quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ENCONTRO COM A ARTE - PROSA - VINDIMA

Na minha aldeia de menina, este tempo era tempo de cheiro a maçãs maduras, a peras de Inverno, a castanhas a assar, a mosto a fermentar em tanques de pedra por baixo do " balcão" - o terraço que se estendia ao longo da casa no cimo das "escaleiras" - as escadas do curral para casa. E não tardaria a vir o cheiro dos alambiques a destilar a aguardente pelas noites adentro, num cheiro acre e forte e, para mim, desagradável,  não fora dissimulado pelo aroma das castanhas a assar nas brasas e distraído pelo toque de realejos ao desafio daqueles que pacientemente esperavam o gotejar lento daquele ping...ping...

     Quase todos tinham umas cepas que davam cachos. Estes eram das mais diversas castas. As vinhas eram pequenas, só  para darem vinho para consumo lá de casa. Era um orgulho poder dizer "este é do nosso!"

Pois, por estes dias, preparavam-se os tanques ou lagares de pedra de granito. Esfregavam-se com escovas rijas, com carqueja e sabão, com água, acarretavam-se, do chafariz, caldeiros e caldeiros de água para ficarem bem enxaguados. A "canalhita" de que eu fazia parte, fazia disto uma festa, é que o trabalho do menino é poucochinho mas quem o perde é parvinho!....

     A vindima raramente durava mais do que um dia. Era um dia de festa e cansaço. Era o jungir das vacas, atrelá-las ao carro com a bigorna em cima presa entre os estadulhos, o caminho até às vinha, por sorte sentados no fundo do carro, de pernas dependuradas a baloiçar ao ritmo lento do bambolear das vacas e do estremecer do rodado ao deslizar no piso irregular dos carreiros. 

     Na vinha, os mais afoitos cortavam os "cachos", carregavam a cesta enfiada nos braços, que iam despejando, de vez em quando, nos cestos grandes que um dos homens mais fortes ia "botar" na dorna. E nós, lá íamos apanhando um "catchinho" aqui e outro acolá, provando um baguinho deste, outro baguinho daquele, cheiinho de pó, o que não mata engorda. À noite é que eram elas. Era uma dor de barriga!...

     A volta era mais penosa, tinha de ser a pé, os animais já tinham carga de sobejo! Distraíam os cantares das modinhas tradicionais, as gargalhadas da mocidade, que se iam desafiando uns aos outros, como se quisessem mostrar que o cansaço não os molestava.

     No dia seguinte seria o pisar da uva. Aí sim, que tinham de ter ritmo e resistência. 

     Bem, vou voltar ao hoje, que não me cheira a Outono, mas parece vir com um amanhecer maravilhoso... Bom dia para si que me conseguiu acompanhar a outros lugares, a outros tempos e aos nossos amigos ... Um abraço e bom dia nos dê Deus.

Georgina Ferro.

  

3 comentários:

  1. Belo texto...
    O meu Pai não fazia vindima vendia as uvas a outros..por isso não havia vindima ou por outra só apangavamos as uvas de mesa que davam até ao dia de Reis.
    As azeitonas tinham ciência na apanha minha Mãe é que as apanhava as que eram para a água as outras todos nós apanhavamos era para o azeite.
    Castanhas era o meu Pai que metia mãos à obra os filhos ajudavam eram muitas demorava alguns dias...aí a minha Mãe não mexia.
    Era giro ver as pessoas irem para as tarefas nos campos ia tudo contente.
    Agora a vida é outra os filhos vendem os olivais os soutos etc pois alguns já estão velhos e fizeram outras coisas na vida. Ainda bem que há gente que quer comprar.

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  2. Eu era um ás das vindimas, como bem notava o nosso caseiro, ti'Isidoro, quando via os meus dedos cheios de cortes do canivete com que cortava os cachos:
    - O menino faz muito bem em marcar os dias de trabalho, para fazer contas com o patrão.

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  3. Nunca fiz vindima.Só nos mercados...
    Mas temos amigas que fazem vindima,pequena, mas que dá para nos presentear...

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