rafael,
que tem um espaço de convívio da aldeia onde passei parte da minha vida, fiquei
a saber alguma da minha curiosidade e as peças começaram a juntar-se. Um
habitante do Palvarinho de nome Artur, fundou uma pastelaria em Belém, onde se
confecionavam os famosos bolos. E ela – a Irene – para lá foi trabalhar. Curiosa
também da razão de todo o Palvarinho vestir de azul e o seu povo ser Belenenses
ferrenho. De novo o nome de Artur vem à baila, agora como dirigente que foi do
Clube da Cruz de Cristo. O grupo amador da aldeia veste de azul, e os
equipamentos para a prática desportiva vinham das camisolas e chuteiras já
usadas pelo clube de Lisboa em épocas recuadas. Aquele apego da aldeia ao
Belenenses, valeu aos seus habitantes em tempo remoto, conviveram com alguns do
grandes jogadores do Belém que ali se deslocavam propositadamente, a convite da
aldeia mais azul de Portugal. E, como amor com amor se paga, o Belenenses
assumiu o grupo desportivo da aldeia como sua filial. Duas figuras públicas são
referência do Palvarinho. A artista Rita Pereira que ali tinha os seus avós que tive o prazer de conhecer, e o
falecido locutor Henrique Mendes, ele também um simpatizante fervoroso da
camisola azul do Restelo.
Quito Pereira
A origem das coisas é normalmente desconhecida e estas ganham outra dimensão quando aquela é revelada.
ResponderEliminarPorque nada acontece por acaso.
Fico grato ao Quito por nos mostrar como uma recôndita aldeia do Portugal profundo ficou ligada aos pasteis de Belém e ao Belenenses pelo dinamismo de Artur.
Belenenses que foi um dos grandes do futebol de antanho hoje caído em desgraça.
Ficámos também a saber que figuras gradas de todos conhecidas foram filhas daquela aldeia, como Rita Pereira e Henrique Mendes.
Quantos Palvarinhos não haverá mais?
Assim houvesse mais Quitos Pereira. ...
No nosso bairro era a Rua de Chaimite. Salcedas, Melo, Cruz e outros. E o filho do Melo julgo que chegou a vestir a camisola azul embora seja mais conhecido pela ligação ao Estrela da Amadora.
ResponderEliminarComo Palvarinho se tornou um lugar também meu conhecido, pois não se fica indiferente à terra a que está liga a Rita Pereira e o Henrique Mendes, personalidades bem conhecidas dos portugueses...
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