sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A BAIXA DE COIMBRA Doc Palmira Pedro


A BAIXA DE COIMBRA no SéC. XX
Tendo sido contactada em 2015 para dar a minha opinião àcerca da Baixa de Coimbra, e encontrando hoje este doc. vou dá-lo a conhecer, aos meus amigos...
Acrescentarei, alguns pormenores que a meu ver nestes 4 anos serão de referenciar...

1.P- Qual é, na sua perspectiva, a diferença entre a Baixa do Século XX e a Baixa do Século XXI?

R - Embora sempre morasse na Alta (Almedina) foi na Baixa de Coimbra que passei os melhores anos ( entre 1960 e 2000) sempre local da minha vida de trabalho. Largo da Sota, Rua António Granjo, Av. Fernão de Magalhães. Conhecia as Ruas, as pessoas, e todo o comércio da Baixa.A Baixa era linda. Muito movimentada. Quase em todas  as portas, havia comércio. As ruas e Becos conhecidas pelos nomes dos seus mest res, davam a conhecer os produtos que ali se comercializavam: sapateiros, correeiros, azeiteiros.carvoeiros, padeiras, carqueja, da louça, dos oleiros, etc. bonitas lojas, bonitas montras: de porcelanas, de vidros, de tecidos,  de lãs, as drogarias, os bazares, as retrosarias, as fábricas, os cafés, os armazéns… Os bons dias a cada passo, as relações de vizinhança, a confiança,  a amabilidade,o sorriso,   tudo isto marca uma diferença abismal entre a Baixa do século XX e a do Século XXI. É certo que se verificaram melhorias nos pisos das Ruas, maior limpeza, mas eu,  pessoalmente, amava a Baixa que conheci.
( direi hoje:- Os mesmos pisos, mais estragados,  Ruas mais sujas, maior distância)

2. Tem alguma memória marcante da Baixa? Se sim, qual? 

Sim. Tenho episódios marcantes… Quando chegava o Inverno e o Basófias transbordava do seu leito para aquelas ruelas inundando as casas, rés do chão, e tínhamos de sair dos locais de trabalho, transportados em carroças, puxadas por homens,  para os pontos mais altos! No auge da nossa juventude era hilariante, O Largo da Sota era também o leito do Rio…O parque da cidade, a Av. Fernão de Magalhães, mas a partir de 1979, com a construção da Barragem da Aguieira, terminaram as cheias na Baixa de Coimbra, que tantas preocupações causavam às pessoas que moravam abaixo do nível das ruas.
Lembro também a primeira vez que vi Coimbra! A Festa da Raínha Santa, aquele Largo da Portagem, a antiga Ponte de Ferro, substituída pela actual em meados do século XX os reclamos  luminosos, meu Deus! Estava na Baixa de Coimbra. Inesquecível. As fogueiras de S. João no Largo do Romal,  os fogareiros de carvão às portas onde as donas de casa ou das tabernas, fritavam ou assavam o peixe, ou faziam as filhoses, Nas Ruas, pregões constantes: peixe, hortaliças, frutas, doces, e tantos outros produtos que as vendedeiras traziam dos arredores da cidade. A Baixa tinha vida…Quem se lembra do Nacional e das bonitas matines dançantes? DO CINEMA TIVOLI sempre esgotado aos sábados e domingos? A Baixa era linda, era  a nossa sala de visitas !

P -Qual era a essência da Baixa, em sua opinião ?

R - Para mim , tudo o que descrevo nestas duas perguntas, era a essência da Baixa de Coimbra, de um espaço habitacional e comercial que se desenvolveu fora das muralhas, que criou características próprias as quais manteve durante séculos.  Passear na Baixa era obrigatório. Era um prazer. E todos nos cumprimentava-mos, todos nos conhecíamos...

P-   O que representou a Baixa, para si ?

R – Vou tentar responder a esta pergunta, mas tendo em conta que a Portagem, as Ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz, Praça 8 de Maio e Rua da Sofia, fazem a separação entre a Alta e a Baixa de Coimbra, tem por isso de ser apreciadas conjuntamente. .
 Estas ruas, mantém ainda o comercio activo, e dignificam a cidade. Belas construções que podemos remontar ao século XVI/XVII,  e seguintes, fazem deste espaço numa divisão acentuada entre uma e outra parte. Continuam a representar uma artéria principal, com alguns melhoramentos significativos, com animação, mas com pouca vida diária. As grandes superfícies comerciais motivaram a situação actual. As montras bonitas das lojas: O “NOVAIS” O “ÚLTIMO FIGURINO” o “LEÃO D’OURO” a “ MARSAN” a “NOVA PARIS” a ourivesaria “PATRÃO” que passaram gerações, hoje em parte substituídas por lojinhas, com futuro limitado!
Isto representa, SAUDADES! Sim sinto saudades! A Baixa representou para mim o dever de a visitar diáriamente , era o coração da cidade.! (Direi hoje:- 4 anos passados - ainda existe alguma das mencionadas lojas ? Eram lojas de grande nivel !! e tudo o vento levou...Apenas os resistentes- Coelho, Enxovais, Linhos e pouco mais, conservam um sorriso e vão cumprimentando quem passa..)

5.P -  Acha que algo mudou na Baixa com a classificação de Coimbra como Património da UNESCO? 

R - Penso que pouco mudou, até porque é tudo muito recente, muito há a fazer sobretudo na recuperação e na revitalização da Baixa. O mesmo que dizer da cidade. É preciso investir nas pessoas para que possa haver progresso, e nem sempre isto é tido em conta.
(4 anos passados:- Coimbra a 3ª cidade do PaÍs- hoje 13ªou menos ?- )

6 P -  O que torna a Baixa tão especial para pertencer à área do Património da UNESCO?

R - Como me baseei na Baixa de Coimbra nas respostas dadas, no espaço que sempre designei por Baixa, só poderei acrescentar que o Eixo” Portagem /Sofia, assim como toda a colina,  é demasiado valioso e bonito na arquitectura e na  historia, digno por isso de fazer parte do Património da UNESCO. Prezo-me de também ter lutado  muito por isso,  enquanto fui autarca.-(4 anos depois –Autarcas que poderiam ter mantido   Coimbra,como  a 3ª cidade, com maior dignidade, são excluídos (ver M.do Corvo) Mas há quem goste!! )

`Esta, foi e é,  a minha opinião, respeito a vossa !
 Palmira Pedro
Ex-autarca-Presidente Junta Freguesia ALMEDINA

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