domingo, 30 de janeiro de 2022

ENCONTRO COM A ARTE - POESIA O VOTO PROF. RENATOI ÁVILA

O VOTO

Eu não gostaria 

De ser voto!

Causa-me uma impressão tremenda,

Um susto,

 Vê-lo desaparecer num ápice

Pela greta medonha

Duma urna preta.

É assim como que atirar terra

Sobre o caixão dum defunto!


Fazem-no de cores várias:

 O rosa, o amarelo, o azul, o verde…

E o branco,

Tudo em tons suaves 

Para animar a soturna

Solenidade do evento.


É que o voto carrega 

As nossas convicções,

As nossas expectativas,

As nossas esperanças,

As nossas frustrações

Os nossos equívocos,

As nossas desilusões.


É que o voto, também,

Fora do proscénio,

Nos camarins,

Nas catacumbas dos palcos

Onde a obscuridade

Ofusca a lei e a ética,

Leva tratos de polé

Ao desencadear a avidez

Dos malabaristas do poder.


E quando, contas feitas,

 O fumo  do “habemos governo”

Supor-se-ia  de um níveo resplendor, 

Na imponente abóbada da catedral

Tremula o negro esburacado

 Duma  espécie de bandeira de piratas.


Se eu pudesse,

 Urnas cristalinas de transparência 

E os votos todos negros,

Feitos com as ardósias  

Da nossa escola velhinha

E, com giz bem branquinho,

Em letras garrafais,

Escrever-se-iam as palavras 

Mais estranhas

Mais abjectas

Nas mentes do politiqueiral, 

Os dono disto tudo:

Educação, Democracia,

Seriedade, Sabedoria, 

Dignidade, Solidariedade,

Fraternidade, Humanidade.


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