Bairro Marechal Carmona ...
O Bairro Marechal Carmona foi um Tempo. Um tempo passado de
recordações presentes. Olho a floresta de betão de prédios anónimos, de bombas
de gasolina e de catedrais de consumo num corre – corre da vida dita moderna.
Ali, aquele espaço agitado de carros, poluição e de buzinas estridentes, também
já foi uma catedral. Uma outra catedral de uma liturgia de silêncio e de
silêncios. Naquele espaço alargado, morava um pinhal – o Pinhal de Marrocos.
Não sei a proveniência do nome, mas sei que tinha a identidade própria de um
lugar quase de culto de todos os que habitavam as casas singelas de um bairro
com nome de marechal. Nos dias de primavera e de verão, o pinhal ganhava um
novo fôlego e uma nova vida. Debaixo das árvores se namorava e se faziam juras
de amor. Debaixo das árvores se estudava para exames em tempo de exigência
escolar. E debaixo das árvores se sonhava e se faziam versos arrebatados e
sonhadores. E também havia a casa modesta da Maria, que tratava dos seus
animais no jeito atarefado. Lá longe, um longe que era tão perto, havia uma
mina de água. Uma mina mesmo a propósito para as nossas aventuras de infância.
Uma caverna que nos fazia sonhar com os contos escritos pelo punho de Enid Blynton.
Penetrar na mina era uma aventura. Por vezes, o espaço era amplo e permitia
andar em pé. De outras vezes, era necessário rastejar, até ao gozo supremo de
se chegar a um local amplo a que batizámos de “sala do trono”. O percurso
levava cerca de cinco minutos a fazer. Sempre que demandávamos a mina, fazíamos
um pacto de silêncio, para que os nossos pais não soubessem pela sua absoluta
reprovação. Chegávamos a casa com os calções sujos de terra e lama e os joelhos
esfolados de rastejar pela galeria. E dois açoites no rabo, eram irrelevantes
na suprema glória de mais uma aventura no Pinhal de Marrocos. A aplaudida Enid
Blynton, teria certamente muito orgulho em nós. Pela sua pena inspirada,
certamente que eu e os meus pares teríamos hoje um lugar de destaque na
literatura mundial.
Quito Pereira
Bairro Marechal Carmona quantas recordações encerra duma infância e adolescência simples mas bem vivida!
ResponderEliminarRECORDAR PINHAL DE MARROCOS
ResponderEliminarMATEM SAUDADES DO BAIRRO MARECHAL CARMONA
ResponderEliminarMuitas recordações nos trazes com a tua escrita
ResponderEliminarTambém recordei episódios dessa infância, mas entrar na mina nunca me atrevi.
ResponderEliminarO nome de Marrocos, no caso do pinhal, significava longe. Para lá já é Marrocos!... Uma expressão que se usava quando era longe e sem interesse.
Bem observado, Alfredo. Nunca tinha pensado nessa hipótese para o nome do pinhal ...
EliminarCaro Quito!
ResponderEliminarAi coisas que se faziam, coisas que do nada se transformavam num encanto, coisas que faziam esquecer o perigo em que muitos de nós nos metemos.E do baú das coisas, que teimosamente continuamos a preservar, o velhinho Pinhal de Marrocos tem um cantinho especial.
Também foi no Pinhal de Marrocos que eu, o Zé Bento, o Jójó Marques,o Serra e outros fomos descobrir um "tesouro" vivo.
Estávamos na época do Natal, onde o musgo apelava para se fazer a cama do presépio. Musgo fofo, alto, sedoso, arrancado em postas bem jeitosas.
De repente, um grito. Tínhamos descoberto um poço por entre os ramos caídos e folhagem meio desgastada pelo tempo.
Novo grito e nova aventura se perspectivava. Havia qualquer coisa que se mexia no fundo do poço. Seria um cão? Cada um opinava, arranjando o príncípio de uma "historieta".
Visto de cima,o poço era bem fundo. Decidimos libertar o pobre bicho. Mas como?
E aqui começou a "epopeia". Era necessário uma corda grande e forte para o resgate.Vieram à memória os filmes do oeste,do Tarzan, do Sadokan, dos "rodeos". Quem era capaz da fazer um laço para prender o bicho pelo pescoço? Mas onde encontrar a corda?
E decidimos voltar à civilização, ou seja ao nosso bairro, onde nos esperava o almoço. Combinou-se pelo caminho fazer segredo do achado. Arranjei uma corda valente na garagem de meu Pai, que embrulhei num saco de serapilheira. Alguém teve a feliz ideia e arranjar um martelo, para o que desse e viesse.
Lá fomos fazer a empreitada da tarde. Uma surpresa nos esperava .Como que por artes mágicas, aquilo não era um cão, mas sim uma raposa. E tivemos caúfa, termo para designar o mesmo que medo em terminologia mais erudita.
Mas pusemos o medo de lado e toca de nos lançarmos, à vez, a experimentar os dotes de cowboys. Largos minutos se passaram num frustrante desatino.
Por um bamburrio de sorte, o laço passou pelo focinho do bicho e... já estava. A raposa estava feita prisioneira.
Era altura de a puxar e fazê-la sair do fundo do poço.Fácil não foi como se deve calcular. O bicho esperneava com o gasganete apertado, os cowboys agitavam-se e o medo crescia à medida que se chegava a terra firme. Lembro-me de munir com uns paus para dar umss toutiçadas na dona raposa. E assim aconteceu. A enforcada levou mais umas pauladas e parecia "acabada". Com a mesma corda lhe atámos as quatro patas, como se fazia às rezes no faroeste. Faltava o saco para o transporte, bem apertadinho,bem agarrado a um grosso pau. Era a glória de uma "pesca à raposa".
Atordoada pela cachaporradas, fez-se a viagem até ao número 21 da rua A.Decidiu-se colocar o troféu na garagem do 21. O pior estava para vir.
Não é que o raio de bicha acordou da anestesia? E agora? E se ela esfrangalhasse o saco? E depois? Meu Pai chegou a tempo. Chamou o senhor Paulo Martins, agente da PIDE,Pai de Melinha da Rua Gil Eanes, que prontamente acabou com a raposa com algumas cacetadas na mona.
Lembro-me de meu Pai ter feito uma proposta aos "caçadores" ou "pescadores". Deu 15 escudos a cada um dos artista e ficou com a bicha, que acabou numa pele de uma samarra que ainda usei.
Esta mais uma memória do Pinhal de Marrocos
Jorge Luis Costa
Uma boa memória, Jorge. As histórias do Pinhal de Marrocos dava um livro. A tua memória passa também pelo musgo.No Natal, lá partíamos nós com uma faca e um balde a recolher aquele musgo sedoso como dizes. Tempos maravilhosos ...
EliminarOlá Quito.
EliminarAté eu fui ao musgo ao pinhal de marrocos apanhamos duas cestas e uma grande molha o que nos valeu foi ter passado em casa dos meus Sogros e almoçamos uma bela Chanfana.
Já lá vão muitos anos dezembro 1978.
Um abraço.
Boas memórias, Lucinda. Um abraço ...
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