terça-feira, 12 de novembro de 2019

OS CROMOS....


"A malta juntava-se no balcão da Capela do Espírito Santo, antiga junta de freguesia, para fazer a transacção.                      O produto eram cromos da bola, mas alguns chamavam-lhes bonecos, e o valor de cada um era determinado pela sua raridade e dificuldade em os conseguir.                                Assim um Rui Rodrigues (Académica), valeria 3 Fanecas (Barreirense). Mas um Benje (Varzim) já poderia valer 5 Capitães-Mor (CUF) Ui…havia maning de Capitães-Mor… Quem tinha um Quinito (Belenenses), um Custódio Pinto (Porto), um Pedras (Sporting) ou um Malta da Silva (Benfica) era um senhor, pois eram considerados números da sorte!           Nunca soube bem o que isso queria dizer, mas era assim que a maralha mais velha lhes chamava e portanto eu não tinha mais que chamá-los da mesma forma. Quando não resultava o mercado de trocas, jogávamos ao Bafa, um jogo que consistia em cada jogador colocar o mesmo número de cromos virados para baixo, numa superfície plana e com a palma da mão, através de uma pancada seca, virar o maior número deles possível com a face para cima. Ganhava os que conseguisse virar. Gajos com grandes manápulas, como era o meu caso, tiravam vantagem disso. Mas essa práctica fazia com que os bonecos ficassem puídos de tanta pancada e perdessem valor em relação aos “novinhos”.                                                            A malta só colocava no jogo, aqueles que já tinha repetidos várias vezes, quase a desfazerem-se, e que já mal se percebia de quem se tratava.                                                                            Os cromos eram vendidos a tostão, envolvendo pastilhas elásticas e às vezes eram tantas as pastilhas que mastigávamos, que conseguíamos fazer bolas com mais de 30cm de diâmetro. Uma vez por acidente, rebentou uma dessas na minha cara e colou-se ao cabelo, obrigando-me a aparecer na Escola, nos dias seguintes, com uma marrafa cortada às escadas o que foi uma vergonha do caraças para mim.                                             Outra tragédia era conseguir a caderneta, pois eram poucas as disponíveis, e a sua obtenção exigia grandes investimentos da nossa parte.                                                                                   Um dia alguém descobriu, que o vendedor dos cromos era um sujeito de Vilarinho-de-Cima, cujo nome me não recordo, mas que várias vezes esperei, sentado à sua porta, que chegasse do trabalho no seu VW carocha, para lhe implorar a famigerada caderneta.                                                                                  Umas vezes consegui, outras não. É a vida…."                                In Memórias & Inspirações
Por José Passeiro

9 comentários:

  1. Uma boa recordação de infância. Lembro os cromos que vinham embrulhados em pequenos rebuçados e as cadernetas onde se colavam os cromos. Cada página da caderneta dizia respeito a uma equipa e os seus onze jogadores. Os rebuçados que se compravam na mercearia e pequenas outras lojas, estavam numa lata grande e redonda. Em cada lata havia um único rebuçado que tinha um jogador a que se chamava o "número da sorte" e que na nossa linguagem de miúdos era o "custoso" de conseguir. Muitas cadernetas ficavam totalmente preenchidas, apenas com o rectângulo em branco referente ao número da sorte que não se conseguia arranjar. Uma frustração ! Na gíria havia o "rebentar a lata", ou seja, quando nos apercebíamos que a lata estava a chegar ao fim e já não tinha muitos rebuçados com os cromos, a ideia era comprar os rebuçados todos que restavam, na esperança que no fundo da lata estivesse o rebuçado mágico com o cromo do número da sorte. Uma vez tive essa "esperteza" mas o tiro saiu pela culatra e de número da sorte nem sinais. Quem não gostou da iniciativa foi a minha mãe e do dinheiro que à sucapa lhe tinha tirado do porta- moedas e que me "rebentou" o traseiro com algumas palmadas, Bons tempos !!!

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  2. Era um passatempo muito comum na comunidade juvenil do nosso tempo, em especial na idade da escola primária...
    Todas as moedas eram muito preciosas para ir à mercearia adquirir os cromos.
    Depois havia as trocas que permitia ir enchendo as cadernetas...até que chegava ao ponto de faltar o cromo principal. Quanto ao me lembro o principal prémio era uma bola de futebol em couro, e era este que estaria colado no fundo da caixa...

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  3. E como é que vocês colavam os cromos? Cola era um luxo! Em Caria, usávamos farinha diluída em água.

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    1. Havia cola em frascos que se compravam e que já traziam um pequeno pincel. Recordo noutro contexto, um produto que juntamente com água fazia grandes quantidades de cola que no local onde eu trabalhava nos anos 70, o funcionário encarregado do expediente fechava a molhada de cartas pincelando pacientemente os envelopes. Outros tempos !

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  4. A farinha de trigo aderia melhor... Com o dedo.
    Mas também utilizei o pincel...

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    1. Pois, quando se começa a publicitar muito as coisas é porque a freguesia está fraca ...

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  5. A freguesia e a câmara... e é porque não há já governo civil...

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