quinta-feira, 29 de abril de 2021

 


CRÓNICA DE FIM DE TARDE ...

 

Regresso hoje ao convívio dos amigos. Dos amigos que tenho virtuais, mas também reais das cidades que se cruzam comigo no meu horizonte de vida – Coimbra, Castelo Branco, Leiria e Lagos. Conheço o pulsar das quatro cidades, a de Leiria ainda em embrião. E hoje, martelando nas teclas do computador, recordo a capital albicastrense e do almoço  no “Arena de Verona”. Durante os dias de estadia, foi uma procissão de pratos italianos que me deliciaram. De ver as gémeas hoje adolescentes e de lembrar velhos tempos e da sua paixão pelo violino. De ouvir os conselhos de gastronomia de Zeza Aldriguetti e do sempre atarefado Evis Aldriguetti, que me saúda e me fala dos problemas da vida. E Hugo, empregado de mesa da casa, que me fala da Académica e me diz que tenha fé no êxito dos “estudantes” - uma amabilidade. Depois a cidade, na sua vida morna. Da farmacêutica que me conhece há longos anos e não tendo o produto que eu necessitava se meteu no carro e o foi procurar, mesmo sendo a compra de valor insignificante. Da calma e da ordem das gentes que junto ao pavilhão de vacinação aguardavam a sua vez. E da simpatia dos profissionais que ajudam a mitigar este pesadelo coletivo. Como está bela a capital da Beira Baixa ! Das filhós às resmas no escaparate das lojas de alimentação. E dos bolos regionais e do pão do Salgueiro do Campo com a côdea a estalar. Mas o melhor de tudo são as gentes. De sentirmos que partirmos sem partir. De nos percebermos estimados e albicastrenses de adoção. Fechar a porta e abandonar a cidade e regressar às margens do Mondego. Um travo amargo – doce e olhar o Castelo altaneiro, sentinela da planície. O contentamento de regressar em breve, caminhando pela estrada e pela vida como quem vai tecendo em horas de lazer e de prazer um bordado de Castelo Branco.

Kito Pereira        

quarta-feira, 28 de abril de 2021

COSTUMES E TRADIÇÕES DA BEIRA ALTA Texto de Georgina Ferro

O ti Francisco trabalhara uma vida inteira naquele labutar árduo do campo, onde raramente entrava o arado pela pequenez das suas terras. Eram os seus braços que levantavam e baixavam o sacho e a enxada que abria a terra; os mesmos braços que seguravam o machado e a pedoa para arranjar lenha;  ou o malho e mangual para debulhar o grão, feijão, centeio, cevada...os mesmos que, com devoção seguravam um varal do pálio em dias de procissão ... 

     No fim do Verão adoecera com as maleitas e não houve mezinha que o revigorasse. Dia a dia definhava, dizia a sua Benedita, limpando algumas lágrimas na aba do avental.

      Se a família já era tão pobre como iriam sobreviver a sua mulher  e as duas filhas sem o seu amparo, diziam as pessoas muito condoídas, que tentavam repartir o quase nada que tinham para lhes matar alguma fome. O pior foi quando o frio arribou descontrolado, ora em louca ventania, ora em forte enxurrada ... 

     Certa tarde, os sinos desataram a dobrar, numa toada longa e triste. Foi um anoitecer que quebrou a rotina das noites frias da minha infância!

      Eram cinco da tarde e a escuridão da noite já se preparava para adormecer deitada na alvura dos lençóis da neve que cobriam a terra.

 Minha tia corria de eira para beira, a espreitar a cama da Mimosa, a achegar-lhe mais uma faixa de feno, a tapar a capoeira das galinhas já resguardadas, a fechar bem a cortelha do marrano, a apanhar umas torgas para atear o lume e dispunha-se a subir as escaleiras quando reparou na altura da neve que as cobria. Voltou à loja e subiu as escadas de madeira que abriam para a sala pequena por um alçapão. Foi até à cozinha e voltou atrás, de vassoura na mão para varrer alguns galhitos que escorregaram do molho. Aproveitou para apanhar a cinza ainda afogueada para a pilheira, juntou os tições meio ardidos e colocou lá por trás um novo cepo que iria aguentar o serão. Pegou na chaminé do candeeiro a petróleo, passou-lhe um esfregão bem ensaboado, depois por água limpa e pediu-me para, com muito cuidadinho, limpar por dentro com o jornal “Amigo da Verdade” da semana anterior, pois a minha mãozita era pequenina, enquanto ela enchia de petróleo o depósito e puxava a jeito a torcida pelo bocal. Depois, com um galhito do lume acendeu a torcida, colocou a chaminé e pousou-o no pedestal!

  _ Boa noite nos dê Deus! – disse.

 _ Deus nos salve – respondi eu, como me tinham ensinado.

 Depois, foi um ver se te avias. Embrulhou-se no negro xale de lã e de botas de borracha correu ao chafariz a encher o cântaro da água, que acabara de despejar para as panelas de ferro encostadas ao lume. Recomendou-me que não cirandasse perto da lareira enquanto ela não chegasse.  Podia sentar-me a descascar batatas para o caldo escoado.

 Assim fiz. Não tardou a soar o toque das Trindades e a minha tia já arribara.

 _ O Anjo anunciou a Maria...- rezou meu tio que chegava da carpintaria nesse mesmo instante,  e nós fomos respondendo, de pé, com as mãos postas, como era nossa devoção e respeito.

 Iria começar o serão com a monotonia dos dias gelados de Inverno, não tivesse aparecido a Ti Benedita, em soluços, dizer que já se tinha ”matado” (morrido, deveria ter dito) o nosso Chico, coitadinho, que já estava muito doente havia tempo e não aguentara o frio.

 Meu tio acendeu o candeeiro de mão e desceu novamente. Foi cortando umas tábuas de pinho que sempre tinha de lado. Não tardou a ouvir-se o martelar de pregos. Só voltou a subir quando minha tia lhe pediu que viesse que a ceia estava na mesa.

 O caldo escoado quase foi engolido, em pesado silêncio, como se tivéssemos medo que a morte andasse por perto. Minha tia pôs pimentos curtidos na mesa, para acompanhar a sopa, pois a carne cozida ao almoço, agora, parecia não cair muito bem...

 Arredámos a mesa, a tia lavou a loiça, pôs mais umas achas no lume, encostou-lhes uns rebolinhos (pedras redondas apanhadas na ribeira) para levarmos mais tarde a aquecer-nos os pés na cama. Passámos pelo alçapão, só utilizado nos dias muito frios, e fomos para a carpintaria. Meus tios forraram as tábuas com um pano negro por fora. Dentro puseram uma colcha branca de algodão que a Ti Benedita trouxera de sua casa. Depois estendeu-se um tecido de tule branquinho, que iam entufando e eu prendia com preguetas de cabeça com forma de estrelas doiradas. À cabeceira pregámos uns anjinhos, também doirados. Parecia uma caixinha bonita para fazer de berço, pensava eu de mim para mim, sem me atrever a levantar a voz, por respeito à dor que sentia haver à minha volta.

  Georgina Ferro

 

segunda-feira, 26 de abril de 2021

ENCONTRO COM A ARTE - PINTURA

     Maria Guia Pimpão

     Num recanto dum café

     acrílico sobre tela   70x70
 



domingo, 25 de abril de 2021

ESTAR EM ABRIL É ASSIM

 ESTAR EM ABRIL É ASSIM


estar em Abril é assim
uma vontade de ser
de criar e de crescer
num tempo que é de outro modo
o tempo de criar pão
a saber ser mundo todo
sempre ao alcance da mão

estar em Abril é assim
um olhar de frente a vida
por mais que alguém o desdiga
e um desdenhar da sorte
quando se dá a passada
nalguma dura jornada
em que a vida perde o norte

estar em Abril acontece
quando dentro de alguém cresce
um grito cru de esperança
e na espuma do medo
num velho muro se escreve
um poema – um cravo breve
verde e rubro de mudança

estar em Abril é bandeira
que se hasteia numa praça
quando vem lá outro alguém
que é alguém de outra maneira
e na orla da desgraça
canta contigo também
canções no vento que passa

estar em Abril é assim
sentir-se perto de mim
quando a mágoa nos afasta.


ANIVERSÁRIO Fernando Beja Lopes

 FERNANDO BEJA LOPES

25-04-1946

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja 

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!

sábado, 24 de abril de 2021

A CULPA NÃO É DAS ESTRELAS - Texto do Professor Antonino Silva

 A culpa não é das estrelas.


No decurso dos dias que perfazem anos, parece que há estrelas que se ajeitam para “nos fazerem a cama”. A expressão “fazer a cama a alguém” não engana quem a lê e a leitura que resta é disfórica, isto é, não agoira coisa boa. 

Na realidade, para uns parece que se abrem autoestradas para o sucesso, enquanto para outros os caminhos são quelhas para vidas tortas. As estrelas são as culpadas! Ou será que não?

Tenho comigo que cada um é quem traça o seu caminho e devemos, por isso, deixar as estrelas em paz; mas também acredito que há coisas que nos acontecem sem sermos a maior causa disso.

 O exemplo maior foi a vida miserável do Bate-Torto, de Escarigo, uma localidade perto de Caria, na estrada que vai de Monte do Bispo para a Meimoa. O Bate-Torto chamava-se Joaquim Gemunde e tinha esta alcunha porque a herdara do seu pai, um jeitoso que fazia as vezes de ferreiro na aldeia. Como não era encartado na profissão, o pai não aprimorava os trabalhos e batia ao deus-dará na safra. Onde se notavam os maiores defeitos era nos ferros de saibrar, e nas picaretas das minas, que, por serem objetos longos, ficavam irremediavelmente tortos nas pontas. Daí o seu nome. Apesar disso, tinha uma mãozinha certeira para tirar da água os metais incandescentes na altura certa, fazendo a têmpera resistente. Via-se, a olho nu, a linha azul seguir a castanha até ao biquinho, sinal de bom aço e de resistência para mais uns dias.

O Joaquim não tinha mais planos do que casar, ter filhos e continuar a profissão do pai – procurando alterar a alcunha, talvez? – e morrer velho. A mãe é que era um bocado esquisita e nenhuma rapariga da aldeia ou das redondezas lhe agradava: umas porque eram umas delambidas; outras porque eram umas ‘zuratas’. Tinha de ser uma moça mais digna, de preferência, de fora, por exemplo, de Belmonte.

Nos meados da década de 60, eis que o Bate-Torto foi arregimentado para a guerra na Guiné e partiu sem compromisso nem namorada. 

Nessa altura havia uma tradição frequente de os militares, para combaterem a solidão, escolherem uma madrinha de guerra, frequentemente ao acaso, com quem se correspondiam por carta ou aerograma. Alguns conseguiam apalavrar esse contrato antes da partida, mas outros partiam sem nada determinado. O Bate-Torto estava neste segundo grupo.

Quando já levava dois meses de comissão, perto de Bissau, foi aos correios e escreveu uma carta inócua onde se apresentava e colocou no destinatário algo tão difuso como “Primeira donzela de olhos negros que encontrar, Belmonte, Portugal”.

O carteiro que fazia Belmonte conhecia, uma por uma, as famílias da vila e sabia, de cor e salteado, os problemas e histórias de cada lar. Quando lhe chegou a carta do Joaquim, lembrou-se da Leonor Sacristã que vivia na rua da Amendoeira. Sabia que a moça tinha os olhos negros, não destoava na aparência e, de óculos, até parecia bonita. Mas o carteiro sabia também que não era donzela e a idade já pulara mais do que deveria. Com 27 anos e não sendo casada, era aquilo que na altura se chamava “encalhada”. Tivera um namoro que ‘cheirara a ferrugem’ – que durara muitos anos –  e que terminara por causa do seu mau génio e do desleixo nas lidas da casa.

Como tinha alguma pena dela, o carteiro acabou por passar por outras “donzelas de olhos negros” e foi direitinho a casa da Leonor entregar a carta. Com essa entrega carimbou a passagem para o entendimento entre ambos. Trocaram fotos de madrinha de guerra, a Leonor passou depressa a apalavrada, depois a namorada e, finalmente, a noiva.

Quando o Joaquim voltou foi conhecê-la em pessoa. A visão da solidão por terras de Bissau filtrou a capacidade de ver quem tinha perante si e manteve o compromisso. Casaram, fizeram boda e foram viver como caseiros nas Quintãs. A pobre senhora não tinha jeito para nada, nem na lida doméstica nem na lavoura. Muito cedo surgiram as desavenças, as ameaças e as agressões de parte a parte e ambos foram sempre infelizes.

Até hoje, o Bate-Torto ainda não perdoou ao carteiro!

Antonino Silva


sexta-feira, 23 de abril de 2021

ENCONTRO COM A ARTE - - POEMA E FOTOGRAFIA _ Luis Garção Nunes

                    


Tenho uma janela

Que dá para o mar

(...)

Sonhos a partir

Sonhos a chegar

Tenho uma janela

Que dá para o mar

(...)

Chego-me à janela

E não vejo o mar.

________[Mário Castrim












Foto de Luis Garção Nunes

quarta-feira, 21 de abril de 2021

ANIVERSÁRIOS Daisy Moreirinhas

                                                                              

DAISY AMARO MOREIRINHAS

21-04-1949

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS
 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

ENCONTRO COM A ARTE - PINTURA


      E TUDO VENTO LEVOU...

      JOSÉ DA COSTA(denominação artistica) 

      António Seixas(Bairro Norton de Matos-Coimbra

domingo, 18 de abril de 2021

NOTÍCIA TRISTE


 FALECEU

ANTÓNIO SILVA GASPAR

1926-2021

Sócio nº 1 do Centro Norton de Matos

Encontro de Gerações apresenta a toda a família

sentidas condolências

Cremação do corpo no Complexo Funerário de Taveiro, amanhã Segunda Feira, dia 19 pelas 11H00




 No 4º aniversário do Encontro de Gerações e seis décadas do CNM


VÍDEO OFICIAL DE COIMBRA A CAPITAL DA CULTURA

sábado, 17 de abril de 2021

ANIVERSÁRIO - Rosa Miranda Rodrigues

ROSA MIRANDA RODRIGUES

17-04-1948

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

O PIQUENIQUE

 O Piquenique


O dia estava lindo, coberto de sol e não se via nem uma nuvem no céu. Os pais aproveitaram para preparar um piquenique no parque. Todos ajudaram a colocar a comida na cesta e as mantas no carro. Estava tudo a postos para um grande dia de brincadeiras e correria. Quando chegaram, a Helena foi a primeira a correr até ao riacho para ver se a água estava boa para molhar os pés. Estava ótima e a ansiedade era tanta que, se não fosse a mãe a chamá-la, atirava-se para a água, sem pensar.

Tinham primeiro que comer qualquer coisa e esperar que o sol não estivesse tão forte para poderem ir à água. O Simão era o único que não parecia muito interessado em aproveitar. Agarrado ao telemóvel, não tirava os olhos do ecrã e do seu jogo.

- Anda brincar! Dizia a Helena enquanto corria.

- Já vou! Respondia o Simão.

Mas a Helena já sabia que aquele ‘já vou’ ia durar uma eternidade e que iam voltar para casa sem que o Simão olhasse, sequer, para o riacho que tinha mesmo à sua frente. A Helena não pensou duas vezes e, depressa, fez uma amiga para brincar com ela às escondidas. As gargalhadas das duas meninas entoavam no parque mas o Simão, nem isso ouvia.

Quando os pais acabaram de arrumar o cesto do almoço, o Simão ainda estava sentado no mesmo lugar. Com o boné na cabeça e as pernas encolhidas, parecia que estava no sofá da sala, onde costuma passar a maioria do seu tempo. A mãe chamou mas ele nem ouviu, até que o pai se aproximou e lhe tirou o telemóvel das mãos.

- Ei! Eu ia mesmo agora passar de nível! Gritou o Simão irritado.

- Oh!!! Que pena! Exclamou o pai. Mas agora, o nível que vais passar é o daquele carvalho ali ao fundo, junto da fonte. Quem chegar primeiro, ganha!

O Simão sorriu, levantou-se num salto só e saiu disparado em direção ao carvalho. As pernas do pai já não são o que eram e o Simão ganhou a corrida.

- Ganhei! Ganhei! Gritava ele, de alegria.

- Pois ganhaste! Acrescentou o pai. Agora, olha à tua volta e observa bem tudo o que te rodeia. Sente os cheiros, absorve as cores e ouve os sons da natureza. Fecha os olhos e respira fundo. Diz lá se isto não é muito melhor do que um jogo no telemóvel? Concluiu o pai, num sorriso.

O Simão sorriu e, sem que o pai estivesse a contar, exclamou:

- Vai uma corrida de volta até à mãe. O último a chegar prepara o lanche.

Maria de Fátima Saraiva


quinta-feira, 15 de abril de 2021

COIMBRA DE OUTROS TEMPOS - QUEIMA DAS FITAS - DIA DA PASTA...

Venda  das pastas com poesias,

e com as cores das faculdades, pelas meninas , acompanhadas por Estudantes

Tradição que ainda se mantém

                             Casa da Infância Doutor Elysio de Moura

Foto Old-Coimbra

terça-feira, 13 de abril de 2021

ANIVERSÁRIO Vitor Fernandes Costa

VITOR MANUEL FERNANDES COSTA

13-04-1946

Nesta data especial...

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segunda-feira, 12 de abril de 2021

RAIZES Texto de Kito Pereira

 


RAÍZES …

 

Penamacor, no interior da Beira Baixa, foi um penedo sombrio na vida de Rui Felício. Várias foram as vezes que falou no assunto e do degredo que foi essa sua experiência na juventude. Momentos difíceis, mas que a frescura da idade ultrapassou, para hoje, no folhear das páginas do livro de memórias, relembrar, se calhar com uma inquietante saudade, mais um momento pardo da sua vida militar. Mas talvez o jorrar da fonte de água límpida da Aldeia do Bispo, lhe traga à boca um sabor a mel. Quando um coração no zénite da pujança, partiu à desfilada, alvoraçado com a saia rodada de alguém que  tinha como missão ensinar as crianças a juntar as letras e as palavras. E a brincar com a fantasia dos números em complexas combinações para a mente daqueles pequenos seres de palmo e meio.

Todos, sim, todos, passámos por estes momentos. Fosse numa aldeia distante ou no bulício de uma cidade, houve sempre uns olhos que se cruzaram com os nossos e, no ímpeto da juventude, nos fez sonhar em dias e noites de exaltação, quando descobríamos em nós, com entusiasmo, uma escondida veia poética, por vezes ridícula porque, parafraseando Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa … “todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam ridículas, se não fossem cartas de amor” …

Mas há as raízes. As raízes daqueles que nasceram naquele rincão da Beira Baixa. É o caso de um advogado meu conhecido. É sempre na praia que o encontro. De mãos atrás das costas, meditabundo, vai olhando o mar. Farto de leis, decretos-lei, portarias e despachos, o João vê no mar algarvio, o remédio para a rotina e o cansaço. Mas é lá, muito mais a norte, que vai ao encontro das suas raízes. Gosta da sua terra – Penamacor. Gosta das suas gentes e dos bocados de terra que os antepassados lhe legaram. Gosta da casa que herdou e que reconstruiu com amor e um dia me mostrou com orgulho.

O Lemos era transmontano. Num momento de aflição, salvou o alferes num momento que poderia trazer ainda mais graves consequências, do que aquela espécie de deportação.  Mas não me admirou. As gentes daquela zona de Portugal, são amigas e solidárias. Mas o inverso também é verdadeiro. No momento de uma ofensa grave, ninguém os queira como inimigos.

Mas é de raízes que estamos a falar. Recordo aqui e agora, aquele casal com dois filhos que vive em Miranda do Douro. Terra pequena e singela, encostada a Espanha, paraíso de feirantes, que atravessam a velha ponte de pedra sobre o Douro ao fim de semana, para vender as suas roupas, tecidos e atoalhados. É ali, naquela cidade, que um dia os conheci. Falam o mirandês com orgulho, carregando nas palavras que lhes brotam dos lábios, com a força interior de quem, pela deslocalização geográfica, se habituou a viver sozinho. Confidenciaram-me que é no sul do país, que gostam de gozar as férias. Por isso correm Portugal de lés a lés, na procura do mar brando e reconfortante que a sua terra não tem. Mas, na hora do regresso, quando ao longe já se divisam as duas torres - sineiras da Sé de Miranda do Douro, perpassa neles um frémito de emoção. É ali que vive, numa redoma de vidro bem vigiada o Menino Jesus da Cartolinha, imagem muito venerada pelos povos da região. Então, com alegria, regressam à sua minúscula cidade, para mais um ano de expectativas e canseiras. Mas jamais, jamais mesmo – como me disseram com determinação - se sentiriam felizes noutra terra. Raízes …

Kito Pereira            

 

domingo, 11 de abril de 2021

ANIVERSÁRIO Rosa Adão

ROSA ADÃO

11-04-1942

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MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!


 

sábado, 10 de abril de 2021

IN MEMÓRIAS & TRADIÇÔES


 -" Ó nino, vai-me lá num pé e vem noutro e trás-me meio litro de lixívia. Eu pegava na minha currica (trotinette feita de cana e roda de madeira), encostava-a ao ombro, e lá ia. Não podia “ir a pé”! Lá, era ao Petrolino, uma espécie de almocreve, que trazia aos recantos da freguesia tudo o que hoje se chamaria, numa linguagem coloquial, produtos de higiene e limpeza. A carrinha (antes carroça puxada por cavalo ou mula) parava no largo do Cordavão e as pessoas acorriam a comprar os bens que necessitavam fora da área da  alimentação. Os aromas eram fortes e acidulados, como que laboratoriais. Álcool para queimar, petróleo, lixívia, sabão amarelo e azul, soda cáustica e outras miudezas como esfregões de palha de aço, vassouras e piaçás. O nome deste último deriva de piaçaba, planta da família das palmeiras que fornecia matéria prima para os produzir, bem como às vassouras. Achei importante deixar aqui essa informação sobre tão útil objecto da nossa vida quotidiana. Não quero mentir, mas, apesar do que disse acima, tenho ideia de que para além destes produtos os Petrolinos também vendiam azeite avulso. Não sei se na altura já existiam “asais”, mas a verdade é que nessa época o azeite era um produto multifacetado . Isto é, tanto servia para comer, como para lubrificar fechaduras, dobradiças e rodas de carros de bois e ainda para tratar maleitas de reumático e de mau-olhado.   Hoje em dia, estes produtos só se encontram nas resistentes drogarias, ou nas grandes superfícies comerciais. Para mim, de certa maneira,  isso constitui um retrocesso civilizacional pelo facto de teres de fazer km para os conseguires obter…..e o pior é que eu que já não tenho a minha currica..." in Memórias & Inspirações

Por José Passeiro

sexta-feira, 9 de abril de 2021

ANIVERSÁRIO Henrique Vieira Melo

HENRIQUE VIEIRA MELO

        RIRI

09-04-1951

Nesta data especial...

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MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

INTERLÚDIO MUSICAL Rui Pato - Temas do filme "Ilha Nua"

ANIVERSÁRO - Cândido Ferreira

CÂNDIDO MANUEL FERREIRA

07-04-1949

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS

                                                                         




ANIVERSÁRIO - MANUEL SOARES

MANUEL PINTO SOARES

07-04-1958

Nesta data especial...

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MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!
 

terça-feira, 6 de abril de 2021

domingo, 4 de abril de 2021

A ROTUNDA FACE DE DEUS - de RENATO ÁVILA

 A ROTUNDA FACE DE DEUS

Deus?

Pessoalmente,

Não O conheço!

Jamais Lhe vi a face!

Preto?

Branco? 

Amarelo…?

Quantos olhos?

Quantas orelhas?

Meus olhos varrem o firmamento,

Minhas mãos apalpam o espaço…

Todavia, em vão, 

Não O encontro.

E, no entanto, 

Tudo me fala d’Ele.

Leio nas linhas e entrelinhas

De bíblias e alcorões, 

Das teodiceias,

Das escatologias,

Das resmas de escritos

De crentes e agnósticos

Das aparições 

E outras revelações

E só me falam duma voz  

Grave e solene,

Poderosa!


Da face,

Nem um traço, 

Um reflexo!


Os crentes,

Fervorosos,

Aguardam piamente

O etéreo momento

De O verem

Com os olhos da alma!

Os artistas

Deram-lhe rosto humano,

O rosto do juízo final!


Na miraculosa, 

Na deslumbrante complexidade da Criação,

A conhecida e a desconhecida, 

Por que imperativo teria o Criador

Este humano frontespício???


Abri desmesuradamente 

Os olhos,

Remexi aturadamente 

O espírito,

Devassei todos os horizontes 

Possíveis,

Imaginários,

Bisbilhotei todos os recantos

Todos os escaninhos,

Apontei telescópios e microscópios,

Mirei quadros e esculturas,

Monumentos e demais arquitecturas

E comecei a entender

O selo da divindade.


O rotundo,

Circulante,

Rolante,

Coleante,

Enleante…

O ancho, 

O abrangente.


Os astros e os seus movimentos,

A gota de água caindo na flor,

As ondas do mar enrolando na praia, 

As velas pandas ao vento, 

Os animais e os frutos da terra,

As aves do céu,

 Os peixes do mar…

A ovular universalidade da procriação,

Os rituais da fecundação,

O diligente cirandar da abelha,

As danças corteses e nupciais 

O gentil balancear da flor…

A rotunda imagem da gestação.


E o arredondado esmero 

Dessa diva obra-prima:

A mulher?!

As caprichosas ondas dos cabelos,

O cintilante arredondado dos olhos,

O elíptico desenho dos lábios,

A sigmática leveza dos ombros,

A cósmico arredondado dos seios,

As lascivas ondulações das ancas e da cintura,

O suavíssimo torneado das pernas,

Meneando,

Ondeando, 

Requebrando…

O  sacrossanto, 

O esférico esplendor 

Da maternidade…

Os círculos do afecto:

O beijo,

O abraço…

O generoso,

O infinito

Amplexo do amor!


Meu Deus,

Em tanta beleza,

Em tanta justeza,

Em magnanimidade tamanha, 

Extasiados,

Os meus olhos divisam

O rotundo da Tua face!


Páscoa de 2021


sábado, 3 de abril de 2021

ENCONTRO COM A ARTE - PINTURA

 Páscoa à minha maneira, acrílico espátula sobre tela, 60x90.

José Da Costa ( António Seixas- morador no Bairro Norton de Matos)



sexta-feira, 2 de abril de 2021

ANIVERSÁRIO Carlos Alberto Gomes - NITO

                                                                                                                    

Carlos Alberto Campos Gomes

                 NITO

02-04-1945

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!