domingo, 19 de julho de 2020

A MORTE DE UM ESTÁDIO ...





Estádio Mário Duarte ...

Passou o tempo em que vivi o futebol com paixão. Das alegrias que a Académica de Coimbra me proporcionou. E de momentos de tristeza também. Com o caminhar dos anos e nesta fogueira da indústria do futebol, comecei a distanciar-me do fenómeno desportivo. Ficaram porém as memórias das épocas em que a Briosa jogava fora do seu reduto. Quando a equipa defrontava os adversários relativamente perto do berço coimbrão, lá marchavam muitos simpatizantes em profissão de fé, num inquebrantável querer e crer de um regresso a casa com uma gloriosa vitória sobre o antagonista. E é nesta linha de memórias, que vem ao meu pensamento um campo mítico – o Estádio Mário Duarte, na bonita urbe  aveirense. Naquela cidade de Aveiro, os jogos entre Beira - Mar e Académica eram sempre rijamente disputados. O público estava ali junto do relvado, quase tocando com as mãos os jogadores e, sendo a região muito frequentada por motociclistas, os adeptos batiam com os capacetes nos painéis publicitários, num ruído ensurdecedor e que intimidava. A rivalidade entre Aveiro e Coimbra corria-se atrás de uma bola nas tardes de domingo. Por vezes, no fim dos jogos havia desacatos, mas evidentes quando a Académica ganhava na sua condição de forasteira. Mas o tempo passou. As negociatas tomaram conta de um futebol mais genuíno e, na febre de um campeonato europeu de futebol, o lendário Beira – Mar viu-se expulso da seu reduto, para jogar num colosso inestético de estádio nos arredores da cidade, hoje a mostrar sinais evidentes de rendição ao abandono. E agora morreu o Estádio Mário Duarte, que o mesmo é dizer que o clube perdeu muito da sua História e da sua Memória. No local, vai agora nascer um amplo complexo hospitalar, o que não se discute pelo melhoramento de algo essencial à região. O Sport Club Beira – Mar, que nos últimos anos teve e tem uma vida agitada e de grandes dificuldades financeiras, está agora ainda mais pobre. E nenhum amante do dito desporto – rei, envergue ele a camisola da equipa auri - negra ou de um qualquer outro emblema, pode ficar indiferente a mais um bastião de um futebol de outras épocas que partiu.
Quito Pereira        

7 comentários:

  1. Lembro-me de uma tarde de forte temporal e chuva incessante que no Café do Silva apareceu o Teixeira Zarolho a convidar quem queria ir no carro dele a Aveiro para ir ver a meio da tarde o jogo Beira Mar-Académica no mítico campo que o Quito refere.

    Aa bátegas que na vidraça faziam encolher os presentes no Café desiludiram o Teixeira que resmungava entre dented:
    - amam a Briosa, dizem. Vê-se...
    Fez menção de sair quando eu o sosseguei:
    - Eh pá espera aí. Eu vou contigo.

    Atravessámos o passeio a correr e entrámos no carro. Só naquele curto percurso apanhamos uma molha tal era o temporal.

    O pior porém estava para vir.

    Logo à saída de Coimbra o limpa pára brisas avariou.

    O Teixeira homem previdente encostou à berma, sacou de um saco de serapilheira no banco de trás e tirou de lá uma grande batata que cortou em duas metades com uma navalha.

    Explicou me que eu devia ir esfregando a minha metade no pára brisas do lado de fora do meu lado direito e ele ia fazendo o mesmo do seu lado esquerdo.

    E assim fomos todo o caminho com as nossas mãos de fora esfregando as batatas no vidro.

    Felizmente, quando já ia com a minha mão enregelada a chuva amainou e quando chegámos a Aveiro já tinha parado.

    A Académica empatou a 2 golos com o Beira Mar.

    Não foi mau...

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    1. Verduras da nossa juventude. Um dia também fui a Aveiro num dia de dilúvio. Foi de tal forma que para entrarmos no campo andavam lá os bombeiros com uma moto - bomba a escoar a água. Ganhámos 1 - O e cá fora houve pancadaria. Parecia Aljubarrota mas sem espanhóis ...

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    2. Melhor seria se a Académica tivesse metido na baliza do Beira Mar, as batatas que vocês desperdiçaram, no vidro!... A Académica teria ganho e o vidro ficava na mesma...

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    3. Meias batatas quase gastas.
      Vencer no Mário Duarte nunca era boa ideia.
      No fim, se a Académica ganhasse dava batatada.
      O empate era melhor...

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  2. Sempre me lembro de ouvir falar no Estádio Mário Duarte pois era o Beira Mar o seu utilizador nos inúmeros jogos de futebol nos campeonatos regionais e nos campeonatos nacionais.
    Grandes tardes de glória se viveram ali para satisfação dos seus ferverosos adeptos.
    Curiosamente nunca lá assisti a nenhum jogo com a Académica.
    Raramente acompanhava a Académica nos jogos fora de Coimbra.
    Com a construção do estádio municipal de Aveiro para o Euro 2004,o Beira Mar ainda começou a jogar neste Estádio, mas com a oposiçao dos sócios e adeptos porque preferiam o Mário Duarte.
    E conseguiram que o Mário Duarte voltasse a ser a sua casa.
    Mas valores mais altos se levantam:passou a uma sad que foi ruinosa.
    Teve que voltar ao Municipal novo e o Mário Duarte desaparece para no seu local seja construído uma nova ala do Hospital de Aveiro.
    Há 3 semanas estive em Aveiro e vi já o estado de abandono... Esperando o início das obras do hospital.
    É assim desapareceu mais um mítico estádio...

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  3. Mário Duarte foi sócio fundador do meu Belenenses. Mas o mais famoso jogador do Beira-Mar foi um tal Eusébio da Silva Ferreira.

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  4. É uma situaçao de que pode orgulhar... Embora tenha já sido no final de carreira.

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