quinta-feira, 30 de abril de 2020
BAIRRO FLORIDO-NORTON DE MATOS-COIMBRA
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Bairro Florido
quarta-feira, 29 de abril de 2020
O LODO E AS ESTRELAS - PARTE 3
PARTE 1
http://encontrogeracoesbnm.blogspot.com/2020/04/o-lodo-e-as-estrelas-parte-1.html#comment-form
PARTE 2
https://encontrogeracoesbnm.blogspot.com/2020/04/o-lodo-e-as-estrelas-parte-2_22.html#comment-form
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PARTE 2
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Barragem de Bemposta
Archer de Carvalho, arquiteto, tinha apenas 25 anos quando
assumiu a construção das infraestruturas de apoio à construção das barragens.
Não foi pacífico aquele invadir do planalto mirandês. Os povos, habituados à
pacatez dos dias, não queriam o seu espaço devassado. Diziam ao arquiteto e
seus colaboradores “ num queremos acá la barriage”. Em vão, que as casas e
infraestruturas nasceram como cogumelos. Casas, farmácia, centro médico,
escola, igreja, pavilhão, piscina, tudo foi construído para apoio aos utentes.
De realçar uma espécie de supermercado, onde se podia encontrar pequenos
comércios de fruta, carne, todo o género de mercearia e até peixe que vinha da
cidade do Porto. A escola tinha sempre cinco ou seis professores permanentes. O
centro médico, um clínico e um enfermeiro. A piscina tinha professores de
natação vindos do Porto.
De novo o prosar sofrido de Telmo:
Quando Chove
Encontrei-o
na estrada. Caminhámos juntos. Chama-se Ricardo e é natural de Marco de
Canavezes. Falámos do tempo e das coisas.
- Onde vive?
- Lá
adiante, num pombal.
-E o
trabalho?
- Há quinze
dias que não trabalho, por causa da chuva …tenho a mulher filhos a morrer de
fome.
- Estão no
pombal?
- Não,
ficaram na terra. Eu vim e só trabalhei um dia.
- Que tem
comido?
- Um
companheiro de Moncorvo, que vive lá comigo, tem-me dado uns bocaditos de pão;
ele também é pobre. Envergonho-me muito de pedir.
E chorou.
Senti – me tão pequenino, ao lado do mártir Ricardo, que fiz
os meus passos mais brandos, para sentir melhor o “ruca – truca” dos seus socos
abertos. Chovia. Ele ia numa sopa. Pensei: enquanto chover, este pobre tem que
comer a lama dos caminhos, como fel que lhe traz a recordação contínua da
mulher e dos filhos.
(24 de Dezembro de 1955)
terça-feira, 28 de abril de 2020
ENCONTRO COM A ARTE- PINTURA Sé Velha
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Encontro com a Arte - pintura
segunda-feira, 27 de abril de 2020
ORQUESTA CLÁSSICA DO CENTRO & FADO AO CENTRO - ESTAMOS JUNTOS
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Música
domingo, 26 de abril de 2020
COIMBRA DE OUTROS TEMPOS
sábado, 25 de abril de 2020
ABRIL-POESIA
ESTAR EM ABRIL É ASSIM
Estar em Abril é assim
Uma vontade de ser
De criar e de crescer
Num tempo que é de outro modo
O tempo de criar pão
E saber ser mundo todo
Sempre ao alcance da mão
Estar em Abril é assim
Um olhar de frente a vida
Por mais que alguém o desdiga
E um desdenhar da sorte
Quando se dá a passada
Nalguma dura jornada
Em que a vida perde o norte
Estar em Abril acontece
Quando dentro de alguém cresce
Um grito cru de esperança
E na espuma do medo
Num velho muro se escreve
Um poema – um cravo breve
Verde e rubro de mudança
Estar em Abril é bandeira
Que se hasteia numa praça
Quando vem lá outro alguém
Que é alguém de outra maneira
E na orla da desgraça
Canta contigo também
Canções no vento que passa
Estar em Abril é assim
Sentir-te perto de mim
Quando a mágoa nos afasta.
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Encontro com a arte-poesia
ANIVERSÁRIO
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quinta-feira, 23 de abril de 2020
COIMBRA EM VÍDEO
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Noticias de Coimbra
quarta-feira, 22 de abril de 2020
O LODO E AS ESTRELAS - PARTE 2
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Estava estendido na cama, a tossir. Ao pé da cabeça, uma camisa velha enroscada. De minuto a minuto, levantava a cabeça e deitava lá sangue. Sangue da boca, sangue dos pulmões, Sangue que lhe passou pelo corpo todo. O seu corpo de marteleiro gasto e cansado e só com trinta anos.
Barragem de Miranda do Douro ...
De novo vamos ao encontro de Telmo. De novo folhear um breviário de
sofrimento. De novo recuar a uma época remota entre 1953 e 1964. Uma saga
heróica povoada de heróis reais e anónimos. Naquele meio do nada, edificaram-se
bairros – bairros provisórios e bairros definitivos de apoio à construção dos
colossos de betão. Se os bairros provisórios eram exatamente bairros que se
desconstruíam no fim da obra, já os bairros definitivos eram povoados por gente
que ali ficaria mantendo o funcionamento das barragens. Ali, naquelas casas,
viviam pessoal dirigente de várias categorias profissionais, mas também uma
outra franja de funcionários que trabalhavam para a Hidroelétrica do Douro. Os
bairros eram distintos e bem demarcada a divisão social. Mas depois havia os outros.
Os que vinham de longe na procura de trabalho, muitos oriundos das minas de
carvão e que não tinham por vezes e muitas vezes, nem casa nem abrigo. Dormiam
ao relento ou debaixo de fragas, à mercê de um
qualquer empreiteiro que lhes dava trabalho temporário. Depois, quando a
empreitada acabava, restava a penúria e a fome. Mas acompanhemos a pena de
Telmo:
O Marteleiro
Estava estendido na cama, a tossir. Ao pé da cabeça, uma camisa velha enroscada. De minuto a minuto, levantava a cabeça e deitava lá sangue. Sangue da boca, sangue dos pulmões, Sangue que lhe passou pelo corpo todo. O seu corpo de marteleiro gasto e cansado e só com trinta anos.
- Já trabalhei na Caniçada.
- E agora?
Eu digo o resto: quero ir para a terra, com a mulher e os
filhos – curar ou morrer – e não tem dinheiro para a viagem.
span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quanto valem os seus pulmões?
Ninguém compra os pulmões do António?
Ele ajudou a fazer o conforto de muitos lares. Ele ajudou a
fazer o lucro de alguma Companhias.
Levantem-se. Tirem o chapéu.
É o António que passa !
10 de Dezembro de 1955
O Braço Bambo
Hoje,
apertei o braço do Araújo, para o amparar. Todo o dia pensei no seu braço - bambo e duro. Mesmo agora me parece vê-lo,
suspenso no ar. Por cima do estaleiro e do bairro, duro e bambo.
A quem
aponta? A quem acusa? . Tenho medo.
Naquele dia,
quando estoirarem os foguetes e houver bênção, discursos e banquete …o braço
bambo e duro apontará.
A quem
aponta? A quem acusa?
Tenho medo.
Acusa todos.
5 de
Novembro de 1956
BAIRRO FLORIDO
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Bairro Florido
terça-feira, 21 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
ATELIER
O Pedro, finalista do curso de desenho e pintura das Belas Artes, foi incumbido pelo professor de pintar um nu feminino, segundo os moldes clássicos.
Preparou a tela, montou-a no cavalete, reuniu as tintas e os pincéis e colocou estrategicamente todo o material num recanto das águas-furtadas que tinha arrendado no Bairro Alto quando veio estudar para Lisboa.
Arrastou um velho sofá para debaixo da janela aberta no telhado, lugar onde incidiam os raios solares, que a poeira em suspensão ajudava a desenhar, como setas apontadas ao velho cadeirão.
Cobriu o sofá com um grande pano de cetim vermelho que a Escola lhe facultou.
Agora, só faltava encontrar o modelo que se dispusesse a posar durante uma ou duas semanas, naquele quarto andar esconso onde morava o Pedro.
Tentou a colaboração de uma das suas únicas três colegas de curso. Mas uma estava grávida e declinou o convite. Outra, tinha acabado de casar e o marido não iria concordar. A terceira não podia porque era mãe solteira e todo o tempo era pouco para assistir às aulas e tratar da filha.
Um colega sugeriu-lhe que tentasse encontrar no coalguém rpo de baile de alguma das duas revistas em cena no Parque Mayer.
No fim do espectáculo a que assistiu nessa noite, pediu para falar, no camarim, com uma das bailarinas que tinha observado todo o tempo, dizendo-lhe que era aluno das Belas Artes e que era por isso que precisava de falar com ela.
Fazia-o em nome da conhecida solidariedade entre artistas.
Ela acedeu a ouvi-lo. Alta, corpo escultural, longos cabelos negros, olhos negros profundos, lábios grossos sensuais, pernas longas, o peito bem desenhado que o pequeno soutien mal cobria.
Durante quinze dias, diariamente, a bailarina subia às aguas-furtadas do Pedro, desnudava-se, deitava-se no sofá, o braço direito flectido, a mão apoiando o queixo, os cabelos negros espalhados pelo ombro e cobrindo parcialmente o seio esquerdo.
As coxas fartas abandonadas sobre o cetim vermelho deixavam entrever a mancha escura que lhe rodeava o sexo.
Concluída a obra, dados os retoques finais, o Pedro apresentou o trabalho na escola.
Tecnicamente estava perfeito, elogiou o professor.
E artisticamente era uma inesperada originalidade!
O professor pediu-lhe que cedesse a pintura à escola, para servir de exemplo aos futuros alunos.
Ainda hoje lá está exposta. A vistosa bailarina era um travesti…
Rui Felício
JUL2010
Preparou a tela, montou-a no cavalete, reuniu as tintas e os pincéis e colocou estrategicamente todo o material num recanto das águas-furtadas que tinha arrendado no Bairro Alto quando veio estudar para Lisboa.
Arrastou um velho sofá para debaixo da janela aberta no telhado, lugar onde incidiam os raios solares, que a poeira em suspensão ajudava a desenhar, como setas apontadas ao velho cadeirão.
Cobriu o sofá com um grande pano de cetim vermelho que a Escola lhe facultou.
Agora, só faltava encontrar o modelo que se dispusesse a posar durante uma ou duas semanas, naquele quarto andar esconso onde morava o Pedro.
Tentou a colaboração de uma das suas únicas três colegas de curso. Mas uma estava grávida e declinou o convite. Outra, tinha acabado de casar e o marido não iria concordar. A terceira não podia porque era mãe solteira e todo o tempo era pouco para assistir às aulas e tratar da filha.
Um colega sugeriu-lhe que tentasse encontrar no coalguém rpo de baile de alguma das duas revistas em cena no Parque Mayer.
No fim do espectáculo a que assistiu nessa noite, pediu para falar, no camarim, com uma das bailarinas que tinha observado todo o tempo, dizendo-lhe que era aluno das Belas Artes e que era por isso que precisava de falar com ela.
Fazia-o em nome da conhecida solidariedade entre artistas.
Ela acedeu a ouvi-lo. Alta, corpo escultural, longos cabelos negros, olhos negros profundos, lábios grossos sensuais, pernas longas, o peito bem desenhado que o pequeno soutien mal cobria.
Durante quinze dias, diariamente, a bailarina subia às aguas-furtadas do Pedro, desnudava-se, deitava-se no sofá, o braço direito flectido, a mão apoiando o queixo, os cabelos negros espalhados pelo ombro e cobrindo parcialmente o seio esquerdo.
As coxas fartas abandonadas sobre o cetim vermelho deixavam entrever a mancha escura que lhe rodeava o sexo.
Concluída a obra, dados os retoques finais, o Pedro apresentou o trabalho na escola.
Tecnicamente estava perfeito, elogiou o professor.
E artisticamente era uma inesperada originalidade!
O professor pediu-lhe que cedesse a pintura à escola, para servir de exemplo aos futuros alunos.
Ainda hoje lá está exposta. A vistosa bailarina era um travesti…
Rui Felício
JUL2010
Nota: O episódio veio-me à lembrança quando há dias o Quito aqui aflorou o tema do Teatro de Revista, a que está indissociavelmente ligado o Parque Mayer.
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Rui Felicio
sábado, 18 de abril de 2020
ENCONTRO COM A ARTE -FOTOGRAFIA
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Encontro com a arte - Fotografia
sexta-feira, 17 de abril de 2020
NOTÍCIA TRISTE
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Notícia triste
ANIVERSÁRIO
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quinta-feira, 16 de abril de 2020
ESTUDANTINA U:C; TVI 24 - SERENATA DE ESPERANÇA AO PAÌS
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quarta-feira, 15 de abril de 2020
segunda-feira, 13 de abril de 2020
O LODO E AS ESTRELAS - Parte 1
Barragem de Picote
Folhear “O Lodo e as Estrelas” é ler um livro proscrito. O
testemunho de um Tempo. De um tempo passado amassado em sangue, sofrimento e
solidão. Talvez por isso em tempos remotos, o livro de Telmo Ferraz morreu à nascença.
O relato incómodo daquele passado que na época era presente fez a polícia
politica abafar uma realidade negra. Falar em Telmo Ferraz é lembrar um padre
que viveu a saga dos barragistas, que por entre fragas e do meio do nada
construíram as barragens de Picote, Miranda e Bemposta por esta ordem – barragens
do Douro Internacional que produzem hoje vinte cinco por cento da energia
nacional. Telmo deu tudo de si. Acarinhou e protegeu filhos da fome. Ofereceu o
pouco que tinha em bens materiais, até ao dia em que apenas ficou com a sotaina
que lhe escondia o corpo e até das calças se despojou. De fortuna, apenas as
estrelas do Firmamento e um coração doce. O livro de Telmo é um livro cru.
Talvez de uma beleza literária que se confunde com a inocência de um prosar
realista e torturante. Fica o aviso que só lê quem quer. Fica o resguardo que
escolherei episódios colhidos ao vento em várias páginas. Fica uma lembrança,
uma homenagem e uma memória. Lembrança de mineiros do carvão que demandaram as
barragens por mais uns miseráveis escudos por mês. E dos outros. Dos que
morreram minados dos pulmões. Também dos que sobreviveram para construir um
Portugal melhor. Para que conste.
“ O Zeca vomitou sangue. Um sangue vivo, quase encheu um
tacho! Esse tacho de sangue é o meu exórdio. Que todos me perdoem. Riam-se de
mim. Mas, pelo amor de Deus e dos nossos pais, peço um olhar de piedade para
todos os personagens deste livro. São personagens reais. Temos os mesmos nomes
e a mesma vida, no nosso pequeno mundo – uma barragem.”
O Boné Preto
O dia passou. O mês também. Tenho medo dos dias. Tenho medo
dos meses. Cada dia uma coisa nova. Hoje, impressionou-me um homem que,
retorcendo, ao mesmo tempo, com as mãos compridas, o boné.
Há três semanas que espera …
Porque me impressionou tanto este homem? Por retorcer o boné?
Talvez. Os dedos compridos, retesos, atrapalhados, a mastigar o boné como se
tivesse entranhas e, dentro, o pão dos filhos.
O boné preto! Os dedos compridos !
Breve, continuarei a folhear este livro para quem me queira acompanhar. Uma Via Sacra de espinhos. Um passado negro português.
Quito Pereira
ANIVERSÁRIO
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domingo, 12 de abril de 2020
P Á S C O A
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sábado, 11 de abril de 2020
ANIVERSÁRIO
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Aniversários
quinta-feira, 9 de abril de 2020
O BAIRRO NORTE ...
Saudade ...
A praia de Mira é um viveiro de memórias, de recordações doces que me fazem navegar pelo passado, como quem rema na Barrinha num barco carregado de moliço. O verão era sempre um amontoado de povo na sua essência, de portugueses e emigrantes que falavam um francês emprestado, com um rancho de filhos atrás que exigiam aos pais a bola ou o balão colorido que o feirante de ocasião apregoava a chamar a atenção dos turistas. Mas, no meio da confusão de gente que procurava sofregamente viver um ano em apenas quinze dias de lazer, havia o Bairro Norte na sua calma espacial. Era um aglomerado de moradias singelas, construídas com o produto da faina do bacalhau. A esmagadora maioria das vivendas pertencia a pescadores que moirejavam pelos mares frios do Canadá. Eram campanhas longas de muitos meses e elas, as mulheres, ficavam em terra a tratar da lavoura e dos filhos, e a responsabilidade de no verão alugar as casas aos forasteiros, sendo os preços acertados entre todas as mulheres, para que não houvesse grande discrepância de valores. E era no Bairro Norte que eu e a minha família lançávamos âncora em tempo de férias. Por várias vezes alugámos a mesma casa. Situava-se na primeira linha de praia. Por um portão de madeira saímos para a areia e, trepando um pequeno morro, repousávamos a vista sobre o oceano. Um mar largo e encapelado, que nos trazia o cheiro intenso da maresia. E nós ali, no cimo da duna, de cabelos ao vento e os filhos pela mão, num pacto de amizade com as ondas e a branca espuma. Lá longe, estático por entre a bruma de fim de tarde, um barco de proa erguida repousava no areal, na espera de uma nova refrega com o mar. E à noite, com a cabeça deitada no travesseiro, ouvir como pano de fundo a voz intemporal do oceano e adormecer em paz no silêncio das estrelas e do Bairro Norte. Por vezes, a nossa senhoria aparecia. Trazia-nos algo que colhia nas suas terras cultivo - um gesto de cortesia. Depois, no pequeno quintal junto à duna, falava da vida e das suas inquietações. Lembrava o marido que batalhava lá longe na epopeia do bacalhau. E, enxugando os olhos húmidos ao avental preto, falava de saudade. E nós a olhar, tentando animá-la com palavras sentidas, quase familiares. Era uma simbiose de afetos. Afinal, de sentimentos partilhados entre quem vivia do mar e de nós, que no Bairro Norte do nosso contentamento e por duas semanas, aportávamos àquele cais de felicidade.
Quito Pereira
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quarta-feira, 8 de abril de 2020
INTERLÚDIO MUSICAL - JOÃO AFONSO e Orquestra Clássica do Centro - «Traz outro amigo também»
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ANIVERSÁRIO
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terça-feira, 7 de abril de 2020
MARCELO DOS REIS - Bostik Azul [Alternate Take]
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segunda-feira, 6 de abril de 2020
TUNAMELICHES
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domingo, 5 de abril de 2020
CONTO
RECORDAÇÕES DE MENINA
A Mariana pôs, ao ombro, o sacho
Compensando o peso com uma mão
Enquanto, na outra, sustinha a cesta
E, com o seu tão habitual despacho,
Saiu palmilhando o caminho do “tchão”,
Em passada miudinha, mas bem lesta
Não tardaria o toque das Trindades.
Ainda, era preciso ir à fonte
E fazer mil e uma actividades
Antes do sol se pôr lá no horizonte
Volta com a cesta cheia de renovo
Retira algumas folhas de nabiça,
Aparta os “retaços” para a vianda,
Depois de ver se havia algum ovo
Coloca o portado no galinheiro,
Mede, a palmo, a porquinha roliça
E sobe as escaleiras, mas desanda,
(Lembra-se que tem umas voltas a dar)
Terá de arranjar “caraba” primeiro,
De quem queira e possa ir ajudar
A acarretar o feno do lameiro
Lá sai ela, novamente apressada,
Entra na casa da Pepa da ti Neves,
No curral do ti Zé Ramos e da Bei
Num afã de passos afoitos e leves
Ainda vai ver do ti António Lei…
Ouve as Avé-Marias, à chegada,
Psina-se e ora com muita devoção
É a hora de acender a candeia,
Emparelhar uns gravetos ao tição
Atear o lume e fazer a ceia
Quando o sol raiou, de manhãzinha,
Já Mariana provava a merenda
Que iria levar para o lameiro
Tinha metido no meio da cozinha
O açafate com toalha de renda
Pratos de esmalte branco, do louceiro,
Talheres guardados para a altura
Barranhão, para o caldo de “baginas”
“Tchouriça” de ossos tradicional
As rodilhas e “paninhos” com fartura
Uns tantos copos e malgas pequeninas
Tudo, como era o habitual!
O seu Toino, acartara-lhe a lenha
Com que cozera as carnes e feijão,
Para os de casa e quem quer que venha
À faina do lameiro, dar uma mão.
Comera uma falha de pão e queijo
Que engoliu com um copito de vinho
Deu à Mariana um alegre beijo
E desceu à loja a jungir as vacas
Para se meter, depressa, a caminho
Com forquilhas, ancinhos, nagalhos, sacas…
Mariana tardou a findar a lida
Pois queria fazer tudo com esmero
Agradecer, da melhor forma devida,
Com ostentação e algum exagero,
Na comida que levaria ao “tchão”
Aos amigos que a vinham ajudar
A enfeixar e acarretar os fenos
Desde os lameiros até ao palheiro,
Que, embora fosse obra de somenos
Não era menos digno de gratidão
Davam, no campanário, as onze horas
Blusa rameada cingida à cintura
Saia de godés e avental franzido
Rosto rosado cor de maçã madura
A Mariana lá vai, sem mais demoras
Calcorreando o caminho comprido
Com a mãe e a comadre a seu lado
Levando à cabeça o açafate
Tão primorosamente organizado
Como pelo arraial da “Sacraparte”
Foi uma festa a chegada das três
O realejo do Toino deu o mote
A cantoria seguiu em desgarrada
E todos acorreram a tomar vez
Em redor duma mesa improvisada
E, ali, se ajeitavam em magote
Partilhando as sopas do barranhão
Ou enchendo a sua malga pequena
Que, cada qual seguravam na mão
Numa liberdade alegre e plena
E havia de tudo um poquenino:
“Tchouriça d’ ossos” e da outra também,
Farinheira e farinheiro cozidos
Queijos de leite de vaca e caprino
Presunto bem curado, como convém,
Copos de vinho vezes e vezes enchidos
Não faltaram as “bicas” doces da festa
Aquela água cristalina da fonte
A força que a alegria empresta
Mesmo que o suor escorra da fronte!...
Georgina Ferro
A Mariana pôs, ao ombro, o sacho
Compensando o peso com uma mão
Enquanto, na outra, sustinha a cesta
E, com o seu tão habitual despacho,
Saiu palmilhando o caminho do “tchão”,
Em passada miudinha, mas bem lesta
Não tardaria o toque das Trindades.
Ainda, era preciso ir à fonte
E fazer mil e uma actividades
Antes do sol se pôr lá no horizonte
Volta com a cesta cheia de renovo
Retira algumas folhas de nabiça,
Aparta os “retaços” para a vianda,
Depois de ver se havia algum ovo
Coloca o portado no galinheiro,
Mede, a palmo, a porquinha roliça
E sobe as escaleiras, mas desanda,
(Lembra-se que tem umas voltas a dar)
Terá de arranjar “caraba” primeiro,
De quem queira e possa ir ajudar
A acarretar o feno do lameiro
Lá sai ela, novamente apressada,
Entra na casa da Pepa da ti Neves,
No curral do ti Zé Ramos e da Bei
Num afã de passos afoitos e leves
Ainda vai ver do ti António Lei…
Ouve as Avé-Marias, à chegada,
Psina-se e ora com muita devoção
É a hora de acender a candeia,
Emparelhar uns gravetos ao tição
Atear o lume e fazer a ceia
Quando o sol raiou, de manhãzinha,
Já Mariana provava a merenda
Que iria levar para o lameiro
Tinha metido no meio da cozinha
O açafate com toalha de renda
Pratos de esmalte branco, do louceiro,
Talheres guardados para a altura
Barranhão, para o caldo de “baginas”
“Tchouriça” de ossos tradicional
As rodilhas e “paninhos” com fartura
Uns tantos copos e malgas pequeninas
Tudo, como era o habitual!
O seu Toino, acartara-lhe a lenha
Com que cozera as carnes e feijão,
Para os de casa e quem quer que venha
À faina do lameiro, dar uma mão.
Comera uma falha de pão e queijo
Que engoliu com um copito de vinho
Deu à Mariana um alegre beijo
E desceu à loja a jungir as vacas
Para se meter, depressa, a caminho
Com forquilhas, ancinhos, nagalhos, sacas…
Mariana tardou a findar a lida
Pois queria fazer tudo com esmero
Agradecer, da melhor forma devida,
Com ostentação e algum exagero,
Na comida que levaria ao “tchão”
Aos amigos que a vinham ajudar
A enfeixar e acarretar os fenos
Desde os lameiros até ao palheiro,
Que, embora fosse obra de somenos
Não era menos digno de gratidão
Davam, no campanário, as onze horas
Blusa rameada cingida à cintura
Saia de godés e avental franzido
Rosto rosado cor de maçã madura
A Mariana lá vai, sem mais demoras
Calcorreando o caminho comprido
Com a mãe e a comadre a seu lado
Levando à cabeça o açafate
Tão primorosamente organizado
Como pelo arraial da “Sacraparte”
Foi uma festa a chegada das três
O realejo do Toino deu o mote
A cantoria seguiu em desgarrada
E todos acorreram a tomar vez
Em redor duma mesa improvisada
E, ali, se ajeitavam em magote
Partilhando as sopas do barranhão
Ou enchendo a sua malga pequena
Que, cada qual seguravam na mão
Numa liberdade alegre e plena
E havia de tudo um poquenino:
“Tchouriça d’ ossos” e da outra também,
Farinheira e farinheiro cozidos
Queijos de leite de vaca e caprino
Presunto bem curado, como convém,
Copos de vinho vezes e vezes enchidos
Não faltaram as “bicas” doces da festa
Aquela água cristalina da fonte
A força que a alegria empresta
Mesmo que o suor escorra da fronte!...
Georgina Ferro
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sábado, 4 de abril de 2020
BAIRRO NORTON DE MATOS...
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sexta-feira, 3 de abril de 2020
COIMBRA DE OUTROS TEMPOS -Praça 8 de Maio
quinta-feira, 2 de abril de 2020
ANIVERSÁRIO
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