segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Fui fazer Meditação

Já há mais de 30 anos que não ia ao Penedo da Meditação.
Estando localizado fora dos circuitos turísticos «normais» de Coimbra, soube da sua existência, na altura, por uma planta da cidade em que era referenciado.
Soube aqui que aquele miradouro está numa "cornija greso-conglomerática, favorecida pela inclinação para Oeste das camadas do Triássico e pela erosão da Ribeira de Coselhas" (e a cultura é uma coisa muito bonita).
Para quem não sabe, o Penedo da Meditação fica na Rua Adriano Correia de Oliveira, a uns 100 metros da Circular Interna:


Consta que foi lugar inspirador dos poetas José Régio, António Nobre e Eugénio de Castro.
Isabel Rebelo resume muito bem: "até meados do século XX, foi um local ermo, bucólico, muito frequentado por estudantes. Hoje está na zona do Hospital, rodeado de casas, junto à circular interna da cidade. Já não é um local propício à inspiração poética de outros tempos. Olhando para baixo vê-se, lá no fundo, o serpentear da circular externa de Coimbra e ouve-se o barulho dos carros a passar. Mas, para quem já esteve naquele local umas décadas atrás, sente ainda, ao pisar de novo aquele chão, a magia do lugar. Talvez a presença de duas rochas com excertos, gravados em azulejo, de poemas de António Nobre e José Régio contribua para esse clima mágico."






O muro branco... não está branco...




Um troço do muro abateu e até está um perigo para quem ali passa...



A quadra de José Régio:

- Penha da Meditação...,
Silêncio que paira em tudo!
A terra e o céu dão a mão
Num longo colóquio mudo...


Actualmente, o que menos ali se encontra é silêncio, com o trânsito constante na Circular Externa, que corta todo o vale. Fiz este video, sem o som editado para se perceber melhor a ideia. Ouve-se inclusivamente uma mosca que não me largava com perguntas (em linguagem de mosca)...




E tinha que haver uma foto com grades!


A malta tem muita falta de pontaria...




O poema de António Nobre:

Vamos por aí fora
Lavar a alma, furtar beijos, colher flores.
Por esses doces, religiosos arredores.
(...)
Santos lugares, onde jaz meu coração,
Cada um é para mim uma recordação.













E não estive sozinho nesta visita. Além da mosca cineasta, encontrei este pequeno gafanhoto.


Agora, uma farpita... por que motivo a Rua Adriano Correia de Oliveira não tem nenhuma placa identificativa...


... quando até esta estreita ladeira, que desce a partir de lá...


... tem direito a uma placa?!


Como se comprova, Coimbra tem mais encantos!

32 comentários:

  1. Grande reportagem!
    Tá cá tudo sobre este lugar mítico de Coimbra e...tão abandonado!
    A Última vez que o visitei não terá sudo há 30 anos...mas não deverá andar muito longe!
    As fotos e legendas são bem elucidativas sobre os problemas deste local, mas o vídeo está mesmo super!!!
    Vou fazer um aumento de ajudas de cus(t)po...É merecido!

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    1. Tu á perto de 30 anos e eu nem sei onde é!!!.., mas já tinha ouvido no Penedo da Meditação.
      Se eu escrevesse aqui o que não conheço de Braga!!!
      Fernando AZENHA

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    2. Azenha, para a malta que não sabe é que eu pus o mapa em primeiro lugar.
      Abre aço!

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  2. Morei aqui em frente durante onze anos. A casa, que ficava no meio de um terreno, está hoje à beira da circular...Quando fui para lá, até as conversas que (ainda) havia no penedo, eu ouvia em minha casa, uma maravilha! Cucos, gaios, pintassilgos, carriças e até periquitos que se libertaram de gaiolas, peixes e enguias na Ribeira, de tudo um pouco havia...e acabou, quando expropriaram aqueles terrenos e rasgaram a estrada.
    Desde aí, nunca mais fui ao Penedo da Meditação (atravessava o terreno dos meus senhorios e subia um carreiro que tinha saída no Penedo) era um dos meus passeios com as cadelas...
    Mas o que me fez ainda mais falta, foi o silêncio...e ouvir de noite um mocho de um lado da casa e a coruja que morava mais acima.Que saudades!

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  3. Sem dúvida, Teresita. O que mais custa ali, para quem conheceu aquele local antes, é o ruído constante do trânsito.

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  4. Excelente reportagem do Paulo Moura.
    Gostava do Penedo da Meditação e sempre que mostrei Coimbra a visitantes, este local fez parte do meu roteiro. A última vez que me lembro de lá ter estado, foi com a minha filha em dois mil e um.
    Sempre o conheci práticamente abandonado mas valia pela paisagem e pelo sossego.

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  5. A mim, o que me põe mais triste é ver, por esse mundo fora, lugares sem a beleza nem o miticismo do Penedo da Meditação e serem bem aproveitados. Muitos deles até rendem, e bem, com o aproveitamento turístico.
    Com a reportagem do Paulo, vê-se bem que nunca ninguém quis saber daquele lugar. Nem os moradores dos arredores se interessam pelo assunto! É triste ver lugares destes totalmente ao abandono. Temos muitos mais casos em Coimbra e alguns já aqui foram referidos no EG. Por exemplo, a Fonte do Castanheiro!... A Fonte e tudo à volta, desde a Arregaça, Hortas até à rua Verde Pinho... está tudo abandonado.
    No Domingo passado, fui ver, para fotografar, a escultura do Vasco Berardo, de homenagem à música. Pois além de não haver placas de orientação, fiquei desiludido com o espaço envolvente (e até nem é dos piores)!... A escultura ainda vai durar mais meia dúzia de anos, mas pela degradação e abandono, não espero muitos mais!

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    1. Publiquei no face do Vereador Carlos Cidade!

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    2. Alfredo Moreirinhas,
      Gostei muito deste teu comentário pois tens andado por fora e tens visto o que é o aproveitamento turístico. Às vezes quando uma pessoa fala de fora, pode dar a impressão que está a dizer mal do seu próprio país mas não é o caso. É só transmitir o que vai vivendo pois muito se pode fazer só com ideias e sem muito dinheiro. Muitas vezes os retornos são muito superiores. Ainda bem que vieste com este comentário.

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  6. No "Penedo da Meditação", já não se medita nada. A sinfonia do apito, matou a poesia ...

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    1. Apitos até são poucos... e sirenes das ambulâncias também, pois ali há duas faixas em cada sentido e normalmente não há bloqueios de trânsito. Mas, como podes constatar pelo video, o som dos motores é constante. E, como dizes, nada poético.

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  7. Abandono, o que conta.
    É por todo o lado,é muito triste mas é o que temos.
    Recuperar destas coisas não da votos.
    Tonito.

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  8. Boa amostra do que não se deveria fazer...
    Descurar locais lindos,com uma paisagem deslumbrante,com a tranquilidade de campo dentro da cidade,local de recolhimento íntimo....
    Há quantos anos não vou lá!

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  9. Vejo que há pessoas a se interessarem por Coimbra e cada um vai fazendo o que pode. Porque não se juntarem e formarem um grupo dando-lhe um nome como "Amigos de Coimbra" como exemplo ou outro nome e iniciarem um excelente grupo de pressão. Esses grupos resolvem muitos problemas. Vamos juventude. Uma ideia.

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    1. Chico, eu nem na minha rua consigo que ponham um passeio...

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    2. Por isso mesmo, atitudes individuais "por vezes" funcionam mas quando grupos de pressão, resolvem mais problemas. No Bairro Norton de Matos quando foi o problema do nome do parque da praça dos Açores, só a correspondência que a Cãmara recebeu originada pelo João José Ferreira neste blogue, deu logo efeito.
      Os grupos de pressão marcam muito nas reuniões camarárias e outras, assim como nos jornais. Quando é um grupo de pressão que escreve para os jornais, habitualmente não sai no mesmo local que um assunto apresentado por um individual. Na rádio e tv, têm muito mais influência. Se na tua rua um grupo de pressão fizesse um porta a porta depois das dezoito horas, haveria quem enviasse um email para a cãmara. Se não funcionasse, seria depois os jornais e seguidamente rádio para em último, tvs. Os grupos de pressão têm muita força porque nunca se sabe qual vai ser o seu desenvolvimento. Podem logo de início evitar este estratagema convidando os médias para uma reunião do grupo de pressão, o que dá muito resultado pois todos querem fazer saír a notícia em primeira mão. Pode ser uma autêntica bola de bilhar a tocar em muitos lados.
      Bem, já que andam com hora são sete e trinta e sete e levantei-me às cinco e trinta. Vou saír.

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    3. No caso de Coimbra, seria chamarmos o «Diário de Coimbra», «as Beiras», o «Campeão das Províncias»...

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    4. Talvez exista... mas a mim não Desperta...

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  10. Hoje o Paulo traz-nos um filme nada edificante para a cidade!
    Acordemos!!!

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    1. Eu acordei às sete :O)

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    2. Eu também acordo sempre por essa hora. Bebo muita água durante o dia... 3:)

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    3. Até aqui fazes o diabinho do Facebook, seu... diabinho :O)

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  11. Respostas
    1. E TRABALHAI!, não é o que queres dizer? Tens cá uma lata!
      Um administrador que se dá ao luxo de desaparecer dias, semanas, meses...
      Chega a assobiar e vê esta espécie de blogue a andar.
      Não paga um cêntimo a mais (nem a menos) de ajudas de cus(p)to a ninguém a não ser ao Moreirinhas que bem o engana, a fingir que anda a fazer reportagem longe para caraças.
      Devias beijar o chão que alguns (X) dos teus colaboradores pisam...

      (X) - Eu, depois, em nota pessoal e confidencial te direi quais.

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    2. Isso, isso, pede-lhe o ordenado mínimo (no mínimo) para nós, nessa nota pessoal e confidencial.

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  12. Eu já tinha visto esta excelente reportagem do Paulo mas em diagonal. Tencionava vê-la com vagar, incluindo o "aqui".Entretanto, ela foi "descendo" e quase me tinha esquecido dela.
    Mas pior do que eu me esquecer dela, é os serviços de higiene da CMC esquecerem-se totalmente que existe. Só isso justifica que seja visível, por exemplo, a falta de pontaria dos visitantes...
    Isso e uma pequena intervenção dos serviços chamados de Jardins e Zonas Verdes, alteraria radicalmente a situação. Como se vê, não é exigir muito para que um dos mais belos e carismáticos espaços de Coimbra fosse mais acolhedor.
    Também nada custava à Toponímia colocar a placa identificativa da rua de Adriano.
    Enfim, são estes pequenos pormenores que, somados, fazem a grande diferença entre uma Cidade bem e mal tratada.
    Quanto aos grandes responsáveis, por estas e muitas outras questões que em termos de Câmara são consideradas como de pormenor, tenho a minha teoria e sei como a levava à prática mas também sei que não me adianta nada estar aqui a massacrar-vos com questões que são muito discutíveis.
    Ai, mas que a coisa ia, ia!
    Mas, mesmo assim, visitem o Penedo da Meditação, também chamado da Saudade.

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    1. Ó Carlitos, publica lá um post (de certeza que irá levar a mais) com as tuas ideias para a cidade.
      Mas não confundas o Penedo da Meditação (nos Olivais) com o Penedo da Saudade, pela tua rica saudinha...

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