terça-feira, 21 de dezembro de 2021

ENCONTRO COM A ARTE- PROSA Conto de NATAL

                                                                    NATAL

Era véspera do dia de consoada. A Pepa estava  triste. A avó tinha morrido no ano passado. Ela trazia sempre um punhadinho de farinha  de Navas Frias para fazer o alguidar de barro grande cheio de filhós. Assim que começava Dezembro, todos os dias punha de parte um dos ovos das suas galinhas, pois que, as marotas punham muito poucochinho nesta altura do ano. Era uma alegria para a Pepa quando a avó lhe pedia para ir mercar o açúcar ao comércio. E tinha sempre os tostões contadinhos e certos para lhe dar.  Lá ia ela aos "pintchos" pelo pontão até ao comércio, a aviar o recado à avó. 

     Hoje, a mãe também já tinha os ovos de lado. A ti Maurícia mandara-lhe um taleguinho de farinha que trouxera de Valverde. Ainda havia anis "escartchado"  na garrafa do guarda-loiça da sala e pó de canela... Só era preciso ir mercar o açúcar. Aí é que estava o problema!... A mãe não tinha dinheiro. Não podia mandar buscar fiado porque ainda não tinha ido pagar meio quartilho de petróleo e uma caixa de fósforos que lá devia há mais duma semana.  Bem rebuscara as algibeiras, a gaveta... mas nem um tostão preto encontrara.

Por fim, lá se encheu de coragem e mandou a Pepa pedir um cartucho de meio quilo de açúcar que logo pagava.  Só que o senhor Anacleto respondeu-lhe que não podia aviar porque a mãe ainda estava a dever desde o mês passado. 

     Os olhos da Pepa arrasaram-se de lágrimas. E se dera muitos pulinhos até lá, muito mais depressa voltou para casa. 

     No comércio estava a tia Maria. Tinha o dinheiro contadinho para um quilo de açúcar.  Pediu ao senhor Anacleto que lhe pusesse meio quilo em cada cartucho e saiu dali apressada. 

    Ainda a Pepa estava a contar à mãe o que tinha acontecido quando ela bateu com a aldraba na porta. 

     _ Quem é?  _ acorreu à porta a ti Zefa. _ Ai!, é vossemecê, ti Maria?! Entre, entre...

     _ Toma. Faz as filhós para a canalhita. Não te esqueças que o Natal é para os meninos pequenos! 

     Só houve um abraço porque as palavras ficaram "engasgadas" nas gargantas.

    _ Bem, tenho de ir, que ainda não fiz o caldo para o almoço.

     _ Deus lhe pague, ti Maria.

     A Pepa veio a correr e prometeu :

     _ Quando eu for grande vou fazer-lhe um alguidar cheio de filhós, está bem?!!!

    A tia Maria riu. 

     Passados muitos, muitos anos, num dia de Consoada, alguém bateu à porta.

      A Pepa viera de França passar o Natal à aldeia. Fizera um alguidar de filhós e viera ao Alentejo trazer a sua promessa à tia Maria.


Por Georgina Ferro


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